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sexta-feira, março 29, 2024

Peru| A esquerda (se cala) diante do governo

Enquanto o governo de Vizcarra continua condenando a classe trabalhadora à fome e à doença, a autodenominada “esquerda” decidiu fazer o papel de “conselheira” do governo, renunciando a enfrentá-lo e a utilizar as mídias que tem para organizar a classe trabalhadora e o povo em defesa de sua vida e seu trabalho.

Por: Victor Montes
Isso não surpreende: essa “esquerda” decidiu se vender ao governo desde que descobriu em Vizcarra seu melhor representante.
Mas se essa postura já não era a correta, hoje passou a ser diretamente criminosa.
O silêncio da Frente Ampla
A política da Frente Ampla (FA), por exemplo, se caracterizou por encobrir a responsabilidade de Vizcarra pelo que vem acontecendo, enquanto lhe enviava carta após carta, solicitando que ele “preste atenção” a alguma das propostas que eles enviam.
Por que afirmamos isso? Em todos os seus pronunciamentos é simplesmente impossível encontrar uma denúncia frontal responsabilizando Vizcarra por essa situação.
Alguns exemplos:
No último 13 de abril a bancada da FA- que aliás, é a única coisa que parece existir nessa organização- se pronunciou diante do anúncio da autorização do uso da “suspensão perfeita do trabalho” por parte das empresas. No pronunciamento a FA denuncia “…que o grande empresariado peruano agrupado na CONFIEP (Confederação Nacional de Instituições Empresariais Privadas) vem aproveitando a emergência sanitária para implementar sua conhecida agenda…”
Ninguém duvida que seja assim. No entanto, a FA se mostra mais quando cala, do que quando fala: Nenhuma palavra sobre a responsabilidade de Vizcarra na aprovação do Decreto Emergencial 038! Apenas o nome da ministra do trabalho, Sylvia Cáceres, aparece em seu pronunciamento. Como se ela agisse sem o apoio de Vizcarra.
O mesmo acontece quando a bancada da FA se pronuncia sobre a situação do sistema de saúde. No dia 29 de abril denunciam “…o desmantelamento do serviço de saúde(…) abandonados por décadas por quem decide e dirige o Estado…” e mais adiante dizem “…os que dirigem nossa pátria, nos roubaram as esperanças por décadas…”
Novamente, não duvidamos que o que disseram faça parte de uma análise verdadeira da realidade… Porém, o que tem feito Vizcarra para reverter esta situação após um ano de governo? Esta pregunta não aparece no pronunciamento da FA. Para a FA nem mesmo o fato evidente da falta equipamentos para os trabalhadores da saúde, mancha a imagem de Vizcarra. Para eles, a responsabilidade exclusiva é do ministro da saúde e da presidenta da seguridade social.
Novo Peru: “Conselheiros” do presidente
Verónika Mendoza e Novo Peru (NP) buscam um perfil “de esquerda” diante das medidas do governo, levantando, por exemplo, a necessidade de uma bonificação universal e da criação de um imposto de 1% sobre as grandes riquezas.
Em cada uma de suas aparições, a candidata recomenda ao presidente “não se deixar pressionar” pelas grandes empresas, como se Vizcarra não fosse o governante das grandes empresas, ao mesmo tempo que tenta convencer de que suas propostas são “razoáveis”, inclusive para o grande empresariado.
O Novo Peru é “tão razoável” que mesmo após ter sido ignorado por Vizcarra na sua proposta de criar um imposto de 1% às grandes riquezas, em 7 de maio Verónika Mendoza afirmou que “…o próprio governo tem dito em várias oportunidades que o Peru tem “apoio tributário” para conter a crise e reativar a economia…”. E assim, de uma só vez, o Novo Peru desistiu de sua proposta de criar um novo imposto.
Agentes do governo
Por que resistem em denunciar o governo pelo seu nome? Por que preferem “aconselhar” e “propor” do que exigir e denunciar?
Porque para a FA, NP, e outros partidos que se dizem “de esquerda”, o governo está “em disputa” entre a CONFIEP e eles. E pior, consideram que Vizcarra faz parte de seu “campo”, contra quem considera seus maiores inimigos: o fujimorismo e o aprismo. E aspiram ser parte do governo.
Entretanto temos que falar claro: esta postura, que apenas serve para confundir a classe trabalhadora e o povo pobre, os convertem em agentes do governo e de sua política criminosa diante da epidemia e a crise social.
Desarma a possível resposta do povo trabalhador, pretendendo que confiem no congresso e no governo, ao invés de confiar na própria organização e mobilização operária e popular.
Hoje, com maior urgência que ontem, não é possível depositar nem uma grama de confiança nessa “esquerda”. Os trabalhadores e trabalhadoras devem olhar cara a cara ao inimigo, o governo de Vizcarra, responsável pela atual emergência, e devem varrer da nossa frente os que querem nos confundir e vestir o inimigo de amigo.
Fernández Chacon: mais do mesmo
No marco da traição geral da esquerda aos interesses operários e populares, o papel que vem cumprindo Enrique Fernandez Chacón é parte do mesmo jogo.
Por que afirmamos isso?
Porque ao mesmo tempo que fala sobre a “continuidade da luta”, ou se autoproclama “deputado dos trabalhadores”, tudo o que faz é comemorar a aprovação de alguns projetos de lei no Congresso.
Nenhum chamado para confiar apenas na força da organização e na luta operária. Nenhuma palavra sobre a necessidade de desconfiar da institucionalidade da democracia dos patrões. Nenhuma palavra, a partir da sua poltrona, sobre a urgência da revolução socialista como única saída para a crise que estamos atravessando.
Para alguém que se diz “socialista” e até “revolucionário”, isto é o contrário do que nos ensinou nossos mestres e mestras do socialismo, como Lenin, Rosa Luxemburgo ou León Trotsky.
Quando Fernandez Chacón, envaidecido pela mídia, teve que falar diante da suspensão perfeita do trabalho, nem se lembrou de Vizcarra. Propôs convocar a ministra do trabalho ante à comissão do Trabalho do Congresso para que “explicasse” sua política.
Mais uma vez só nos resta a constatação: Fernández Chacón é mais do mesmo.
Tradução: Pedro Akangatu
 

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