ter abr 16, 2024
terça-feira, abril 16, 2024

O escracho aos abusadores e violentos: tática ou estratégia?

A partir da denúncia de Thelma Fardin[1] a Darthes, com o apoio do coletivo Actrizes Argentinas, o movimento de mulheres voltou a discutir sobre a tática do escracho, sua validade e uso concreto.

Por: PSTU Argentina

Alguns companheiros e organizações defendem que não é uma tática útil, já que não permite a reeducação de quem é escrachado. E outros, acabam usando a tática do escracho como estratégia, constantemente e em todos os âmbitos sociais. Queremos debater com ambas as posições.

Partimos da base de que o machismo é uma falsa ideologia, usada pelo sistema capitalista para oprimir e assim poder explorar melhor os trabalhadores e as trabalhadoras. Uma opressão que devemos combater constante e conscientemente, sem perder de vista o fato de que nossa estratégia é acabar com o sistema que explora a todas/os nós.Neste quadro, as mulheres, o coletivo LGBTI, devemos buscar a melhor tática para apontar a violência machista, combatê-la e reeducar enquanto lutamos contra este sistema.

A justiça injusta

Nós sabemos que a justiça é patronal. Responde aos interesses de empresários, patrões e políticos da burguesia. Então esta suposta justiça que diz que “somos todos iguais perante a lei” age de maneira parcial. Se não, não se explica como o próprio Juan Darthes pôde viajar para o Brasil e conseguir um emprego mesmo tendo uma denúncia por estupro na justiça.

Em nossa opinião, a medida do escracho é necessária. As mulheres e os trabalhadores em todo o mundo devem saber que essa pessoa é um assediador, violento, estuprador e continuar o escracho onde quer que ele vá, fazendo com que seja condenado socialmente.O mesmo acontece quando estudantes denunciam a diretores, professores, reitores ou trabalhadoras que devem expor os supervisores, gerentes e patrões. Quantos exemplos disso tivemos em 2018.

Os casos do Nacional Buenos Aires, o Nacional de Adrogué, entre outros.Em geral, as instituições protegem aos violentos machistas. Revitimizam a quem denuncia. E não há justiça. Então, tomando o exemplo de HIJOS (organização de direitos  humanos da Argentina) nos anos 90, onde não há justiça, há escracho.Isso não significa que seja válido em todos os casos. Precisamos avaliar cada caso e ver qual é a melhor maneira de abordá-lo.

Quem deve definir e executar as medidas?

Nós de Lucha Mujer acreditamos que o fundamental do debate e que é omitido pela imensa maioria das organizações, é quem define e executa as medidas para combater o machismo, das quais o escracho é uma opção.

Não acreditamos que essas medidas devam ser realizadas por um grupo de iluminadas, apenas por grupos de mulheres. Mas que, se há casos nos locais de trabalho, são os trabalhadores com suas ferramentas que devem resolver, em assembleias, comissões de trabalho, entre outros. O mesmo acontece em organizações de massa, como escolas ou faculdades, onde as assembleias soberanas que devem votar o que fazer e executar a ação. A primeira luta para frear o machismo é essa, que seja tomada como uma questão de conjunto e isso implica uma dura luta contra a ideologia machista e a ideia, igualmente reacionária, de que é um problema apenas das mulheres e de suas organizações.

Por isso é necessário que em sindicatos, centros estudantis, clubes de bairro, haja comissões de mulheres e procedimentos contra a violência. Para que em todas as nossas áreas possamos recorrer a profissionais e ter todos os meios necessários para abordar cada denúncia.É necessário que as comissões de investigação independentes levem a cabo a investigação pertinente, em princípio ante as denúncias de companheiras, e que isto seja levado aos organismos para que se discuta o que fazer.

Combater o machismo todos os dias

É importante pensar que o escracho em si, com certeza, não resolve a questão. Porque o machismo continua se reproduzindo. Então, embora o escracho possa ser uma primeira medida, deve ser acompanhado por comissões de controle votadas também em assembleia, e todas as medidas necessárias dependendo da gravidade do fato.A reeducação é também uma tarefa a ser levada adiante e uma luta dura. As prisões não servem para isso. Mas ser “vítima” do escracho não vai contra a reeducação. Colocar muita gravidade nessa exposição é quase proteger o machista.

Que o pior que pode acontecer com ele é ser exposto por seu comportamento. Enquanto as mulheres e LGBTI são vítimas de femicídio, estupro, tráfico e outras humilhações.Uma carta de denúncia pública, inclusive, é educativa para os homens, que deverão reavaliar seu comportamento e começar a pensar se alguma vez agiram assim, em casos não tão graves.

Mas a reeducação é no âmbito da estrutura deste sistema, não em uma estrutura ideal. Portanto, isso ocorre em uma batalha permanente e diária em organizações, escolas, locais de trabalho e outras áreas. E para isso devemos usar todas as ferramentas que servem para parar de dividir a classe trabalhadora pelo machismo imperante.

Artigo publicado em www.pstu.com.ar

[1] Atriz argentina que denunciou Juan Darthes por estupro

Tradução: Nea Vieira

Confira nossos outros conteúdos

Artigos mais populares