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quinta-feira, março 28, 2024

Solidariedade com a greve dos trabalhadores têxteis de Mahalla

Mais de 20.000 trabalhadores e trabalhadoras de duas importantes empresas públicas da indústria têxtil egípcia estão em greve desde o dia 21 de outubro. Uma das empresas, a Misr Spinning and Weaving Company, em Mahalla, é a maior do setor, com mais de 17.000 trabalhadores, dos quais 14.000 estão em greve. A outra empresa paralisada é a Kafr al-Dawwar, que aderiu ao movimento no último domingo. Cerca de 8.000 trabalhadoras cruzaram os braços e pararam a atividade das máquinas.

Por: Gabriel Huland

As trabalhadoras protestam contra a negativa do presidente al-Sisi de conceder um bônus salarial prometido em julho no valor de 10% dos salários. As duas empresas estão localizadas no Delta do Nilo, a zona mais industrializada do país e cenário de vários protestos, bloqueios e paralisações parciais que envolveram milhares de pessoas nos últimos anos. A indústria têxtil egípcia é uma das mais importantes do país, junto com a do turismo, a metalúrgica e dos derivados de petróleo. As trabalhadoras do setor têxtil têm sido a vanguarda do movimento operário do país no último período, mantendo viva a chama da primavera árabe.

Em 2008, uma greve de trabalhadoras da indústria têxtil na mesma cidade de Mahalla foi apoiada por vários ativistas pró-democracia que depois constituíram o Movimento 6 de Abril, um dos grupos mais ativos na revolução que derrubou Mubarak em janeiro de 2011 e que agora sofre uma dura perseguição política. Vários integrantes do grupo estão na cadeia. O Movimento 6 de Abril se dividiu depois da revolução, com uma parte apoiando os militares e outra adotando uma posição de independência em relação à Irmandade Muçulmana e à junta militar.

O governo reprime a luta de Mahalla com ameaças de descontar os dias não trabalhados, bem como de aplicar a lei antiprotestos contra os ativistas. Até o dia 29 de outubro, o movimento continuava com força, apesar da pressão feita pela Federação Única de Sindicatos Egípcios, oficialista e ligada ao governo, para que as trabalhadoras voltassem a seus postos de trabalho. A participação das mulheres no movimento é grande, levando em conta que a indústria têxtil é uma das que mais utiliza mão de obra feminina. A reivindicação central das grevistas é a concessão do bônus prometido pelo Executivo com efeito retroativo a julho de 2015. O governo afirma que elas não têm esse direito pois já receberam um aumento recentemente.

Inflação e crise econômica

A economia egípcia continua se deteriorando apesar das medidas anunciadas por Sisi, tais como ampliar o Canal de Suez, construir uma nova capital administrativa, privatizar empresas públicas e realizar uma conferência para atrair investidores estrangeiros.

A balança comercial do país mais povoado do mundo árabe está negativa, o que o torna extremamente dependente dos investimentos estrangeiros. O governo precisa importar trigo e outros produtos para garantir a alimentação dos mais de 80 milhões de egípcios, grande parte dos quais sofre de má nutrição e problemas de desenvolvimento físico. De fato, um dos detonantes da revolução de 2011 foi o aumento do preço do trigo, que provocou uma perda imediata do poder aquisitivo da imensa maioria da população. Ao mesmo tempo, cerca de 60% das terras cultiváveis não são utilizadas apropriadamente, o que se soma ao fato de que, devido à mudança climática, as cheias do Nilo são cada vez menos potentes e irrigam cada vez menos terras.

A dívida externa recentemente chegou a 47 bilhões de dólares, a inflação continua em alta (9,2% em setembro) e os salários se mantêm nos mesmos níveis de antes da revolução. O país gastou mais de 5,6 bilhões de dólares com os juros da dívida em 2014/2015, 3,2 bilhões em 2013/2014 e 2,6 bilhões em 2009/2010, segundo o site Madamasr. Por outro lado, as arrecadações provenientes do Canal de Suez tendem a diminuir por causa da redução do comércio mundial de petróleo, apesar das obras de expansão recém terminadas. O FMI exige medidas “estruturais” para emprestar dinheiro para o país e Sisi tenta estreitar relações com os países do Golfo, assim como com  Israel e Grécia.

Eleições legislativas nada transparentes

A ditadura militar tenta de todas as formas melhorar sua imagem em nível internacional mediante a realização de eleições parlamentares nas quais a participação dos grupos de oposição foi fortemente limitada ou diretamente impedida. Em outubro, aconteceram o primeiro e o segundo turno das eleições legislativas, que tiveram uma participação baixíssima. Menos de 27% do censo eleitoral foi às urnas votar, apesar da campanha realizada pelo governo incentivando a participação. A maioria da população não acredita na transparência nem na eficácia do processo.

O governo concedeu meio dia de feriado aos funcionários para que votassem e aplicou a lei que estipula uma multa de 500 libras egípcias (62 dólares) para os que não o fizessem. Mesmo assim, a participação foi a mais baixa desde a revolução de janeiro de 2011. A previsão é que a coalizão governista Para o Amor do Egito fique em primeiro lugar. O partido vinculado à Irmandade Muçulmana (Partido da Justiça e Liberdade), que é o principal grupo de oposição a Sisi, não pôde participar do processo eleitoral. Um partido formado por políticos leais a Mubarak pôde participar livremente, ainda que não tenha conseguido ir para o segundo turno. O partido islamita Nour também não conseguiu. O movimento independente, formado pelos ativistas que estiveram na linha de frente da revolução, não conseguiu se apresentar de forma independente e organizada. Eles vêm sofrendo uma repressão brutal nos últimos anos, com milhares de ativistas presos, assassinados e desaparecidos.

É necessário expressar o apoio mais amplo a esta luta. A LIT-QI e a Corriente Roja (Estado Espanhol) chamam todos os sindicatos, organizações políticas e movimentos sociais a cercar de solidariedade a greve de Mahalla e exigir do governo Sisi que atenda as justas reivindicações das grevistas!

Tradução: Raquel Polla

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