sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

Polêmica com o Partido Obrero

Debate sobre a Frente Única Operária, a FIT, a luta contra o ajuste e a tomada do poder.

 

 

O ato de 5 de junho no microestádio de Ferro, em Buenos Aires, época do lançamento das candidaturas de Jorge Altamira/Juan Carlos Giordano e Néstor Pitrola/ Rubén Sobrero para as eleições primárias, também chamadas de PASO (primárias abertas simultâneas e obrigatórias), foi a ocasião para que se expressassem propostas e posições políticas. Queremos nos deter na proposta lançada pelo Partido Obrero em torno da Frente Única que, segundo o discurso do companheiro Altamira, seria a “estratégia” da FIT.

Esclareçamos que a tática da frente única operária significa uma organização comum de diferentes setores de trabalhadores com uma direção, um programa de reivindicações e organismos de base comuns, para se defender dos ataques patronais. Um sindicato ou uma central operária são considerados organismos de frente única operária.

Esta tática defensiva foi proposta, como política, pela primeira vez em 1921 pela III Internacional. Foi muito polêmica dentro das fileiras revolucionárias porque, para enfrentar um brutal ataque capitalista, chamava-se a formar uma “frente única” com as direções burocráticas, contrarrevolucionárias, da II Internacional Socialdemocrata.

A III Internacional definiu-a como uma “tática circunstancial”, que deve ser aplicada em momentos especiais. No entanto, há correntes como o lambertismo[1], que a utilizaram como uma estratégia permanente. O Partido Obrero (PO) poderá estar caindo no mesmo erro. A aplicação hoje na Argentina, da tática de frente única operária, com o sentido que lhe deu a III Internacional em 1921, implicaria em que os revolucionários chamassem às CGT de Antonio Caló, Hugo Moyano e Luis Barrionuevo[2] e as CTA de Hugo Yasky e Pablo Micheli a uma frente comum contra o ajuste. Embora esta tática possa ter uma aplicação mais limitada, por exemplo, se dirigimo-la só àqueles que estão de acordo em enfrentar o ajuste.

Não temos dúvidas de que milhares de lutadores operários coincidirão com Altamira e o PO em que: “Os ‘azeiteiros’ (trabalhadores da produção de azeite) [3], como poderiam ganhar a greve se não atuassem em uma frente única entre ateus e crentes, entre trabalhadores de esquerda e os não de esquerda”. E provavelmente, também coincidirão com o discurso de Altamira quando contrapõe a necessidade da “unidade na ação contra a classe capitalista” e a “democracia operária para a luta”, com o “fracionalismo” que atribui ao Partido dos Trabalhadores pelo Socialismo (PTS) que, segundo Altamira, centra sua política na “luta divisionista e no ataque constante a militantes operários”.

Nós do PSTU, concordamos com a necessidade da unidade para lutar contra a exploração capitalista e recusamos o “fracionalismo”, ou “divisionismo” nas fileiras operárias. Mas devemos agregar que, lamentavelmente, até agora sequer se conseguiu a frente única operária dos setores combativos, em grande parte porque os três partidos que encabeçam a FIT impulsionaram suas próprias reuniões de ativistas e não um grande encontro de todos os que querem combater o ajuste.

Os objetivos da FIT nas eleições vão para além da Frente Única Operária

Em seu discurso, Altamira assegurou que: “A Frente de Esquerda (…) deu uma versão revolucionária à ascensão da esquerda onde outros deram uma versão reformista a essa ascensão, como resposta à crise. (…) Qual é o eixo desta estratégia? É a frente única dos explorados. (…) Qual é essa tarefa? A unidade da classe operária e dos trabalhadores contra os exploradores e contra o imperialismo. Nossa particularidade é que queremos que o proletariado (…) desenvolva um programa para acabar com a exploração do homem pelo homem e para terminar com a dominação do imperialismo sobre nações como Argentina e o conjunto da América Latina”.

Aqui vemos uma contradição. Porque, em uma parte de seu discurso, reivindica como frente única o que fizeram os “azeiteiros”, sem distinção de religião ou postura política (com o que concordamos). E depois propõe que a FIT, com a “estratégia” de Frente Única, acabe com a exploração e o imperialismo. Temos total coincidência com o chamado a extinguir com a exploração do homem pelo homem e com a dominação do imperialismo sobre a Argentina e da América Latina. Mas estes últimos são objetivos que superam claramente os limites da frente única.

Esses objetivos expressam que a FIT é uma frente eleitoral de organizações de esquerda com um programa anticapitalista, anti-imperialista e de independência de classe que reivindica que os trabalhadores tomem o poder. Propor essa base para a construção da frente única operária é um claro erro sectário: é como se os dirigentes dos “azeiteiros” exigissem de todo trabalhador que para participar da frente única pelo aumento salarial no contrato coletivo do setor, também estivessem de acordo na luta pelo socialismo e a derrota do imperialismo.

A frente única operária e a tomada do poder

Altamira reafirma sua visão, para nós equivocada, da Frente Única, quando diz: “O governo dos trabalhadores é a frente única dos explorados que toma o poder para desenvolver seus objetivos históricos. (…) Ou por acaso os conselhos operários que floresceram na Revolução Russa não eram a expressão da frente única da classe operária? E se alguns partidos lideraram essa frente única, foi porque souberam desenvolver essa frente única, enquanto outros partidos, por serem reformistas ou conciliadores, dividiram a classe operária para se aliar com a classe capitalista”.

Com todo respeito, achamos que o Partido Obrero e seu dirigente se equivocam nessa definição. Uma vez mais, a Frente Única é uma tática defensiva (não uma estratégia) muito útil para unir todos os que estão dispostos a enfrentar os ataques dos patrões sob o capitalismo. Porém, a luta pelo poder não é defensiva, senão a mais ofensiva de todas. E para impor o governo dos trabalhadores e do povo é preciso a unidade de todos os que estão dispostos a tomar o poder. O que se necessita é uma frente muito diferente, uma frente ofensiva dos que estão dispostos a fazer a revolução.

Por exemplo, na Revolução Russa surgiram os soviets ou conselhos operários, que eram organizações ou frentes onde estavam representantes de todas as frações operárias, camponesas, dos soldados rebelados contra a guerra, de todos os setores populares e todas as tendências políticas. Nos soviets os “mencheviques”, aqueles que formaram um governo em unidade com representantes dos patrões, tiveram maioria, durante muitos meses.

Mas dentro dos soviets, os bolcheviques de Lênin e Trotsky aplicaram outra tática frentista: uniram-se em uma frente com uma fração de um partido camponês, os Socialistas Revolucionários (SR) de Esquerda, que estavam de acordo em romper com os capitalistas e em tomar o poder. E se enfrentaram com os mencheviques. Os soviets, que são organismos de frente única operária, foram a base do novo estado.

Mas para tomar o poder os bolcheviques não aplicaram a tática da frente única. Ao contrário do que afirma Altamira, os bolcheviques não “estenderam a frente única” com os mencheviques e demais correntes opostas ao confronto com a burguesia, senão que a romperam para tomar o poder. Para conquistar o governo dos trabalhadores e do povo existem somente duas ferramentas estratégicas permanentes: o desenvolvimento da mobilização dos trabalhadores e do povo e a construção do partido revolucionário. Todo o resto, incluindo a frente única operária, são táticas que utilizamos de acordo com o momento e a situação.

Por fim, queremos destacar uma vez mais nosso acordo em que a tática de frente única operária com democracia operária é uma grande ferramenta para unir todos os que hoje estejam dispostos a enfrentar o ajuste capitalista na Argentina e em todo mundo.

Tradução: Rosangela Botelho



[1] Corrente trotskista dirigida por Pierre Lambert, que teve um importante peso na Europa na década de 70, especialmente na França.
[2] Hugo Moyano (CGT), Luis Barrionuevo (CGT dissidente) e Antonio Caló (CGT oficialista);

[3] Trabalhadores do Complexo Industrial Oleaginosas, descaroçadores de algodão e afins da Argentina;

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