qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

O golpe saudita

como ganhar muito dinheiro mentindo para o mundo e com o sangue de inocentes

O governo da Arábia Saudita, diga-se de passagem: uma monarquia absolutista dirigida despoticamente pelo multibilionário Mohamad Bin Salman (o pais é o maior exportador de petróleo do mundo) anunciou um ataque com drones contra suas refinarias feito por Rebeldes houthis do Iêmem, que teria provocado incêndios em duas instalações petrolíferas, em 14 de setembro, levando a um corte de mais de metade da produção de petróleo do país. Consequência: redução do fornecimento e com isso um  “grande aumento” nos preços da commodity. 

Por: Asdrubal Barboza

A petrolífera estatal Saudi Aramco, afirmou que os ataques levariam a uma queda de 5,7 milhões de barris diários na produção do país, o que representa mais de 5% do fornecimento mundial de petróleo. Isso gerou pânico nos mercados financeiros e fez o barril de petróleo subir, na segunda-feira, dia 15, quase 20%, impactando em todo o mundo e fazendo as grandes companhias de petróleo ganhar muito dinheiro.

Mas a verdade é que possivelmente o ataque dos houthis não tenha sido tão preciso e nem tenha causado tanto dano, e, portanto, a redução da produção durou poucos dias e foi compensada pelos estoques acumulados pelos sauditas. Mas nada disso fez com que a monarquia árabe e a indústria petroleira não ganhassem muito com o pânico causado.

Guerra de interesses

O governo saudita também lucrou politicamente, pois mesmo identificando os houthis como autores dos ataques, junto com o governo dos Estados Unidos, através do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, culpou o Irã. “Teerã fez um ataque sem precedentes contra o fornecimento mundial de energia“, o serviçal Boris Johnson, ficou logo ao lado de Trump.

Alegam que os dez drones dificilmente teriam sido lançados do Iêmen, porque os alvos estavam a mais de 500 quilômetros do território iemenita. No entanto, isso não prova que foram os iranianos que lançaram o ataque. Enquanto o governo de Teerã nega sua participação. Vale a pena lembrar que o governo saudita é aquele que enviou secretamente uma equipe de agentes até a Turquia para eliminar o jornalista opositor Jamal Khashoggi, que foi envenenado, torturado, esquartejado e morto, e até agora não assumiram a responsabilidade por este crime.

Guerra genocida

A verdade é que a monarquia saudita, sempre aliada ao imperialismo, não tem escrúpulos para se manter no poder e garantir os seus lucros. Por isso tradicionalmente intervém no Iêmen que considera como seu quintal, há muitos séculos. Sempre sabotaram a unificação do Iêmen, apoiaram vários golpes e fomentaram guerras civis e conflitos e assassinatos neste pobre país.

Como o do coronel Ibrahim al Hamadi, a quem apoiaram contra seus opositores na década de 1970, mas quando saiu do “controle”, o rei Faiçal mandou matá-lo, assim como a seu sucessor, apoiando um novo golpe desta vez do, então, major Ali Abdulla Salen, em 1978. Conspiraram contra a única Republica na região na década de 1990 e a nova constituição adotada, bastante progressiva para o mundo árabe, que não reivindicava a sharia e dava direito a voto às mulheres, e que proporcionou a liberdade de expressão e a libertação de todos os presos políticos.

Como o novo governo que surgiu deste processo foi contra a invasão do Iraque pelo imperialismo, a Arábia Saudita expulsou 1 milhão de trabalhadores ienemitas que enviam dinheiro para seu país e sabotou a produção de petróleo do Iêmen, reivindicando poços em territórios fronteiriços.

Em 1994 a monarquia saudita apoiou o reinício de uma guerra seccionista por parte do Iêmen do Sul e, como fruto disso a entrada do partido Islah no governo, que mudou a Constituição e faz o Estado adotar a Sharia. Como em 1997 o partido do Congresso Geral do Povo teve uma nova vitória eleitoral contra os islamitas radicais, em 1998 a Arábia Saudita fez um ataque militar no Mar Vermelho ocupando algumas ilhas do Iêmen.

Um novo governo de Abdulla Salen foi acentuando os traços bonapartistas e autoritários do regime, e foi se aproximando cada vez mais dos sauditas e se aliando aos Estados Unidos, agora alegando a “luta contra o terror”, e com isso utilizando-se da tortura e prisões arbitrarias contra seus opositores. Em 2002 os Estados Unidos enviam seus assessores militares e começam os protestos contra a sua presença e dos assessores israelitas.

Em 2011 a Primavera Árabe chegou ao Iêmen, e os manifestantes exigiram a renúncia de Abdulla Salen. Pressionado por esta situação em maio deste ano, o xeque Sadiq al Ahmar, chefe da tribo hashids rompe com o governo e apoia a oposição e junto com ela toma muitas posições do governo. Em junho atacam o palácio presidencial e deixam Salen e assessores feridos. Salen fugiu e foi se tratar na Arábia Saudita.

O vice Mansur al Hadi assumiu a presidência interinamente. Salen voltou em setembro, mas as relações se deterioraram mais ainda por isso em novembro foge, novamente, para a Arábia Saudita e transfere o poder definitivamente para Mansur, e a seguir para os Estados Unidos. Al Hadi é eleito presidente em fevereiro de 2012 supostamente com 99,8% dos votos. Abdulla Salen deixa o poder depois de 33 anos.

Em 2015 os houthis, agora aliados de Abdulla Salen, e denunciados como aliados do governo do Irã, atacam militarmente o governo de Abad Rabbuh Mansur Hadi, que foge para o pais saudita, sendo recebido por Bin Salman Al Saud, que autoriza um ataque, sem precedentes da força aérea contra a capital Aden, com apoio dos Estados Unidos, que matou 310 pessoas.

A monarquia da Arábia Saudita interviu com mais 8 países (Marrocos, Jordânia, Sudão, Kuwait, Emirado Árabes Unidos, Qatar e Bahrain), com seu principal aliado, além dos países imperialistas, sendo Abdel Fattah al Sisi do Egito. Em 2017 Abdulla Salen faz um acordo com os sauditas.

Os houthis que mantiveram sua resistência junto à maioria do povo iemita tomaram o palácio presidencial o atacaram a casa de Salen em Sanaa e o mataram.

Hoje a Arábia Saudita comanda uma coalizão militar que intervém no Iêmen contra os rebeldes houthis. Esta coalizão é o “Conselho de Cooperação do Golfo”, do qual fazem 8 países árabes apoiados pelos governos dos EUA, França, Reino Unido e Israel todos contra os houthis do Iêmen.

Um conflito que levou, de acordo com a ONU, a pelo menos 10.000 mortos (a maioria causadas por ataques aéreos), que é uma estimativa baixa, pois o verdadeiro número é muito maior, pois passando fome, em virtude do boicote marítimo que sofre o pais, há já, pelo menos 8 milhões de pessoas e a cólera infectou pelo menos um milhão de pessoas.

Fruto de um bloqueio a qualquer barco nos portos controlados pelas forças houthis, incluindo navios com alimentos ou medicamentos. O Iêmen dependente em 90% de importações para suas necessidades básicas. Este bloqueio só é possível com o apoio técnico e logístico americano,

O monarca saudita Bin Salman está realizando um verdadeiro genocídio contra o povo do Iêmen e a destruição total do país e de todas as suas infraestruturas básicas. A invasão denominada “Operação Tempestade” conta com centenas de milhares de soldados, equipamento militar moderno e muitos milhões de dólares[1], que vão para os países imperialistas através da venda e manutenção do material bélico usado pelas tropas da coligação.

A coligação genocida realiza diversos crimes de guerra como o bombardeamento sistemático de hospitais e da população civil. E se utilizam de drones também, que só em 2014 realizaram pelo menos 200 ataques, causando a morte de centenas de civis.

A verdade por trás da guerra é que o governo saudita ocupar os poços de petróleo ienemitas e toda sua produção, além de pretender construir um oleoduto que possa transportar o seu petróleo mais rapidamente pelo porto de Adén. O controle dos portos pelas forças imperialistas é sua prioridade.

Em mais uma guerra de rapina imperialista contra um povo que paga o preço de sua resistência com sangue e sofrimento. Todo apoio ao povo do Iêmen.

[1] Há um pacote de 110 mil milhões de dólares para compra de armas nos próximos 10 anos por parte do reino saudita. Os Estados Unidos fornecem estas armas desde a administração Obama.

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