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quinta-feira, março 28, 2024

Greves contestam PEC em todo o país

 
Funcionários públicos, enfermeiros, ferroviários, trabalhadores da Galp, Carris, dos hotéis Tivoli e milhares de outros recusam o congelamento dos salários e cortes de direitos.
 
Variantes do famigerado PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento) de Sócrates já foram adotadas por diversos governos europeus com a meta de baixar o déficit das contas públicas para 3% até o final de 2013. Esses planos constituem o mais frontal e violento ataque desencadeado pelos governos burgueses contra as condições de vida das massas trabalhadoras no continente europeu no período posterior à 2ª Guerra Mundial.
 
Do seu receituário constam medidas impensáveis há apenas uma década, como o corte nos salários dos funcionários públicos e nos apoios sociais aos desempregados. O sucesso deste tipo de planos significaria a regressão do Estado Social europeu para os níveis registrados na década de 1930, senão mesmo de antes.
 
No entanto, como não pode deixar de ser, esse ataque está-se a deparar com uma crescente, ainda que até agora insuficiente, resistência por parte das massas trabalhadoras. Por exemplo, na Grécia, só nos três primeiros meses de 2010, ocorreram três greves gerais que paralisaram por completo o país, inclusivamente com repercussão ao nível da televisão e da imprensa escrita. Em Portugal, as lutas ainda não atingiram o nível de outros países, mas têm vindo a crescer depois de um ano de poucas lutas e muito marcado pelo intenso calendário eleitoral.
 
Greves generalizam-se
 
Como exemplo dessas lutas, temos o caso dos enfermeiros que já realizaram duas greves de três dias cada desde o começo do ano, com níveis elevados de adesão (mais de 90%). Outros exemplos são a greve da Função Pública, no início de Março, que vai ser seguida por uma nova jornada de luta neste mês de Abril, a greve dos comboios (que se vai repetir em Abril), a greve dos trabalhadores da Transtejo e de outras empresas de transportes, como a Soflusa; a greve dos trabalhadores da limpeza da Câmara Municipal de Lisboa (com uma taxa de adesão superior a 90%, segundo o sindicato) ou a luta dos trabalhadores da multinacional norte-americana Kemet Electronics, em Évora, e do hotel Tivoli.
 
Esta última é especialmente relevante dado que não se trata de um sector com uma grande tradição de luta e há já muito tempo que não se registrava uma greve desta natureza, apesar da intensa exploração de que os trabalhadores têm sido alvo com salários irrisórios que rondam uma média de 600 euros mensais. Outra luta importante, que foi adiada por recuo do sindicato, mas que pode ser retomada a qualquer momento, é a luta dos trabalhadores das empresas de distribuição, sector onde abunda a precariedade e a superexploração dos trabalhadores. Novas greves já estão agendadas pelos trabalhadores da Carris e da Galp.
 
Outro tipo de lutas que, após algum tempo de calmaria, voltou à ordem do dia têm sido os protestos contra o encerramento dos SAP dos Centros de Saúde como está a acontecer em Valença do Minho. Todas essas lutas têm em comum a recusa em aceitar o congelamento salarial e a perda de direitos definidos pelo Orçamento de Estado e pelo PEC.
 
Para aqueles que se opõem pela esquerda ao governo de José Sócrates, é claro que o caminho não passa por soluções individuais, como as reformas antecipadas, por muito compreensíveis que elas sejam. O caminho passa, sim, pelo reforço das lutas contra as medidas do PEC, seguindo o exemplo dos trabalhadores de outros países europeus.
C.K.
 
Fonte: Jornal Ruptura no. 108, maio/2010
 

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