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sexta-feira, abril 19, 2024

Vertigem social, vácuo de alternativas políticas de esquerda e extrema direita

O que a vertigem, o vácuo de alternativas políticas de esquerda e a extrema direita têm a ver?

O que torna a sociedade profundamente amedrontada?

Por: Roberto Laxe

A manifestação desse medo social é que os discursos, superfaturados em muitas ocasiões, da extrema direita têm um importante significado social, marcando até mesmo a agenda política das organizações de esquerda.

Desde a eclosão da crise em 2007, e como seu resultado, os processos sociais e econômicos, as “placas tectônicas” da sociedade se moveram a uma velocidade vertiginosa; emigrações em massa, países destruídos por guerras, destruição de conquistas sociais, etc… Enquanto isso, os avanços tecnológicos no campo da genética e todas as suas derivações, tanto em relação aos seres humanos quanto à natureza, da biotecnologia e da nanotecnologia, da indústria do grafeno… abrem perspectivas sociais tremendamente esperançosas.

As condições para superar a maioria dos flagelos que tomaram conta da sociedade humana ao longo dos séculos estão dadas. Se a sociedade não dependesse do lucro privado, estes flagelos desapareceriam em poucos anos… Mas não, a fome continua, reaparecem doenças (sarampo, por exemplo) em países que as tinham erradicado, como a Itália, a mudança climática ameaça o mergulho da humanidade em mundos apocalípticos.

Enquanto tudo isso, em inúmeros países ao redor do mundo, começando por potências não marginais, como os EUA ou a Itália, ou países dependentes de alto calibre, como o Brasil, vencem opções políticas que lembram Groucho Marx no Ocidente que, gritando “mais madeira, é a guerra”, destruía o trem que as carregava. O que acontece com amplos setores sociais, incluindo os mais pobres, para ver apenas “Grouchos” (desculpe, ele reconhecia abertamente que era um palhaço) a colocar à frente de seus países?

A vertigem causada pela rapidez com que os eventos ocorrem produz medo, porque a sociedade não sabe para onde está indo; além disso, ela suspeita que todos os avanços sociais nas mãos dos de sempre só geram problemas. A falta de uma alternativa social completa ao capitalismo, que é a força motriz dessa velocidade de cruzeiro imposta à sociedade, é a causa desse medo social que alimenta os discursos da extrema direita.

Os canais de televisão, filmes e videogames estão cheios de mensagens pós-apocalípticas de sociedades futuras onde a alternativa é a extrapolação dos males do capitalismo a extremos de barbárie, como se vê nos Jogos Vorazes, na série Divergente ou em mundos cheios de zumbis. Os meios de comunicação de massas, verdadeiros ditadores a serviço da perpetuação do sistema, oferecem outra opção, para não dizerem que eles não são expressão da liberdade: o medievalismo, a volta a princípios dos quais Don Quixote já fazia escárnio há séculos, a “honra, glória, o espírito cavalheiresco” e sua contrapartida, as conspirações e a irracionalidade que dominaram a Idade Média. Os Games of Thrones ou O Senhor dos Anéis são suas duas manifestações mais conhecidas.

“A especialização leva à barbárie”, disse Ortega y Gasset; e a hiperespecialização do atual capitalismo, que faz com que gênios da computação e da ciência acreditem nessas teorias irracionais, como os zumbis ou o medievalismo, é transferida para a sociedade de uma forma perversa. O desaparecimento de uma alternativa social ao capitalismo, com sua restauração nos chamados países do “socialismo real” (a URSS à frente), e a “descoberta” de que por trás do Muro de Berlim não havia socialismo abrem as portas a milhares de mundos alternativos, que cada um constrói em sua própria cabeça, da Terra Média a Aldebaran. No final, há apenas ceticismo ligado a uma grande ignorância histórica, que resulta na anticiência que domina o pensamento comum dos mortais.

Conseguiram que, diante dos acontecimentos da realidade, a sociedade sinta um medo extremo tenha como recurso somente a fuga para mundos virtuais dominados por ideologias medievais, não científicas… que questionam a realidade como verdade objetiva. Na ausência de uma verdade objetiva para conquistar, entender e estudar, mas na qual tudo “depende da visão com a qual se olha”, o indivíduo se torna o centro do mundo. Unir o medo do futuro, o analfabetismo funcional que é a hiperespecialização imposta no conhecimento e o ceticismo como alternativa social ao capitalismo é devastador e permite que os “Grouchos” assumam um papel que não é deles na sociedade.

Alcançaram destruir na sociedade qualquer afirmação de uma alternativa social ao capitalismo; e neste “alcançaram” devem ser colocados em primeiro lugar os pós-modernos e os pós-marxistas (quem não se lembra de Pablo Iglesias dando o Game Of Thrones de presente ao rei Felipe?), uma vez que falam como representantes da esquerda. Pois Aznar, Trump ou Bolsonaro são o que são; não se pode pedir mais nada a eles. Mas aqueles que falam em nome de…destruam os “grandes relatos” alternativos ao capitalismo e, o que é mais sério, questionem a existência de uma realidade objetiva, introduzindo na sociedade o vírus do ceticismo, não como um questionamento de verdades subjetivas, base do pensamento científico, mas para destruir esses relatos alternativos ao capitalismo.

 

A “fusão” do ceticismo com o desconhecimento da história dos povos, seu questionamento absurdo em nome de um “relativismo” que não existe, apenas abre a porta para vômitos ideológicos como o Vox (Espanha), Bolsonaro (Brasil), Trump (EUA) ou Salvini (Itália). O medo produzido pela vertigem da sociedade, ligado à destruição consciente de uma alternativa ao capitalismo, está na base da expansão da extrema-direita em amplos setores sociais.

Para combater esse medo social, deve-se dar uma alternativa libertadora à sociedade e reconstruir o relato de que a crise capitalista tem outra alternativa que não a barbárie dos Jogos Vorazes ou dos zumbis, ou o retorno a um passado com base na irracionalidade e no anticientificismo de Games of Thrones ou do Senhor dos Anéis. Que, em face ao capitalismo e sua tendência à barbárie, a sociedade tem a alternativa do socialismo, da revolução socialista para acabar com todos os males do capitalismo e das sociedades de classe (os medievalistas esquecem que, naquele tempo, não se reconhecia que as mulheres tivessem alma), do machismo à catástrofe anunciada da mudança climática.

Tradução: Marcos Margarido

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