qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

A farsa do julgamento de Saddam Hussein

Na primeira semana de novembro, o tribunal que julga Saddam Hussein o condenou à forca pela matança de 148 habitantes xiítas de Dujail, ao norte de Bagdá, em 1982.

Saddam foi um ditador que reprimiu de modo sangrento o povo iraquiano, especialmente os xiítas e curdos. No entanto, esse julgamento é uma farsa completa, típica de uma “justiça colonial”.

 

Em primeiro lugar, porque seu verdadeiro objetivo não é “fazer justiça” a favor do povo iraquiano, mas cobrir com o manto da “legalidade jurídica” a invasão e ocupação do país por parte de tropas imperialistas, cuja desculpa principal foi justamente “liberar” o Iraque da “tirania de Saddam Husseim”.

 

Em segundo lugar, porque o tribunal que o julgou é parte de um governo títere, agente de uma ocupação colonial que já causou 655.000 mortos e utiliza de modo indiscriminado o método da tortura e matança de civis. Os crimes cometidos pela ocupação são muito maiores que os de Saddam, mas eles não são condenados nem julgados. Pelo contrário, são alentados pelo governo americano e seus títeres no Iraque. Recordemos que o governo Bush acaba de aprovar uma lei liberando a tortura contra prisioneiros considerados “combatentes inimigos”.   

Em terceiro lugar, com total hipocrisia, Saddam é condenado por um crime que foi cometido em momentos em que ele era aliado do imperialismo americano e travava uma guerra contra o Irã para debilitar a revolução nesse país[1].

 

Nesses anos, o imperialismo calou a boca aos crimes de Saddam, como sempre faz em relação aos ditadores que lhe são úteis. Recordemos o que disse Franklin D. Roosevelt, então presidente dos EUA, sobre as atrocidades cometidos por Anastasio Somoza, na Nicarágua: “ele pode ser um filho da puta, mas é nosso filho da puta”. Depois da invasão do Kuwait, em 1990, Saddam deixou de ser um “aliado” e passou a ser um “inimigo”. Por isso, os crimes antes aceitos agora são “condenados”.      

 

Não temos dúvida de que Saddam merece ser julgado e condenado por suas atrocidades. Mas nem o imperialismo criminoso nem seu governo títere no Iraque têm direito político nem moral para isso. Só o povo iraquiano tem esse direito. Mas só poderá ser exercido de modo efetivo se os ocupantes imperialistas e seus títeres iraquianos forem derrotados e expulsos do país. Por isso, denunciamos esse julgamento como uma verdadeira farsa e repudiamos a condenação final desse processo.



[1] Em 1979, uma grande revolução operária e popular derrubou o Sha Pahlevi, do Irã, um dos grandes aliados do imperialismo na região. Em setembro de 1980, utilizando como desculpa divergência de limites, Saddam, com a benção dos EUA, iniciou a guerra e invadiu o Irã. Em 1982 as tropas iraquianas já haviam sido expulsas da maior parte do território invadido, mas a guerra continuou até 1988, com um alto custo em número de vidas e uma enorme crise econômica em ambos os países. 

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