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sexta-feira, março 29, 2024

O governo quer liquidar a Avtovaz

No marco da estratégia da nova onda de privatizações e da expansão da influência do capital estrangeiro no país, o governo dito “patriótico” de Putin-Medvedev deu finalmente, sua resposta ao problema da Avtovaz[1]: vendê-la às multinacionais. O governo, repetindo o discurso embriagado do começo dos anos noventa, quer convencer-nos de que o capital privado, especialmente o estrangeiro, resolverá nossos problemas, e em especial, o problema da Avtovaz. Em Togliatti, o ministro Shuvalov prometeu que não haveria demissões, e apresentou otimistas perspectivas em relação ao crescimento da dependência da fábrica da Avtovaz com relação à francesa Renault.

No entanto tudo isto não passa de mentiras e ilusões. O objetivo do capital estrangeiro não é se preocupar com as necessidades dos trabalhadores, e sim arrancar mais lucros da empresa e do país. A crise da Avtovaz é parte da crise mundial de superprodução de mercadorias não consumidas. As multinacionais não têm a quem vender seus automóveis, e a “Renault” (como outras montadoras de automóveis) trata de se inserir no mercado russo. A depender do capital estrangeiro, Avtovaz tem só duas perspectivas: a) a destruição da fábrica, caso tenha que concorrer com as montadoras multinacionais, ou b) redução da produção, dedicando-se à montagem de automóveis estrangeiros. Ambas levam à redução em massa de trabalhadores da Avtovaz e à redução dos fornecimentos da mesma.

Os patrões não vêem nenhuma utilidade na Avtovaz atual. É por isso que a estão derrubando. Inclusive, a suposta organização da produção de autopeças, controlada pelas multinacionais estrangeiras não resolve o problema: Em primeiro lugar não compensa em nada as demissões, e em segundo lugar significaria o fechamento de fábricas na Europa e a demissão de trabalhadores europeus. Além disso, este é um caminho que leva o país a depender das multinacionais ocidentais, a se tornar uma colônia com mão de obra barata para os capitalistas internacionais. As companhias internacionais levarão os lucros da Rússia, empurrando o país à miséria; esta trajetória já foi feita por outros países economicamente dependentes da América Latina, África e Ásia.

No contexto do mundo capitalista, a Avtovaz não pode competir com as montadoras líderes a nível mundial. Também não será com o apoio monetário do Estado a seus patrões que se garantirá a solução. Em primeiro lugar, é uma transação do dinheiro de nosso orçamento para os bolsos dos capitalistas. E em segundo lugar, isto também não salvaria a Avtovaz, já que as injeções monetárias do governo russo são incomparavelmente menores que o apoio monetário dos governos dos países imperialistas às suas próprias multinacionais: 800 milhões de dólares foram desembolsados pelo governo russo à Avtovaz. Esta soma é ridícula em comparação com a ajuda financeira que recebem as montadoras norte-americanas de seu próprio governo, de mais de 800 bilhões de dólares.

Nesta “luta pela sobrevivência” da Avtovaz, aguarda-lhe a morte. Os esquemas propostos pelo governo não resolvem o problema. O objetivo das tranquilizantes palavras do ministro Shuvalov é somente anestesiar os trabalhadores e o povo de Togliatti para que eles não lutem. Enquanto isso, os planos da redução gradual de 30.000 operários são reais e confirmados por outros servidores públicos governamentais. No Fórum de Economia de São Petersburgo, o mesmo representante da fábrica “Avtovaz” falou a respeito da possibilidade de transferência dos trabalhadores da Avtovaz para outras regiões do país.

A única possibilidade de salvar a fábrica é a nacionalização

E não a pseudo-nacionalização em forma de empresas estatais atuais ou a sociedade de ações com o capital estatal. Ditas empresas estatais trabalham por lucros, como comuns e correntes companhias privadas. Portanto aplicarão exatamente os mesmos métodos: reduzir a produção e despedir trabalhadores. É necessário tirar a fábrica da lógica viciosa e mercantil. É necessária uma verdadeira nacionalização, para que o estado tome a fábrica por completo em suas mãos, e em lugar de trabalhar para o lucro da patronal, que o Estado crie um plano de investimentos, postos de trabalho e produção imediata para o povo de automóveis baratos, meios de transporte coletivos, etc. Não há outra saída para os trabalhadores.

O governo de Putin-Medvedev logicamente não concretiza estas medidas, senão leva a cabo a política oposta. Porque eles não governam para os trabalhadores, e sim para os capitalistas e banqueiros russos e ocidentais. Este governo não se preocupa com o povo, mas com os lucros dos proprietários. Deter o curso da destruição da fábrica e fazer retroceder o governo em seus planos, só os trabalhadores podem fazê-lo. A força potencial dos trabalhadores é enorme. As “tranquilizantes” palavras de Shuvalov são um claro sinal de medo do governo frente à possibilidade de os trabalhadores darem uma resposta. E a resposta é extremamente necessária. A liquidação de Avtovaz envolve ao redor de um milhão de pessoas. Por isso hoje é necessário organizar uma ampla campanha na contramão do fechamento da fábrica. Os trabalhadores e as organizações de esquerda, sindicatos, (na linha de frente os sindicatos independentes “Unidade” na Avtovaz e o Sindicato dos Trabalhadores Automotrizes MPRA) devem juntar suas forças em uma campanha unificada pela nacionalização:

  • Nem uma só demissão!
  • Não à redução de salários!
  • Não à entrega da Avtovaz às multinacionais estrangeiras!
  • Pela Nacionalização da Avtovaz!

 

OS CORTES “JUSTOS” DE PESSOAL NÃO EXISTEM

Quando se fala a respeito da redução de trabalhadores da Avtovaz, frequentemente se ouve que isto não é tão mau, porque se pode reduzir os aposentados, os quais, faz tempo, lhes chegou o momento de se retirarem; ou que reduzam o pessoal administrativo, os engenheiros e os trabalhadores qualificados. É possível escutar estas opiniões, inclusive, entre os trabalhadores da fábrica.

Já é lugar comum culpar os trabalhadores aposentados pelos problemas da Avtovaz. Na realidade aquilo que reproduzem os meios de comunicação de massa: “não é mau” e “faz muito que é tempo de se retirar” é uma mentira e uma armadilha. Em primeiro lugar os aposentados trabalham ainda na fábrica porque o governo não lhes garante uma boa aposentadoria.

O aposentado, após ter dedicado toda sua vida à fábrica, não quer sobreviver com um salário estatal de 3.000 a 4.000 rublos ao mês, e por isso se vê obrigado a trabalhar; pois é o mesmo Estado, que ao pagar centavos aos aposentados, obriga-os a trabalhar, e isto é culpa exclusiva do governo.

Em segundo lugar, fazendo cortes entre os aposentados, os patrões não somente reduze pessoal, mas também postos de trabalhos, os quais não passarão às mãos das novas gerações de operários. Por isso os cortes de aposentados devem ser entendidos como somente cortes de pessoal e de postos de trabalho.

Em terceiro lugar, hoje, a demissão de aposentados é um prelúdio à demissão em massa. Caindo na armadilha do “corte justo dos aposentados”, os trabalhadores comuns preparam sua própria demissão.

Do mesmo modo, os trabalhadores não podem cair na armadilha da “redução do pessoal qualificado”. Apesar de possuírem privilégios na fábrica, serem da composição de classe média e frequentemente leais por completo à administração, suas demissões são claros sinais da destruição da companhia. Sem o pessoal qualificado a fábrica não pode funcionar e, portanto, por trás de suas demissões virão outras. Ademais, o pessoal qualificado se chocando com a ameaça das demissões, poderia abandonar finalmente a lealdade aos patrões e gerentes, e desta maneira envolverem-se na luta contra as demissões. Isto é muito importante para a luta dos trabalhadores pela manutenção dos postos de trabalho.

Geralmente se aceita o argumento das demissões justificadas. Isto é também uma armadilha. A única justificativa das demissões é colocar os trabalhadores na rua. Se os trabalhadores não representam lucro, podem ser eliminados. É injustificável a possibilidade de deixar os trabalhadores sem meios de subsistências para si e para suas famílias.

Os operários devem recusar as demissões, sejam “justas”, “fundamentadas” e qualquer tipo de redução de pessoal.

Se os trabalhadores da Avtovaz não puderem barrar as demissões, então um futuro incerto os aguarda. Pois a Avtovaz não serve aos patrões, e o governo, de costas para o povo, aceitou o plano para sua liquidação. Inclusive os “sortudos” trabalhadores que permanecerem na fábrica serão sobrecarregados de trabalho devido à ausência de seus ex parceiros, o que significa aceitar trabalhar mais por menos dinheiro.

Para evitar a possibilidade de ficarem sem meios de subsistência, os trabalhadores devem se unir na luta contra qualquer demissão. Que não toquem em nenhum grupo de trabalho. E para isso há que exigir à direção dos sindicatos, insistentemente, assumir esta luta: Nenhuma redução de postos de trabalho!

 

MOBILIZAÇÃO DOS TRABALHADORES DE AVTOVAZ

 

No último dia 17 de outubro, em Togliatti, a mobilização dos habitantes e trabalhadores da Avtovaz colocou uma série de tarefas, hoje presentes no desenvolvimento do movimento contra a destruição da fábrica. A manifestação mostrou força. O número dos participantes chegou a 4.000. Uma cifra considerável para Togliatti, cidade de 700 mil habitantes. A mesma foi viva e combativa. O tempo todo imperou a exigência de nacionalização da Avtovaz, a única medida possível para salvar a fábrica. Justamente Shuvalov, temendo a mobilização, se viu obrigado a declarar que até o fim de ano não haverá demissões. Isto resultou ser uma pressão para os organizadores da manifestação (O sindicato “Unidade”), para que cancelassem a sua convocação. No entanto ela foi levada a cabo. Por essa razão pode-se interpretar isto como uma vitória.

Mas a manifestação revelou também uma série de contradições. Por um lado, 4.000 pessoas é um número importante. Mas por outro lado, isto não é mais que 4% do número total de trabalhadores da Avtovaz, os quais se encontram sob a ameaça de ser despedidos. Ademais, esta quantidade não superou à da manifestação de 6 de agosto.

Há um fato: por enquanto o movimento envolve somente à vanguarda dos trabalhadores e habitantes. Por isso hoje o grande objetivo é atrair para a luta, a amplas massas, sem as quais não se pode defender a fábrica. Aqui é necessário um trabalho paciente e orientado para o objetivo, sem aventureirismos. Para levá-lo a cabo (como primeira tarefa) é urgente a criação de uma organização com base na vanguarda, a qual já esteja pronta para combater e suficientemente numerosa para começar esta séria tarefa. É necessário começar a construir uma organização de trabalhadores e habitantes de Togliatti com a disposição de não permitir as demissões e que se pronuncie pela nacionalização da fábrica como único caminho de sua salvação.

“Depósito de sucatas”

É exatamente assim que chamam à fábrica, aqueles que querem despedir os trabalhadores e fechá-la. “Que se desfaçam disto e assim vamos viajar em bons carros ocidentais de marca”. Muitos trabalhadores aceitam esta propaganda. Realmente sente-se que os automóveis russos não são grande coisa. No entanto, as ilusões do paraíso da importação de automóveis são impossíveis.

Na realidade nós já passamos por isso. Sob o slogan “vamos mascar um bom chiclete”, o país nos anos 90, esteve aberto aos capitais estrangeiros. Mas o chiclete na URSS realmente também não era grande coisa, e havia em pouca quantidade. A princípio não há nada de mau em desejar mascar um bom chiclete. Mas o problema aparece ao se liberar o país aos capitais ocidentais; mesmo que isto traga bom chiclete, traz muitos problemas. E assim aconteceu. Como resultado da abertura econômica do país, o capital estrangeiro devorou o mercado russo. O fluxo de mercadorias estrangeiras destruiu a indústria russa. Na primeira fila os ramos mais avançados. Ficaram em pé fundamentalmente o petróleo, o gás, outros recursos naturais e a metalurgia…. nas mãos dos oligarcas. O país, que foi antes uma grande potência industrial, se converteu em um exportador de matérias primas, em um forte processo de primitivização de sua economia. Como se diz “não acontece nada, que bom que mascamos!”

A profundidade disto é que a Avtovaz (e outras indústrias, como a de produção de vagões) por causa da proteção estatal, sobreviveu ao turbilhão da restauração capitalista e do fluxo de capital estrangeiro, sendo um dos poucos complexos industriais que ficaram de pé. Mas hoje chegou a sua hora. E de novo prometem-nos um extraordinário “caramelo”. E atualmente, aceitar este extraordinário “caramelo” significa importar automóveis. Essencialmente, não muda nada. Por suposto, desejar viajar em bons automóveis, como mascar um bom chiclete, em princípio não é nada mal. Mas como no começo dos anos 90, a expansão do capital estrangeiro somente trará problemas. O plano do governo para a venda/destruição da Avtovaz trará ainda mais debilidade econômica ao país (não ficará em pé sequer o tínhamos mantido). Aumentará o desemprego, aprofundará o papel da Rússia como o provedor de matérias primas para os países ocidentais, e aumentará a dependência da economia do país das companhias estrangeiras, que somente arrancam lucros da Rússia. Não faz sentido cair na armadilha pela segunda vez.

 

É POSSÍVEL FAZER UM BOM AUTOMÓVEL RUSSO?

 

Nós achamos que a esta pergunta podemos responder com um “SIM”. Pelo menos é possível, em essência, melhorar a qualidade dos automóveis. Antes de qualquer coisa, há que nacionalizar por completo a Avtovaz e seus fornecimentos para que esta fábrica não funcione em base a lucros, mas sim em base à manutenção e necessidades da sociedade na produção, e em condições de completa transparência de sua atividade, (em outras palavras, que o povo controle a fábrica).

O caso é que diretamente na mesma Avtovaz se usa um montão de “porcarias”, com detalhes de má qualidade, as quais se fabricam em oficinas clandestinas de Togliatti e seus arredores, com materiais e máquinas roubadas… da mesma Avtovaz!!!

O controle de qualidade da “produção” não existe. E destas porcarias enriquecem-se as colossais máfias das autopeças. Tornar transparente o circuito dos fornecimentos e provedores solucionará um grande problema. Isto será um passo, a nacionalização não só melhorará a qualidade, como também reduzirá os preços dos veículos. Agora a patronal da Avtovaz usa a recente elevação de impostos para importação de automóveis estrangeiros para formar seu próprio monopólio do mercado interno da Rússia e aumentar ainda mais os preços dos carros da Avtovaz. A nacionalização evitará esta situação. Ademais, no preço dos automóveis não estariam incluídos os ganhos para os patrões e administradores, nem seus colossais salários.

Após a nacionalização da Avtovaz há que elaborar um plano estatal de investimentos e modernização. O governo possui fundos para isso: recentemente deu trilhões de rublos aos banqueiros em crise. Se o governo já destinou 25 bilhões de rublos à Avtovaz, mais 20 bilhões para a compra de automóveis para os servidores públicos do Estado, significa que há dinheiro. Ao todo isto nos dá 1,5 mil bilhões de dólares. E se a isto também agregamos o dinheiro que o governo continua destinando para a compra de títulos de tesouro americano para salvar os EUA de sua crise, e ainda 200 bilhões de dólares ao Fundo de Estabilização, chegamos à conclusão que o dinheiro é mais que suficiente. Enquanto Avtovaz ficar em mãos privadas e se achar encadeada ao circuito capitalista, os fundos destinados a Avtovaz, nas mãos dos patrões, irão para o pagamento das dívidas e para o desmantelamento da produção.

As medidas destacadas, naturalmente, não solucionam tudo, mas, no entanto, são possíveis e realizáveis. A questão é que para a criação de bons automóveis, temos que lutar contra os interesses da patronal da mesma Avtovaz, seus acionistas, os financiadores de créditos, os bancos, as multinacionais estrangeiras e o governo russo.



[1] Grande fábrica russa de automóveis, produtora dos veículos Lada

 

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