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quinta-feira, março 28, 2024

A ofensiva militar aumenta as contradições dos invasores

Desde 15 de fevereiro, as forças da OTAN no Afeganistão estão realizando uma ofensiva na província de Helmand no Sul do país. 15 mil soldados das tropas de ocupação foram deslocados para esta ação militar, numa das províncias onde o Taleban tem mais influência e controle.
 
O plano do imperialismo é fazer o Taleban retroceder das cidades. Depois da ofensiva, a idéia é consolidar a estabilização da região mediante a ação de tropas afegãs e do envio de 1900 policiais afegãos, treinados por instrutores norte-americanos, que se deslocariam para assumir tarefas específicas de policiamento.
 
O comando militar já anunciou com grande pompa a retomada da cidade de Marjah, capital da província. Também foi divulgada a prisão no Paquistão de Abdul Ghani Baradar, o dirigente número 2 do Taleban, especialmente comemorada pelos meios de comunicação imperialistas porque foi resultado de uma ação conjunta com os órgãos de segurança paquistaneses.
 
No entanto, apesar destes supostos êxitos, a ofensiva militar não parece ir nada bem. Ao contrário, dá a impressão de debater-se num atoleiro. As tropas encontraram uma surpreendente resistência de atiradores bem qualificados do Taleban. Além disso, os ataques das tropas imperialistas mataram grande número de civis em mais de uma ocasião, causando problemas políticos e provocando até o protesto do governo títere de Karzai. O comando das tropas de ocupação foi obrigado a desculpar-se e justificar o “erro” acusando o Taleban de usar os civis como escudo humano.
 
Os protestos contra o bombardeio de civis refletem a indignação provocada pela política consciente dos EUA, durante a maior parte dos oito anos de guerra, de realizar bombardeios indiscriminados que arrasaram povoados e mataram famílias inteiras. Nos últimos tempos, o governo dos EUA, conscientes de seu desgaste, tem procurado evitar o bombardeio de civis para tentar ganhar o apoio da população. Este foi o discurso do general Mc Chrystal, quando assumiu o comando das tropas americanas no país. Por isso, a ocorrência de novos bombardeios contra a população civil durante a atual ofensiva acentua o desgaste da ocupação e produz reações políticas até no servil governo de Karzai.
 
Do outro lado, como para mostrar que sua capacidade de ação continua intacta, o Taleban realizou uma série de ataques contra hotéis de Cabul, a capital do país, matando 16 pessoas, apenas duas semanas depois de iniciada a ofensiva. Foram os primeiros ataques do grupo nesta cidade desde 18 de janeiro.
 
É preciso acrescentar a este quadro, a situação política interna e os problemas causados pela guerra ao imperialismo americano e europeu. Há uma crescente oposição da população da Europa ao envolvimento dos seus países na guerra do Afeganistão. É o caso, por exemplo, da Inglaterra, Espanha e Alemanha. Na Holanda, caiu recentemente o governo parlamentar justamente pela pressão popular e por divergências entre a burguesia sobre o envolvimento do país na invasão e no envio de tropas. Também nos Estados Unidos o mal-estar causado pela ocupação vem em aumento.
 
Há dois problemas de fundo no cenário da guerra. No aspecto militar, a ofensiva se dá depois que as forças imperialistas tiveram muitos problemas. 2009 foi o pior ano da guerra para as forças da OTAN que tiveram 520 mortos em combate. Por outro lado, o Taleban avançou muito, em influência política e ação militar O Afeganistão tem 36 províncias e o Taleban tem forte presença, quando não controle, em 30 delas. Ou seja, a ofensiva em Helmand não pode derrotar o Taleban e nem mesmo deve enfraquecê-lo decisivamente.
 
Por isso mesmo, o imperialismo não se coloca como objetivo, derrotar o Taleban. Em outras palavras, a estratégia dos EUA não é levar a cabo uma ofensiva até esmagar o Taleban, mas sim pressioná-lo, com o objetivo de forçar o grupo a negociar em melhores condições para o imperialismo.
 
E que condições seriam estas? As que permitam a integração do Taliban ao Estado e ao governo afegãos, totalmente tutelados pelo imperialismo, assumindo cargos políticos e postos no aparelho estatal. A condição seria que o grupo pusesse fim às ações militares e aceitasse a presença de bases e tropas norte-americanas. Por outro lado, as tropas de ocupação deixariam de intervir em ações ostensivas de patrulha e segurança interna.
 
Entre as hipóteses que estão sendo estudadas pelo imperialismo estaria a integração da organização militar do Taliban nas forças armadas afegãs, ao exemplo do que foi feito para desmontar processos de insurgência guerrilheira em vários países. Neste contexto, a segurança interna seria assumida por essas forças armadas, totalmente financiadas e controladas pelo imperialismo.
 
Uma das maiores evidências desta estratégia foi a Conferência sobre o Afeganistão, realizada em Londres em 28 de janeiro. O evento, que foi patrocinado pela ONU e pelos países invasores, como a Inglaterra e os Estados Unidos, contou com a presença de delegações de mais de 60 países. No Encontro, Hamid Karzai, presidente do Afeganistão, apresentou um plano de conciliação com o Taleban que, segundo o jornal brasileiro Folha de São Paulo prevê, “a reintegração de membros de todos os níveis do Taleban.” De acordo com esta publicação, “… os 20 a 30 mil combatentes receberão ofertas de dinheiro e empregos, financiados por doações de aliados internacionais. Já os líderes do grupo… poderiam obter espaços na estrutura de governo nacional”.
 
Para começar o processo de negociação, Karzai contaria com a ajuda do Paquistão e da Arábia Saudita, dois dos três países que reconheceram o regime do Taleban antes da sua derrubada em 2001.
 
Como para deixar clara a estratégia negociadora, a conferência também estipulou que em dezembro deste ano ou em janeiro de 2011 começará a passagem gradual da responsabilidade pela segurança de cada Província para as forças armadas afegãs. O comunicado final da conferência prevê que dentro de três anos os próprios afegãos deverão conduzir a maior parte das operações em áreas de conflito e em cinco anos serão responsáveis pela segurança de todo o país.
 
Toda esta estratégia do imperialismo é uma tentativa coerente de minimizar os custos políticos e militares de uma guerra perdida e sair do atoleiro em que se meteu. No entanto, cabe perguntar: alguém já combinou tudo com o inimigo? O Taliban vai seguir o roteiro traçado pelo imperialismo e capitular através da combinação de negociação e pressão armada?
 
Sem dúvida esta possibilidade existe, porque se trata de um movimento burguês, aliás, dos mais reacionários. Mas até agora, o fato é que tem enfrentado o imperialismo de armas na mão e tem obtido sucesso não só nos enfrentamentos militares, mas, principalmente, em ganhar o apoio político da maioria da população. E já rejeitou as primeiras propostas de negociação feitas por Karzai. Portanto, as forças imperialistas de ocupação e o governo títere têm uma difícil tarefa pela frente, cujas contradições estão sendo acirradas pela atual ofensiva. Não há saída à vista do atoleiro.

 

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