ter abr 16, 2024
terça-feira, abril 16, 2024

À espera de uma terceira Intifada

A próxima Intifada poderia ver o povo Palestino em luta não apenas contra Israel, mas também contra a Autoridade Palestina, escreve Khaled Amayreh desde Ramallah.
Observadores na Palestina ocupada são crescentemente de opinião que uma nova Intifada ou levante está à vista, enquanto as autoridades israelenses continuam provocando os palestinos, inclusive os esforços feitos para ganhar o direito de realizar orações judaicas na Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro santuário sagrado do Islam.
A Organização da Conferência Islâmica (OIC) avisou que as ações de provocação de Israel em Haram Al-Sharif (o Santuário Nobre) poderiam levar a uma guerra santa entre judeus e muçulmanos. A organização pediu à comunidade mundial para parar a agressão israelense antes que fosse muito tarde.
O aviso veio depois que as forças de segurança israelenses atacaram fiéis muçulmanos durante as orações de sexta feira, no dia 5 de março. Policiais paramilitares israelenses lançaram gás lacrimogêneo e granadas de choque, ferindo cerca de 50 palestinos, muitos deles idosos. Alguns deles foram transferidos para os dois principais hospitais de Jerusalém Leste, mas muitos foram tratados no local, pois os soldados israelenses impediram a entrada de apoio médico.
A polícia israelense disse que ela “interveio” em reação a pedras atiradas ao Muro Al-Burak (Al-Burak Wall) perto dali, chamado pelos judeus de “Praça de Muro Ocidental”. Os palestinos têm protestado contra uma série de provocações israelenses, inclusive os esforços de grupos religiosos judeus para fincar o pé na Mesquita de Al-Aqsa. No início de março, soldados israelenses escoltaram um número de judeus fanáticos à esplanada Haram Al-Sharif, onde eles fizeram rituais religiosos. Fiéis muçulmanos na área arremessaram pedras neles, despertando o ataque imediato dos soldados aos muçulmanos.
O estado de ânimo geral foi intensificado por uma recente decisão do Primeiro Ministro israelense Binyamin Netanyahu de adicionar dois locais islâmicos — a Mesquita Ibrahimi em Hebron, que os judeus chamam de Caverna dos Patriarcas, e a Mesquita Bilal bin Rabah em Bethlehem, conhecida pelos judeus como o Túmulo de Raquel — a uma lista recém criada de locais considerados Patrimônios Judaicos.
Outra fonte de tensão foi a decisão do prefeito israelense de Jerusalém, Nir Barkat, de destruir um bairro árabe inteiro na parte leste da cidade para construir instalações turísticas. Considerado um “ato de violação” e de “limpeza étnica”, os palestinos argumentam que a demolição de dúzias de lares no bairro Silwan nada mais é que uma tentativa de judaizar a Jerusalém Leste árabe.
Algumas personalidades judias conscienciosas reconhecem as intenções maliciosas das autoridades israelenses e do prefeito Barkat. Abraham Burg, ex-presidente do Knesset (o Parlamento israelense) acusou Barkat de permitir a opressão e a injustiça sem freios numa cidade onde a “justiça outrora existiu”.
Num artigo publicado pelo Haaretz em 7 de março, Burg assinalou que “a capital judaico-israelense e árabe” está se tornando “a capital dos fanáticos alucinados e perigosos. Esta não é a cidade de todos os seus residentes. É uma cidade triste que pertence a seus colonos, seus ultraortodoxos, seus residentes violentos e seus messias… o espírito israelense de justiça está sendo conduzido barbaramente por políticos, colonos e juízes. A alma nacional está sendo  destruída com indiferença burocrática e rotineira”.
De fato, as organizações judaicasrespaldadas pelo governo, a maioria fundada por judeus ricos dos Estados Unidos, estão fincando o pé no bairro árabe de Sheikh Jarrah onde as famílias palestinas têm sido desalojadas à força de seus lares em coordenação com o aparato policial. Colonos alegam que algumas casas pertenciam a judeus antes de 1948 enquanto outras foram compradas em negócios secretos. Quando os palestinos aflitos vão às cortes israelenses para reclamar, os juízes israelenses rotineiramente ficam do lado dos colonos invasores.
Os advogados dos colonos frequentemente alegam que as casas em tais cidades como Hebron e Jerusalém pertenciam aos judeus durante a época do domínio britânico. Os mesmo advogados esquecem o fato de que dezenas de milhares de lares onde agora está Israel pertenciam às famílias palestinas cujos membros foram massacrados, como em Deir Yassin, ou sofreram limpeza étnica e foram forçados a se exilar, como aconteceu nos bairros de Jerusalém de Lifta, Ain Karm, Talbiyeh e Al-Malha, para mencionar alguns.
Quando este escritor perguntou a um advogado israelense envolvido em esforços para usurpar propriedades árabes em Jerusalém Leste porque era um direito dos judeus reclamarem sua suposta propriedade no lado leste enquanto não era dos palestinos em relação às propriedades no que é hoje Israel, o advogado disse, “por que nós somos fortes e vocês fracos”.
Diante da opressão, milhares de palestinos e israelenses pró-paz reuniram-se em Jerusalém no sábado à noite, em 6 de março, para protestar contra a crescente expulsão de famílias árabes por colonos judeus apoiados por policiais. É improvável, entretanto, que demonstrações forçarão o governo israelense a repensar seu plano de judaizar Jerusalém Leste árabe.
Na realidade, longe de mostrar a mais leve consideração pelas preocupações palestinas, o Ministro da Defesa, Ehud Barak, aprovou esta semana a construção de 112 novos assentamentos judeus no lado leste. As decisões transformam em zombaria a outra decisão feita no início do ano de congelar a expansão dos assentamentos por 8 meses. Ela também revela que promessas e obrigações contraídaspelo governo de Netanyahu têm pouca credibilidade.
Com uma Autoridade Palestina (AP) visivelmente impotente fazendo perto de nada – e possivelmente capaz de nada – frente à arrogância do poder de Israel, a frustração entre os palestinos está crescendo. Não é improvável que as sementes de uma autêntica Intifada estejam sendo semeadas se as tendências atuais permanecerem. Entretanto, uma nova Intifada iria confrontar a AP apoiada pelo Ocidente com um dilema real que colocaria em questão não apenas sua legitimidade – tal como é – mas também sua própria sobrevivência.
Na segunda semana de março, Israel enviou um aviso austero à AP: “Parem com os atiradores de pedras, ou então nós iremos parar”. O problema, entretanto, é que uma tomada de posição pelas forças de segurança da AP contra as reações dos palestinos às provocações e agressões de Israel seria muito impopular, pois mostrariam as forças de segurança da AP reprimindo seu próprio povo em nome de Israel. Por outro lado, se a AP ficasse do lado das massas contra Israel arriscaria sua própria sobrevivência, pois forçaria o exército israelense a retomar as cidades palestinas como aconteceu em 2001 e 2002.
Fonte: Ahram weekly – 11 de março de 2010

Confira nossos outros conteúdos

Artigos mais populares