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sexta-feira, março 29, 2024

Israel revive apartheid odioso contra os palestinos

Desde os anos 60, quando a luta dos negros e do povo norte-americano dos EUA impôs o fim do odioso regime segregacionistaque durou quase um século no Sul do país após a abolição da escravatura nos EUA, não se via algo do tipo. Formas de apartheid disfarçadas de “medidas de segurança” já vinham sendo adotadas por Israel

 contra os palestinos há tempos. Revistas violentas e constantes nos postos de controle com a desculpa de buscar armas; exigências absurdas de vistos, carimbos, documentos, papéis sem sentido algum; ataques físicos e situações de constrangimento: tudo isso já fazia parte do dia a dia dos trabalhadores árabes que precisam trabalhar nas cidades israelenses. Mas agora a máscara se mostrou como máscara, e os disfarces já não disfarçam mais nada. Junto com os abstratos discursos de paz entre os judeus e palestinos, medidas de guerra nada abstratas vêm confirmando a cada dia o status de Israel como enclave no Oriente Médio, criado e mantido pela burguesia sionista, com apoio militar e financeiro por parte do imperialismo norte-americano.
 
Pressionado pelos colonos sionistas, o Ministério dos Transportes de Israel resolveu criar ônibus separados para judeus e palestinos. Para viajar, os palestinos que trabalham legalmente em cidades israelenses não podem mais usar os mesmos ônibus que os judeus. Nos anos 30, na Europa, Hitler obrigava os judeus a usar um selo nas roupas com a palavra jude. Isso facilitava o trabalho dos SS nas suas tarefas de segregar os judeus na Europa, durante os anos do nazismo. Agora é a vez dos sionistas fazerem o mesmo contra os palestinos, para identificar quem pode e quem não pode subir no ônibus.   
 
A medida representa uma vitória dos colonos israelenses que vivem nos assentamentos construídos ilegalmente por Israel nos territórios palestinos da Cisjordânia. Com medo de serem atacados pelos palestinos, os colonos há tempos vinham exigindo do governo essa medida de apartheid. O prefeito do assentamento Ariel disse que já havia se reunido com as Forças Armadas, a Polícia e o Ministério de Transporte para impedir os palestinos de embarcar nos ônibus que vão para esse assentamento.
 
“Terroristas” e “macacos”, assim são chamados os palestinos residentes na Cisjordânia pelos colonos judeus. “Nas linhas de Ariel, tem mais terroristas que colonos judeus”, disse um colono. Outro afirmou que não conseguia visitar os parentes que vivem no assentamento porque estava muito assustado para entrar nos ônibus. “Finalmente, vocês se lembraram que nós temos ônibus repletos de árabes?”, questionou outro.
 
Para acalmar os colonos e evitar que abandonem os assentamentos, o governo israelense anunciou a criação de linhas de ônibus específicas para os residentes da Cisjordânia, cobrindo o trajeto de Tel Aviv até os postos de controle da fronteira com o território palestino. Além de serem obrigados a usar apenas essas linhas, os palestinos deverão ser rigorosamente revistados, mesmo nos ônibus específicos.
 
Dessa forma, os colonos vão se sentir mais “seguros”; inclusive as linhas já existentes vão entrar diretamente nos assentamentos judeus na Cisjordânia sem a necessidade de parar nos postos de controle, onde antes embarcavam os palestinos. Enquanto isso, os novos ônibus terão de passar pela inspeção das Forças de Defesa de Israel no posto de Samaria, na fronteira com o território palestino. Os veículos vão partir nos horários de saída e entrada desses trabalhadores.
 
“Nós recebemos reclamações há muito tempo de moradores dos assentamentos e líderes municipais sobre os palestinos voltando de seus trabalhos em linhas regulares de ônibus, voltando sem passar por um posto de segurança”, informou a delegacia policial de Judeia e Samaria.
 
Expulsos dos ônibus
 
Essa medida vem legalizar uma situação já antiga. O jornal israelense Haaretz informa que, por exigência dos judeus, os oficiais de Israel já vinham, sem mais nem menos, expulsando esses trabalhadores de dentro dos ônibus. No início de novembro, a polícia israelense expulsou todos os passageiros palestinos de um ônibus, obrigando-os a andar por quilômetros até o próximo posto de controle das Forças de Defesa e pagar por um taxi até suas casas. “Os oficiais confiscaram seus documentos de identidade e levaram esses documentos para o posto de controle”, explicou um reservista ao Haaretz.
 
“Meus amigos que trabalham no posto de controle contaram que a mesma coisa aconteceu no outro dia”, acrescentou ele.
 
Os motoristas da Viação Afikim são israelenses e apesar de serem trabalhadores ajudam a implantar a política do apartheid, porque há muito já não permitem a entrada de palestinos em seus veículos.
 
{module Propaganda 30 anos – MORAL}O número de palestinos trabalhando legalmente em Israel cresceu nos últimos anos, atingindo a marca de 29 mil pessoas por dia. Esses trabalhadores moram em cidades palestinas na Cisjordânia e têm de passar por postos de controle das Forças de Defesa de
 
Israel para conseguir entrar na cidade israelense, apesar de possuírem visto de entrada.
As únicas linhas de ônibus disponíveis para esse trajeto saem dos assentamentos judeus na Cisjordânia, que foram anexados ao território de Israel e que não admitem a entrada de palestinos sem autorização especial. Os trabalhadores palestinos embarcam nos veículos no meio de estradas depois de terem passado pela inspeção dos oficiais.
 
De acordo com o jornal Haaretz, a polícia se prepara para implementar a separação entre as populações e, se um palestino for identificado dentro de um ônibus "normal", os policiais lhe pedirão para descer e esperar o ônibus "especial"."As novas linhas de ônibus têm o objetivo de melhorar o serviço para os trabalhadores palestinos que entram (em Israel) pelo ponto de checagem de Eyal (perto da cidade de Qalqylia, no norte da Cisjordânia)", diz a nota do Ministério.
 
Na Cisjordânia já existe uma rede de estradas exclusivas para a circulação de carros com placas israelenses e nas quais veículos com placas palestinas não podem transitar.
 
Cerca de 380 mil colonos israelenses que moram em assentamentos na Cisjordânia estão subordinados à lei civil de Israel. Já os 2,5 milhões de palestinos dessa região estão sujeitos à lei militar que vigora no território, no qual a autoridade principal é o Exército de Israel.
 
Apartheid é expressão de uma política genocida
 
O apartheid como política genocida ficou mundialmente conhecida a partir do regime branco da África do Sul; nessa época, o mundo inteiro pode assistir às formas mais cruéis de segregação contra o povo negro, despojado de qualquer direito humano e submetido às formas mais odiosas de opressão. Também foram criadas linhas de ônibus separadas para os residentes negros, mas a segregação atingia o país inteiro, com escolas, hospitais e igrejas separadas, bairros separados, os townships, sob as  condições mais primárias de vida.
 
Nos Estados Unidos, o regime segregacionista já havia submetido a população negra a todos os tipos de segregação, inclusive ônibus para brancos e negros, que Israel agora passa a adotar. Nos Estados Unidos, o caso de Rosa Parks ficou famoso no mundo inteiro e foi fundamental na luta contra o preconceito racial. Rosa Parks era uma jovem costureira negra que em um dia do ano de 1955, em plena efervescência do racismo nos Estados Unidos, ousou desafiar o sistema.
 
Rosa saiu do trabalho e, quando entrou no ônibus percebeu que todos os assentos do fundo “destinados aos negros” estavam lotados. Viu então que havia um lugar vazio no meio do ônibus e sentou-se, mas sabia que, se um branco chegasse, teria que levantar. Entraram no ônibus três brancos, dois se sentaram e um ficou em pé. O motorista pediu que Rosa se levantasse e cedesse o lugar, mas ela se recusou a fazê-lo porque estava cansada. Diante da recusa, o motorista ameaçou chamar a polícia. Rosa respondeu: "Então, prenda-me". O motorista desceu, chamou a polícia e ela foi presa.
 
Ao saber do episódio, Martin Luther King ficara revoltado e teria dito: "É a gota d'água”. Começou então um grande protesto em todas as cidades, liderados por negros, com apoio de alguns brancos e os negros resolveram boicotar os ônibus, causando grande prejuízo financeiro às empresas de viação.
 
Negra e pobre, Rosa Louise Parks era filha de um carpinteiro e uma professora, e foi educada na Escola Industrial de Montgomery para Meninas. Ela lutou contra o racismo nos Estados Unidos durante toda a sua vida, até 2005, quando veio a falecer.
 
Com seu gesto e sua coragem, Rosa tornou-se um símbolo da luta contra a segregação racial, a intolerância e a prepotência. Mas pouco se fala que ela tornou-se também um símbolo de orgulho para as mulheres, em especial as mulheres negras, as mais oprimidas, humilhadas e exploradas. Por isso, temos de reivindicar a luta de Rosa Parks também como parte da luta das mulheres contra a opressão, porque ela, mesmo carregando nas costas a pecha de “ser inferior”, teve a força suficiente para desafiar o poderoso sistema segregacionista norte-americano. Hoje, na Palestina, as mulheres árabes também precisam se inspirar nela e revoltar-se, junto com os homens, contra mais essa violência por parte de Israel.
 
Como se não bastasse ter se apossado de todo o território palestino, agora Israel avança na ocupação também da Cisjordânia, construindo assentamentos de luxo para atrair colonos judeus para aquela área, como forma de dominação territorial de fato e expulsão dos habitantes originais. E impede que os seus habitantes originais, os palestinos, se “misturem” com os invasores judeus. 
 
Os ônibus separados podem parecer apenas mais um detalhe nessa história sórdida. Mas para um trabalhador que precisa sustentar sua família, ela é decisiva e pode significar a diferença entre a vida e a morte.
 
Por isso não é “mais do mesmo” e pode significar, sem exagero, mais um passo em direção à estratégia israelense de limpeza étnica do povo palestino.

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