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sexta-feira, abril 19, 2024

Peru| Enfrentar a ofensiva golpista e lutar por uma verdadeira mudança

O presidente Pedro Castillo enfrenta um processo de vacância promovido por setores direitistas e patronais que buscam sua destituição. E o faz em um estado de enfraquecimento causado pelo abandono de suas principais promessas de campanha para abraçar o modelo econômico que prometeu mudar, assim como por sua inoperância frente aos conflitos e urgências sociais e pela ausência de medidas que consigam o respaldo e a mobilização popular. A isso se somam revelações que despertaram suspeitas de práticas de corrupção, o que está favorecendo a ofensiva golpista.

Por: PST-Peru

Em seus primeiros meses de gestão, o governo retrocedeu passo a passo em seu programa e arquivou as primeiras medidas prometidas na campanha eleitoral, dissolvendo as esperanças ou expectativas dos setores operários e populares por alguma mudança das condições de profunda desigualdade social, abandono, desemprego e superexploração.

Como resultado dessa política não existem, até o momento, medidas que possam ser saudadas e defendidas pela classe trabalhadora e pelo movimento popular. Talvez por isso o presidente Pedro Castillo em várias ocasiões tentou substituir esse vazio com anúncios como a nacionalização do gás de Camisea ou o fechamento de minas que prejudicam o meio ambiente, mas apenas para voltar atrás horas depois com uma maior capitulação aos interesses empresariais.

E não se trata apenas dos primeiros meses que são muito curtos para se esperar grandes mudanças. O que possa ser esperado do governo ao longo do próximo ano, acaba de ser definido há poucos dias com a promulgação do Orçamento do Setor Público de 2022.

Todo orçamento público expressa a verdadeira vontade política de um governo, pois mostra quais medidas realmente serão levadas à prática porque tem o necessário para o financiamento. E a verdade é que o orçamento do próximo ano é uma fotografia dos orçamentos anteriores e não contém nada de especial frente às grandes necessidades de saúde, educação e outras demandas sociais, nem sequer como primeiros passos frente aos problemas acumulados por décadas.

É um orçamento que confirma o continuísmo do modelo econômico que consiste em não tocar nos interesses empresariais e continuar com a incapacidade do Estado frente aos grandes problemas como a pandemia, o colapso dos hospitais e escolas e até o atendimento às vítimas dos desastres como o recente terremoto na Amazônia. Não é de se estranhar que esse orçamento tenha sido aprovado com amplo consenso de todas as bancadas do Congresso.

Artimanhas tradicionais

O governo perdeu inclusive a oportunidade de se destacar como a negação de governos tradicionais adotando práticas transparentes e combatendo frontalmente a corrupção. Castillo não tem vínculos com a corrupção da Odebrecht e dos colarinhos brancos, como a maioria dos partidos de direita com participação nos governos nas últimas décadas, que hoje cinicamente se apresentam como defensores da moral pública. Entretanto, casos como o de Bruno Pacheco, investigado por tráfico de influência, que guardava milhares de dólares no banheiro de seu gabinete no Palácio do Governo, e as reuniões clandestinas do presidente com lobistas de contratações públicas, explodem em escândalos sobre os quais até seus próprios aliados exigem explicações, desmoralizam o povo que o apoia e favorecem a ofensiva golpista.

Em pouco tempo, o governo mostra sinais evidentes de desgaste, inclusive nos setores sociais e regionais que mais o apoiaram na votação, e essa tendência dificilmente poderá mudar dado que o governo se privou de liderar as grandes transformações que o país exige.

Entretanto, nada do anterior justifica um processo de destituição do presidente tal como sustentam diversos constitucionalistas. Trata-se de uma ofensiva golpista que os setores mais reacionários promovem desde antes de Castillo assumir o cargo, muito semelhante à usurpação do governo que promoveram em novembro de 2020.

A ofensiva direitista e patronal

Os principais promotores do impeachment  são setores que acumularam um amplo repúdio popular pelos seus vínculos com a corrupção, assim como pelo seu desavergonhado desprezo à vontade popular expressada nas últimas eleições e à servil defesa dos interesses do grande empresariado acima dos interesses do país.

Os partidos que não aceitaram a derrota de Keyko Fujimori e quiseram impô-la à força, hoje promovem uma destituição como um caminho para assumirem ilegitimamente o governo. Trata-se de uma ofensiva de várias frentes, inclusive das ruas. Ataque de gangues de pistoleiros, desperdício midiático e logístico em mobilizações pagas e até paralisações patronais como a do transporte para provocar um “caos de proporções históricas” tal como disse a congressista fujimorista Martha Moyano segundo um vídeo propagado pela mídia.

As gangues de pistoleiros denominadas “A Resistência”, “A Insurgência”, “Os combatentes” e outros parasitas do mesmo tipo agem impunemente à vista e paciência das autoridades do Estado, e o próprio governo não toma nenhuma medida permitindo o avanço desta ofensiva reacionária.

No marco da ofensiva golpista, a patronal se sente com carta branca para impor fechamentos de fábrica, demissões, negar a solução às pautas de reivindicações e hostilizar as organizações sindicais. É evidente que não se trata apenas de Castillo, com ele querem arrasar os interesses operários e populares para ganhar mais privilégios.

Por tratar-se de um assunto que é definido na cova de bandidos que é o Congresso, os golpistas poderiam aproveitar as fragilidades de Castillo e conseguir os votos para o impeachment , defender seu governo e ilegalizar e fechar o congresso por inconstitucional. Em qualquer caso, é indispensável a mobilização operária e popular.

Bandeiras de luta intactas

Enfrentar e derrotar a ofensiva reacionária é uma necessidade inadiável para os trabalhadores, a juventude e os setores populares como parte da luta por uma mudança revolucionária que o país precisa.

Não há nenhuma justificativa para adiar a mobilização e nesse contexto convocar assembleias de emergência onde se debata e aprove um plano de luta nacional que coloque no centro a solução das demandas, mas sobretudo que faça sentir o rechaço da classe trabalhadora e o povo às forças patronais e sirva para continuar a luta por uma verdadeira transformação e uma alternativa de poder operário e popular.

Tradução: Lilian Enck

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