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quinta-feira, março 28, 2024

Pedofilia e o clero

Entre a cobertura das instituições burguesas e a concordância da hierarquia do Vaticano
  
Nas últimas semanas explodiu o escândalo que tem como protagonistas numerosos padres irlandeses e alemães (mas o fenômeno parece ser internacional). O Vaticano tenta enfrentar os acontecimentos com a arrogância típica de todo poder que vê em discussão sua própria autoridade.

 De um lado afirma, pela boca do porta-voz Lombardi, de ter sempre enfrentado a questão da pedofilia de seus padres com a máxima clareza e transparência; de outro, através da voz de Bagnasco, se lamenta da ação de desestabilizaçãocontra Ratzinger (o papa Bento XVI) e a Igreja por parte de alguns grupos de pressão.
 
O coenvolvimento de Ratzinger
 
Bagnasco e Lombardi mentem. Deveriam ter vergonha, pedir desculpas e ressarcir as milhares de vítimas dos padres pedófilos. Mascomo bonshomens do poder negamatéas evidências dos próprios documentos emanados das instituiçõesdo Vaticano. Em particular, se fazaqui alusão a umprocessojudiciáriodos anosnoventa que toca em Joseph Ratzinger,então Prefeito da Congregação para a doutrina da fé (a antiga Santa Inquisição, que cometeuporséculos  milhares dehomicídios contrasupostos bruxos e homens de cultura incômodos a Igreja). Naqueles anos, num tribunal do Texas, Ratzinger foi acusado de “conspiração contra a justiça”, por haver acobertado numerosos sacerdotes católicos acusados de abusos sexuais sobre menores. A posição processual de Ratzinger foidepoisanulada, quando ele foi eleito Papa, apedido do governo americano (na época o presidente era George W. Bush), poisna qualidade de Chefe deEstado o Papateriase beneficiado detoda proteçãoe garantias.
 
Ahistória teve início quando três rapazes denunciaramteremsido violentadospor um seminarista colombiano pertencente àIgreja de São Francisco de Sales. No início de 2010, a defesa dos rapazes apresentou uma carta “estritamente confidencial” enviada em maio de 2001 por Ratzinger a todososbispos católicos, na qual seespecificava que a Igreja nãotraria a públicosuas próprias investigações sobre padres pedófilos por um período de 10 anosa partir do momento emqueas vítimasatingissema idade adulta. Esta carta previa em outras coisasque os resultados das investigações preliminares sobrecada caso de abuso deveriam ser enviadosàCongregação para a doutrina da fé, da qual Ratzinger era ochefe. Aomesmo Ratzinger seriareservada a possibilidade deapresentaros episódiosaos tribunais especiais, compostos exclusivamente de eclesiásticos. Acarta de Ratzinger concluía com uma inequívoca afirmação: “situaçõesdeste tipo são cobertaspelo segredo pontifício”. A ordem partida do atual pontífice e de Bertone (o atual secretário deEstado do Vaticano) continha um objetivo intrínseco de ganhar tempo paraconseguir a prescrição doscrimes. De fato, no processo que tem indiretamente Ratzinger como protagonista não seestá discutindo os anosque os padres pedófilos deveriam passar naprisão (dispensadalargamente contra milhares de proletários), maso eventual ressarcimentoque o Vaticano devepagar as vítimas. Isto porque a causa penal está proscrita, graças à atitude de Ratzinger.
 
A pedofilia comoinstrumento de poder
 
A pedofilia não representa um acontecimento acidental na história e na estrutura hierárquica da Igreja. É evidente que este desviono comportamento sexual é uma conseqüência do celibato forçado e da castidade impostapelas autoridadesda Igreja aosseus própriosmembros. Atéo século oito, os padres não eram obrigadosa observar estes preceitos; posteriormente ao papado de Adriano II (872) estes foram inseridos no ordenamento canônico por responder a uma exigênciapolítica e econômica. Em relação ao aspecto político, a castidade e o celibato representaramos elementos mais eficazes para quehierárquica da Igreja pudesse consolidar a própria autoridade e construir uma relação servo-senhor comos próprios subordinados (os padres).
 
O mecanismo é psicologicamente simples deexplicar partindo do pressuposto de que cada ser humano é caracterizado por pulsões sexuaisque, se reprimidas, dão lugar a episódios de desvios e perversões (comoos abusos sobremulheres e crianças). Uma vez verificadostais episódios de violência, intervéma autoridade eclesiásticaque, com seu agir falso e paternalístico, tende a manter em segredoa brutalidade, como dúplice resultado dejogar no descrédito asvítimas e obter uma cega obediência da parte dos padresque no caso verá a autoridade comoaquela que o salvou do cárcere e do desprezo da opinião pública.
 
Sobre o aspecto econômico, o celibato e a castidade respondem à exigência de restringir o número daquelesque poderiam gozar dos inumeráveis privilégios e da inestimável riqueza da Igreja. De fato, atéo século oito, aos eclesiásticos era concedida a possibilidade decasar e ter filhos.Portanto uma parte da riqueza da Igrejaseria indiretamente utilizada, por transmissão do prelado chefe de família, a uma variedade de sujeitos estranhos à Igreja, da qual poderiam usufruir por efeito das disposições sucessórias em seguida à morte do prelado pai e marido.
 
Ao contrário, ainda hoje, é possível observar como o sistema econômico da Igreja é próspero e como é gerido por poucas pessoas e todas do clero e, portanto, extremamente fiéis aos preceitos da Igreja. O celibato e a castidade forçada se conectam ao fenômeno da pedofilia, e representam instrumentos para manter concentrada nas mãos de poucos “fidelíssimos” a enorme riqueza usurpada, durante séculos, aos explorados de todo mundo por parte da Igreja Católica. Uma usurpação feita com as armas, mas também com meios mais hipócritas, dos quais os poderosos se dotam para conseguir os seus próprios objetivos, tais como o engano e a ignorância.
 
O anticlericalismo não basta, é necessária uma oposição de classe!
 
A soluçãopara este inaceitávelestado de coisasnão podechegara umestéril anticlericalismo pequeno-burguês. É necessária uma oposiçãoque acabe com o controle social que o Vaticano continua a exercer sobre grandes massasde todoo mundo. Um controle social que se traduz na educação, nos numerososdecretosdo Vaticano contraos direitos damulher e contraas minorias sexuais, contrao livre pensamento e a ciência; masqueencontra o próprio fundamento no poder econômico e político que caracteriza aIgreja Católica. Basta pensar no tratamento favorável do qual gozao Vaticano em termos de concessões do Estado italiano.
 
É necessário,portanto, considerar a oposiçãoàIgreja como umaetapa da luta contra o sistema social capitalista, doqualo Vaticano é um dosmaisdestemidos e interessados defensores. Somos absolutamente certos de que sem ainjustiça social que caracterizao sistema capitalista, a Igreja (assim como a religião) nãoteriamais razão de existir e perderia, portanto, aos olhos das massas a sacralização e o poder que, mais ou menosconscientemente, elas lheatribuem.
 
Tradução: Rodrigo Ricupero
 
Fonte: Informativo PDAC, de 10/04/2010
 
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