qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Primeiras notas sobre a França

Por: Gil Garcia (MAS – Portugal)

1. Qualquer pessoa sensível à dor humana não pode deixar de repudiar a mortantade ocorrida em Paris. Para mais os ataques de terror foram dirigidos contra população indefesa e que é completamente alheia às asneiras que os seus governos andam a fazer há muitos anos em matéria de política externa.

2. É evidente que o sucedido tem explicação muito acima do ódio ou das (supostas ou reais) diferenças religiosas. Também G. Bush, pai ou filho, sempre que atacaram e bombardearam o Iraque, em duas impiedosas guerras (ambas até ‘ilegais’ à luz do Direito Internacional), pronunciaram a máxima religiosa nos States: ‘God bless América’. Todas as nações que invadiram e escravizaram povos e nações (como em sua época Portugal em África ou no Brasil, por exemplo) acompanhavam as suas tropas e cruzadas com padres e dirigentes religiosos que abençoavam os soldados antes de procederem às matanças e ‘conquistas’.

3. O que as maiores potências têm feito no planeta? Depradação de recursos, invasão de países, apoio a governos despóticos (Arábia Saudita, Síria, Egipto, etc.) no Médio Oriente, África, etc. E mesmo na Europa Ocidental o que tem aumentado debaixo do Euro? Austeridade permanente, trabalho precário, ausência total de perspectivas e desemprego massivo eternamente. Será que não dá para entender que há aqui um problema internacional e sistémico?

4. O famoso e prestigiado professor norte-americano, Noam Chomsky, quando instado a pronunciar-se sobre os ataques às Torres Gémeas, declarou: “Os EUA promovem guerras por todo o mundo, ‘quem semeia ventos colhe tempestades'”. Será difícil de entender que o que se passou em França é o resultado da sua política externa com reflexos internos?

5. Nós pensamos que muito em breve saber-se-á que muitos dos que mataram a 13 de novembro de 2015 não são ‘terroristas infiltrados’ no seio dos refugiados que chegam recentemente à Europa, mas sim oriundos dos filhos de emigrantes nascidos já em França (tais como os negros ou brancos “argelinos” que jogam e são aplaudidos na selecção de futebol francesa) empobrecidos pelo capitalismo francês e que também não gostam das guerras desencadeadas nos países de onde descendem.

6. De nada do que digo se pode inferir qualquer simpatia ou justificação pelos ataques mortíferos desta 6ª Feira negra. Mas sim que os principais e primeiros responsáveis são os que fazem a guerra – as burguesias imperialistas da França, da Alemanha, da Inglaterra, dos EUA e até da Rússia. Do outro lado encontram-se facínoras semelhantes que ao ‘incêndio’ provocado pelas principais potências capitalistas do mundo respondem com as mesmas armas de terror que aprenderam com os ‘mestres’.

7. Por tudo isto repudio a resposta vingativa de Hollande de bombardear indiscriminadamente Raqqa, na Síria. O Estado francês respondeu de forma autoritária, trazendo o exército para a rua, estendendo um “estado de emergência” nacional de três meses. Isto num contexto de recessão, medidas de austeridade e o crescimento da extrema-direita e da xenofobia. Repudio esta resposta securitária que vai fazer os trabalhadores e a juventude, sobretudo os imigrantes e seus filhos, pagarem pelos actos criminosos do Estado Islâmico em Paris e de Hollande na Síria.

8. Naturalmente que nestas horas terríveis me encontro do lado do povo francês mas simultaneamente apelo à revolta dos povos europeus, de África e do Médio-Oriente contra aqueles que em ambos lados do mundo lançam um clima de miséria e desespero.

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