sáb abr 20, 2024
sábado, abril 20, 2024

Rússia bombardeia Síria a partir do mar Cáspio

Putin intensifica seus ataques à Síria. Aos bombardeios aéreos, agora se somam os ataques com mísseis a partir do mar Cáspio, a 1500 km de distância de seus alvos. Militares russos lançaram, no dia 07 de outubro, cerca de 26 mísseis de cruzeiro contra o solo sírio, disparados a partir de quatro navios.

Por: Daniel Sugasti

Esses ataques foram coordenados e acompanharam uma ofensiva terrestre das forças leais ao ditador Bashar al-Assad.

Posteriormente, o Estado Maior russo garantiu ter atingido com esta operação vários alvos do Estado Islâmico (EI) nas províncias de Raqa, Idlib e Alepo. Porém, diferentes fontes presentes em terra, como o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, denunciam que os verdadeiros alvos foram as milícias rebeldes antiditatoriais, além de civis inocentes.

Nesse sentido, o alto comando russo anunciou que, em uma semana de ataques, suas bombas acertaram 112 posições do EI. O Departamento de Estado norte-americano contestou dizendo que 90% dos ataques russos não acertaram alvos do EI nem de outros grupos da órbita da Al Qaeda.

A questão é que a intervenção de Putin não pretende combater o EI, mas sim apoiar o governo sírio. Isso é importante para preservar os interesses russos na Síria e no Oriente Médio.

Em primeiro lugar, para o regime russo é importante manter a base naval de Tartus, a única à sua disposição no Mediterrâneo. Por outro lado, está a questão das jazidas de gás descobertas no litoral sírio, cuja exploração foi garantida para várias companhias russas nos próximos 25 anos. A sobrevivência política de Assad é fundamental para assegurar todos esses interesses. Isso, na realidade, não deveria surpreender ninguém. Desde o início do processo revolucionário, Putin prestou à Damasco uma vital ajuda financeira, militar e diplomática.

Por que a Rússia atua diretamente agora e não o fez antes? A intervenção russa que estamos presenciando, mais aberta e decidida, tem a ver com a deteriorada situação do regime sírio, altamente desgastado depois de quase cinco anos enfrentando a oposição armada. O ditador Assad não controla mais do que 25% do território. Se conseguiu se manter no poder é justamente pelo apoio que recebeu e continua recebendo de países como Rússia, Irã, China, da milícia libanesa Hezbollah, e até de governos ditos “progressistas” como os de Venezuela e Cuba.

Outro elemento, cada vez mais desconsiderado por analistas internacionais e sobretudo pela maioria da esquerda mundial, é o fato que a revolução, ainda que com fluxos e refluxos, continua. Mesmo fragmentada e sem o armamento pesado que precisa, a resistência de facções como o Exército Livre da Síria (ELS) e a das milícias curdas no norte continua firme. Nos últimos meses, além do mais, evidenciou-se o avanço da chamada Frente da Vitória (coalizão entre grupos salafistas como Ahrar Al-Sham e Frente Al-Nusra) em direção à Latakia, o feudo do clã dos Assad. Em síntese, a luta do povo sírio, ainda que com todas as suas contradições e idas e vindas, não foi derrotada.

Neste contexto, a faixa mediterrânea da Síria, assim como o eixo Damasco-Homs-Hama, devem ser conservadas custe o que custar, pois nessa porção do território se concentram os interesses vitais do regime sírio e também os de seu aliado russo: tanto a base naval de Tartus como as jazidas de gás do Mediterrâneo.

Tendo em conta esses elementos, o “combate ao terrorismo” do EI que Putin e Assad bradam é pura falácia. A verdade é que o EI vem prestando um serviço inestimável à ditadura síria. É o “perigo jihadista” que permite ao ditador sírio mostrar-se como um ator “necessário” diante das potências imperialistas. Ser considerado mesmo que seja como um “mal menor” é muito importante para o regime sírio porque o ajuda, no mínimo, a “ganhar tempo”.

Uma possível “derrota” do EI sem dúvida reduziria as expectativas de sobrevivência da ditadura síria e, portanto, significaria um golpe para os interesses russos nesse país e na região. Por isso que os bombardeios de Putin têm o propósito fundamental de frear o avanço da revolução síria e “blindar” o máximo possível o regime de Damasco.

A única saída progressiva para o povo sírio e de todo o Oriente Médio e o Magreb passa pela derrota da ditadura síria e a expulsão de todos os seus aliados. Por isso, é necessário opor-se tanto aos bombardeios russos como aos dos EUA, que atacam a Síria há mais de um ano. Nesse sentido, a unidade político-militar das milícias árabes e curdas para derrotar Assad, o Estado Islâmico e o imperialismo continua sendo a chave da vitória.

Tradução: Ismael Feitosa

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