sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

Atentados no metrô: um crime contra os trabalhadores…

e uma conseqüência da política dos governos Yeltsin, Putin, Medvedev
 
Em 29 de março o país esteve outra vez às voltas com explosões no metrô. Novamente o choque de uma crueldade sem sentido, desorientação, e outra vez os representantes do governo agitam seus punhos.

 Os atentados no metrô são sem dúvida um crime contra as pessoas comuns, que iam ainda sonolentas pela manhã para o trabalho ou a escola, em vagões lotados. Mas apesar de toda a tragédia, acreditamos que seria equivocado nos limitar só a expressões de pesar e compaixão. Há que responder à pergunta que se fez muita gente no dia do atentado: “por que?”
 
Uma consequência da política da Rússia no Cáucaso
 
Quem realizou o atentado? Quem estava pronto a se tornar uma bomba humana? É óbvio que o fanatismo dos suicidas não vem do nada. Suas fontes são conhecidas. Durante o período em que a Rússia esteve em guerra com Chechênia, foram mortos entre 100 e 160 mil habitantes (de acordo com a avaliação de diferentes organizações). Esses eram chechenos, russos, pessoas de todo tipo, mortos pelas mãos da aviação russa ao varrer Grozni da face da Terra; mortos pelos bárbaros disparos de artilharia; “limpos” pelas forças especiais ou pelos agentes de Kadirov (NT: atual presidente de Chechênia, antigo dirigente da resistência, hoje homem de confiança do Kremlin). Em quase toda família chechena há alguém que foi morto pelo exército russo. Nas repúblicas do Cáucaso, em especial na Chechênia e Ingusetia, hoje há regimes militares completamente corrompidos, e vive-se sob condições de miséria e desemprego. Os verdadeiros senhores das repúblicas do Cáucaso, a FSB (NT: Serviço de Segurança Federal), a polícia e o exército russos, mantêm sob terror a população e de tempos em tempos organizam expedições punitivas. Assim, na realização dos atentados participam pessoas que perderam seus filhos, filhas, maridos, irmãos, pais ou toda a família.
 
Na Rússia czarista o general Ermolov, para subjugar o Cáucaso, queimou e eliminou aldeias e povos inteiros, semeando entre seus povos um ódio justificado contra a Rússia. A Revolução de Outubro proclamou o direito dos povos do antigo Império a sua autodeterminação, deu-lhes liberdade, e por isso foi apoiada pelos povos não russos. No entanto, com o retrocesso da revolução e a ascensão do estalinismo, com sua cruel política em relação às nacionalidades, os povos já não teriam direito a nada mais que a uma autonomia cultural, e tal situação continuou a ferir os sentimentos nacionais dos povos. Com a restauração do capitalismo, a situação piorou. Gorbachov foi o primeiro a enviar tanques às repúblicas da URSS para calar o levante das massas. Depois Yeltsin, Putin e Medvedev tornaram-se os merecidos continuadores da tradição de Ermolov.
 
A política dos governos russos no Cáucaso, destinada a subjugar os povos da região, é a causa principal das explosões no metrô de Moscou. Qualquer que seja o juízo que se tenha sobre o atentado no metrô, não se pode contornar o fato de que essa foi uma resposta à guerra que a Rússia leva no Cáucaso. Seria ingenuidade pensar que o governo Putin-Medvedev continuaria a bombardear o Cáucaso, e que os trabalhadores russos poderiam seguir vivendo tranqüilos como se não acontecesse nada. Enquanto os trabalhadores russos permitirem ao seu governo continuar molestando os povos do Cáucaso e subjugando-os à paulada, inevitavelmente esta paulada se voltará, ao final, para atingir aos trabalhadores russos. A única saída para terminar com este pesadelo dos povos caucasianos e russos é dar um basta à política do governo russo no Cáucaso: retirar as tropas e deixar os povos do Cáucaso decidirem por si mesmos como querem viver: como parte da Rússia ou fora dela. Isso deve decidir não o exército, não a FSB, não o Ministério do Interior, opressores dos povos, e sim os povos mesmos.
 
Apoiamos a luta dos povos do Cáucaso, mas não a sua direção nem os seus métodos
 
Qualquer povo deve ter o direito a determinar seu destino por si mesmo. Nenhum russo gostaria que o destino de seu povo fosse decidido pelos EUA, Alemanha ou por quem quer que seja. Nenhum russo gostaria que a questão da independência da Rússia fosse determinada por outro país qualquer. E o povo russo teria pleno direito de lutar por sua autodeterminação, como lutou de fato (junto a outros povos) contra a intervenção imperialista durante a Guerra Civil e contra a invasão pela Alemanha Nazista. E qualquer alemão de bem na Alemanha Nazista deveria estar contra a agressão alemã àquele país. Os povos do Cáucaso deveriam ter o mesmo direito. Bem como o direito de resistir às tentativas de imposição política do Kremlin, de resistir à agressão do exército russo, da FSB (antiga KGB), do Ministério do Interior e de agentes pagos pela Rússia, do tipo de Kadirov. O governo tenta mostrar que no Cáucaso os que resistem são somente os loucos e fanáticos. No entanto, uma das mulheres que cometeu o atentado no metrô era uma professora de informática, com educação superior e tinha uma família estável. A resistência chechena ampliou-se por todo o norte do Cáucaso. Os representantes do poder nas repúblicas estão obrigados a se dirigir aos povoados e fazer agitação para que “não ajudem os terroristas” ou “não protejam os terroristas”. Tudo isso mostra que a luta dos povos caucasianos, por sua autodeterminação, atinge amplas camadas da população e ganha simpatia, dando um caráter de guerra popular à luta. E é esta luta contra a política do governo russo no Cáucaso, que todos os trabalhadores russos devem apoiar.
 
Apoiamos a luta dos povos do Cáucaso, mas condenamos categoricamente os métodos direcionados contra as pessoas comuns. É necessária a solidariedade dos trabalhadores russos com os trabalhadores em luta do Cáucaso. Sem esta solidariedade, os povos do Cáucaso nunca atingirão a liberdade. Mas os atentados terroristas no metrô só semeiam a hostilidade e o ódio, colocando um abismo entre os trabalhadores russos e caucasianos. E isso é um crime.
 
Uma coisa são os ataques nas repúblicas contra a polícia, FSB, poderes locais, clero muçulmano colaboracionista – os principais instrumentos através dos quais o regime Putin-Medvedev oprime e aterroriza aos povos do Cáucaso. E outra coisa são os atentados criminosos contra as pessoas comuns. Entre eles há um abismo. O mesmo abismo que há entre a burguesia, com seu poder e seus criados de um lado, e as pessoas comuns do outro.
 
Mas porque os ataques são direcionados contra as pessoas comuns? Muitos se fazem esta pergunta. O problema é que a resistência dos povos do Cáucaso não é dirigida por pessoas comuns. É dirigida por barões locais, burgueses locais (como Kadirov), que não buscam a liberdade do povo, e sim buscam somente fazer negociatas com o governo e burgueses russos pela sua parte na exploração dos povos das repúblicas do Cáucaso. Para eles, assassinarem pessoas comuns no metrô, é uma parte das negociações com os proprietários russos e com o governo, sobre a partilha da influência nas repúblicas. E os próprios mártires, para eles, não são mais que carne de canhão. Assim como para o governo Putin-Medvedev, a carne de canhão são os soldados russos no Cáucaso e as pessoas mortas no metrô são o “custo” de sua política para o Cáucaso. Em relação aos dirigentes da resistência dos povos do Cáucaso, semeadores do ódio aos russos, os próprios caucasianos comuns não devem ter nenhuma confiança nestes. Hoje eles chamam os trabalhadores russos de inimigos do povo checheno, amanhã, por algum dinheiro, vão servir à burguesia russa, como o fez Kadirov.
 
E o governo?
 
Como respondeu o governo aos atentados? Com as palavras mágicas de sempre. De Putin escutamos outra vez o “idioma da imundície”: De sua velha consigna “matar nas latrinas”, acrescenta-se agora “arrancar dos esgotos”. Não é um primeiro-ministro e sim o “Encanador de Todas as Rússias”. Medvedev agita os punhos, promete “eliminar a todos completamente” e continuar sua política de guerra contra o terrorismo, um presidente “muito” poderoso, quase tanto quanto Putin. Em outras palavras, Putin e Medvedev deixam claro que durante sua administração, nada mudará. As tropas russas, polícia e FSB continuarão a maltratar aos povos do Cáucaso, e a nós só cabe esperar mais “surpresas”, no metrô ou onde quer que seja.
 
E porque eles falam assim? Porque os atentados, na verdade, não lhes atingem. Porque quem morre são as pessoas comuns. São mortos não aqueles que organizaram e continuam a guerra no Cáucaso; não aqueles cujos corpos estão protegidos pelas paredes do Kremlin, serviços de segurança, carros blindados; não aqueles que vivem em bairros especiais com segurança 24h; não aqueles para quem, por sua segurança, se fecham as estradas para que possam passar com tranquilidade, bloqueando regiões inteiras da cidade; não aqueles que são responsáveis pelo sofrimento dos povos do Cáucaso e pelas vítimas entre as pessoas russas comuns.
 
Assim como em 1999, quando explodiram, não as mansões da elite de Rublyovka (a rua dos milionários em Moscou. NT), e sim os edifícios de má qualidade de regiões desprestigiadas. Ou em 2002, quando como reféns tomaram, não os membros do governo, e sim simples dramaturgos. Ou ainda em 2004. quando fizeram reféns, não aos dirigentes do estado, burocratas dos serviços de segurança, oligarcas, a elite russa que vive nos balneários de luxo da França, e sim a estudantes, seus pais e professores…. Desta vez também morreram pessoas comuns, e não oligarcas, ministros e burocratas corruptos enriquecidos graças à exploração dos trabalhadores russos e das repúblicas, saqueadores dos fundos estatais “para a reconstrução da Chechênia”, que enchem os bolsos graças à mão de obra barata dos operários do Cáucaso, nas próprias repúblicas ou nas grandes cidades da Rússia, onde a juventude está obrigada a se dirigir para fugir da pobreza e a da guerra.
 
Sobre “apertar as porcas”…
 
E, como não poderia deixar de ser, o governo rapidamente começou a “apertar as porcas”; de fato já fazia tempo que não tinha tão boa desculpa para isso. A experiência, para dizer a verdade, mostra invariavelmente que isso não evita os atentados, mas funciona muito bem contra os que criticam o governo e estão na oposição; seria um pecado para eles não utilizar esta desculpa. Assim, Putin e Medvedev, em uníssono, exigem tomar medidas duras. Já está em andamento a introdução da obrigação de registrar os passageiros nos ônibus intermunicipais, o que significa que os governos terão a possibilidade de seguir facilmente os movimentos de cada simples cidadão, líder sindical ou ativista político. Medvedev propôs “melhorar a atuação relativa ao crime de terrorismo e crimes correlatos (sendo que na legislação russa, como “terrorismo” se inclui “extremismo”, onde se pode incluir praticamente tudo).
 
O representante do Comitê de Segurança da Duma de Estado V. Zavarzin (do partido de Putin, Rússia Unida) exige atacar os operários imigrantes, endurecendo as leis contra eles. Y. Yarovaya (também da Rússia Unida) disse que as explosões foram resultado de “uma tentativa de desestabilizar a situação política, introduzindo à força o descontentamento na sociedade”. O senhor Yakemenko, o conhecido criador da organização juvenil pró-Kremlin “Indo Juntos” e “Nashi” (“os nossos”), entre outras, sendo hoje o dirigente de suas “alas ortodoxas” e tutor dos acampamentos de jovens putinistas em Seliguer, acusou diretamente a oposição pelos atentados, dizendo que estes deviam ser debitados na conta da mesma. Como corretamente registrou um jornalista da “Gazeta Independente, “a porca aperta”, mas nada se torna, por isso, mais seguro: a violência da OMON (NT: unidade policial de operações especiais) atinge somente os mais fracos.
 
A vida dos que estão encima se torna cada vez mais segura, de modo que não se pode aproximar deles mais de um quilômetro, ficando em congestionamentos quando os dirigentes da FSO (polícia) passam perfeitamente seguros pelas ruas da cidade. A uma pessoa comum cada passo torna-se perigoso: “difícil diferenciar um bandido de um policial…”
 
…e não só isso
 
Sem dúvida os atentados serão utilizados pelo governo para tentar manter o povo ao seu redor, e desviar-lhe a atenção das dificuldades financeiras e de sua política desastrosa; que não é hora de pensar no desemprego, nas tarifas públicas e nos baixos salários, pois a “pátria está em perigo”. Assim, o grupo pró-Kremlin já no dia dos atentados levantou a consigna “o povo, Mevedev e Putin! Juntos venceremos!”
 
E os governos aproveitam-se da situação. Assim, o ministro do exterior Lavrov já sugeriu que “é de conhecimento de todos que na fronteira entre Afeganistão e Paquistão existe uma chamada ‘terra de ninguém’, onde se planeja muitos atentados não só no Afeganistão e países próximos… Agora estas rotas levam também ao Cáucaso”.
 
Isso não é nada mais que uma tentativa de utilizar o atentado para justificar a vergonhosa participação russa na ocupação do Afeganistão pela OTAN e pode servir, também, para justificar um maior envolvimento da Rússia nesta guerra.
 
Dejavu
 
Para muitos trabalhadores russos deu-se uma sensação de dejavu, sentimento de volta a um passado nada distante: outra vez a queda no nível de vida, outra vez atentados terroristas, outra vez uma desordem no país, tal é o balanço da administração Putin-Medvedev. Ao mesmo tempo, tudo isso reflete a crise crescente do governo. No início da década, quando tinha dinheiro do crescimento econômico e dos altos preços do petróleo bruto, era fácil deixar cair algumas migalhas da mesa da burguesia para o povo, amortecer a resistência chechena com balas, além de dinheiro à sua direção vendida. Como se diz, “Com dinheiro é fácil ser deus”. Mas agora a situação é outra. O dinheiro acabou, “o deus” se debilitou, e se aproxima a hora da verdade. E Putin e Medvedev sabem disso.
 
Hoje eles tentam utilizar os atentados para se fortalecerem. Eles gostariam que o povo – que começa a expressar sua insatisfação com a situação do país – voltasse a lhes apoiar, como a um filho pródigo, pedindo perdão pela sua ingratidão anterior e suplicando-lhes pela sua defesa. Os trabalhadores não podem cair no truque deste governo que só trouxe pobreza e atentados. Ao inferno com esse governo que já provou que não serve para nada!

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