qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

O Trabalho no Capitalismo: Exploração e Roubo

Em frente a um ponto de ônibus há uma pequena banca que vende bilhetes de loteria. As pessoas se aproximam para comprar um bilhete cujo nome de um dos prêmios é “Tchau, chefe!”. Ali, o sonho de se ver livre para sempre do trabalho invade a cabeça dos que passam.

Por: MIT Chile

Entretanto, ao subir num ônibus lotado, o comprador se dá conta de que os R$ 5,00 ¹ gastos no bilhete foram para o lixo. Afinal a imensa maioria de nós está condenada a trabalhar a vida toda. No final de nossa existência, teremos trabalhado de 8 a 12 horas por dia, 26 dias ao mês, durante 35 ou 40 anos, para então receber aposentadorias que nos enterram na miséria. Quem, nessas condições, não gostaria de dar um adeus definitivo ao patrão e desfrutar a vida?

O capitalismo nos apresenta a relação entre o patrão e o trabalhador como se fosse livre e justa. Mas não é assim. Vivemos sempre sob a ameaça de uma demissão ou de um corte de direitos. Ainda assim, o trabalho é duro, mas também cria maravilhas. Com o trabalho são criadas riquezas que antes não existiam. Do trigo se processa a farinha, das árvores se faz o papel, da pedra saem as chapas de cobre. O trabalhador transforma uma simples matéria-prima (o tronco da árvore por exemplo) em outra coisa (o tronco em madeira, a madeira em uma cadeira) usando o seu trabalho e ferramentas. Ele cria um produto que serve para satisfazer uma necessidade.

O trabalho deveria despertar a inteligência, a cooperação e a solidariedade. Mas por que não acontece isso? Porque na sociedade capitalista acontece o contrário: o trabalho não é a realização de nossas capacidades e talentos, e sim um sofrimento a serviço do lucro, o lucro do patrão.

O trabalho no capitalismo

Grande parte do fruto do nosso trabalho é apropriada pelos empresários. A riqueza é produzida pelo/a trabalhador/a, que transforma as matérias-primas por meio do trabalho que realiza sobre elas, agregando um valor adicional ao seu produto. A riqueza gerada ao vender esse produto, em vez de ir para quem fez o trabalho de transformação, fica no bolso do empresário capitalista.

O trabalhador recebe em troca um salário, que corresponde apenas a uma pequena parte da riqueza que seu trabalho produziu. A diferença entre o que realmente produz e seu salário é a mais-valia. Essa mais-valia se transforma no lucro do empresário, que se apropria dela só por ser o dono das matérias-primas e do maquinário. Então o trabalhador trabalha por um salário e o empresário explora porque paga somente uma parte da riqueza e fica com a mais-valia. Essa relação se conhece como exploração.

O que é e onde está essa exploração?

A exploração é a apropriação da mais-valia que nós trabalhadores geramos e que acaba nos bolsos do patrão. E a ironia do sistema capitalista é que a exploração se dá através do fato mais esperado pelo trabalhador: O pagamento do seu salário!

Para poder mostrar de forma mais evidente o roubo que se dá na exploração, podemos ver o caso da mineração:

  • No ano de 2012, na divisão mineira El Teniente, no Chile, havia 14.000 trabalhadores (efetivos e terceirizados).
  • Nesse ano, a produção total foi de 233 mil toneladas de cobre, que valiam mais de R$ 1 bilhão.
  • Calculando a produção média de cada um dos 14 mil trabalhadores, foi mais de R$ 65 mil por mês.
  • Isso significa que cada trabalhador gera cerca de R$ 2.700 diários.
  • Aqui se vê o segredo da exploração: se o salário médio dos trabalhadores é mais ou menos R$ 4.400 mensais, o trabalhador de El Teniente produz em apenas um dia quase o valor total de seu próprio salário.
  • Mas o contrato “livre e justo” estabelecido pelo patrão diz que o trabalhador deve trabalhar 24 dias e somente depois receberá seu salário. Isso significa que, em um mês, o trabalhador trabalha cerca de 1 dia e meio para pagar seu salário e nos outros 22 dias trabalhará absolutamente grátis.
  • Parte do valor dessa riqueza gerada pelo trabalhador vai para os custos de produção: matérias primas utilizadas, máquinas que se desgastam etc. O restante é lucro para o empresário.
  • No capitalismo a exploração não está no fato de o salário ser alto ou baixo. Se o salário do mineiro fosse dobrado para R$ 8.800, ele então trabalharia cerca de 3 dias para pagar seu salário e 21 dias grátis para o patrão. Caso o salário triplicasse a R$ 13.200, ele trabalharia cerca de 5 dias para pagar seu salário e 19 dias grátis, e assim sucessivamente.
  • O mesmo ocorre com as propostas de redução da jornada de trabalho, que agora se discute baixar para 40 horas semanais. Essa medida seria muito importante e afetaria o lucro do patrão, mas é totalmente insuficiente, já que não elimina a exploração.
  • É evidente que esse nível de exploração varia, dependendo do ramo da indústria e da profissão. Algumas categorias são mais exploradas que outras, ou seja, trabalham mais tempo grátis para o patrão. Outras, menos. Mas em todas as empresas os trabalhadores vendem sua força de trabalho durante um certo tempo em troca de um salário. Este fenômeno se repete: o trabalho gratuito para o patrão.

A taxa de lucro: o lucro direto do patrão

Nem todo o valor produzido pelos trabalhadores vai diretamente para o bolso do patrão, porque parte dele se reinveste na empresa e no seu funcionamento. A taxa de lucro indica quanto um capitalista ganhou em um período de tempo, em nível de uma fábrica ou em nível mundial. É calculada com uma fórmula: Taxa de lucro = mais-valia/capital constante + capital variável.

Mais-valia: Valor que trabalhador agrega ao objeto que produz.

Capital constante: O que se gasta em maquinário, novas tecnologias etc. Este capital sempre está em crescimento para manter a eficiência na produção e assim tornar a empresa mais competitiva.

Capital variável: O que se gasta ao pagar os salários.

Assim podemos ver que, se o capital constante sobe – porque os empresários devem investir em máquinas e ferramentas – a taxa de lucro cai. E como não podem gastar menos em maquinário, os capitalistas reduzem o capital variável que são os salários e os trabalhadores.

Assim, empresários e governos precisam aplicar políticas e leis que sirvam para manter ou aumentar a taxa de lucro. As empresas fazem isso através de demissões, para poder pagar menos em salários e intensificar a exploração; e os governos por meio de reformas trabalhistas que flexibilizem o trabalho e diminuam os gastos sociais (como com saúde, moradia, aposentadoria etc.).

Quando os trabalhadores fazem greve por aumento salarial, os patrões mostram centenas de gráficos para provar que o aumento reivindicado é inviável e que a empresa vai quebrar. Mas eles estão mentindo, porque, apesar dos gastos, o aumento pedido pelos trabalhadores nunca elimina o lucro ou os ganhos dos empresários, nem os compromissos assumidos pelas empresas com os fornecedores e os bancos, que enriquecem através dessa exploração.

A automação e seu papel no capitalismo

Outra forma de aumentar a taxa de lucro é por meio das melhorias tecnológicas, como a automação. Essa apresenta uma contradição, dado que, por um lado, permite substituir o humano em trabalhos perigosos e extenuantes, trabalhar menor quantidade de horas e ao mesmo tempo continuar produzindo o que precisamos para nosso bem-estar; mas, por outro lado, a automação é utilizada para o objetivo do capitalista, que é a acumulação de riquezas nas mãos de poucos.

Dessa forma, a automação é vista como inimiga da classe trabalhadora: gerando demissões e levando a classe a ser parte de um exército de desempregados que serão contratados por salários menores. Mas é muito improvável que a automação possa ocupar todos os postos de trabalho: o motor de gerar riqueza para o patrão é a exploração dos trabalhadores; sem eles o patrão não obtém a mais-valia, porque as máquinas não recebem salário. Nós somos a favor da automação e do avanço da tecnologia e da ciência, mas em benefício do trabalhador: para diminuir as jornadas de trabalho com o mesmo salário e contratar mais trabalhadores em novas tarefas.

Abaixo a exploração. Que os trabalhadores sejam quem controle a produção.

Expropriar os empresários (começando pelos que geram demissões massivas e contaminam o meio-ambiente), e em seguida passar a administração das fábricas para o controle operário, permitirá a redução de jornadas de trabalho para garantir emprego para maior número de trabalhadores sem diminuir o salário e controlando a produção em conjunto com a população, porque recursos existem. Mas, para garantir o controle operário de empresas, temos que tirar também os governos representantes dos empresários, ou seja, os trabalhadores devem tomar o poder por meio de uma revolução socialista.

Gráfico que mostra a exploração de um trabalhador:

¹ Câmbio do dia 05/11/2019:  R$ 1,00 real = $ 184,00 pesos chilenos

Tradução: Vitor Jambo

 

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