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sexta-feira, março 29, 2024

Refundação Comunista: último congresso?

Apesar da imobilidade mais absoluta  da Refundação nas praças e nas (infelizmente ainda poucas) lutas por todo o país, pode-se dizer que tudo o que ocorre no interior da Refundação é uma disputa que ferve em torno do Congresso.

As correntes em luta na Refundação 

O IX Congresso Nacional ocorreu em Perugia de 6 a 8 de dezembro. Houve três documentos: o maioria liderada por Paolo Ferrero (o ex-ministro da Solidariedade Social no segundo governo imperialista de Prodi), o de Falcemartello e o de um setor crítico à maioria. Existem ainda as emendas do segundo grupo mais consistente, dirigido por Grassi.

São assim quatro as correntes em luta entre si. Unidas por um horizonte reformista (ou semirreformista no caso de Falcemartello) mas diferentes sob a perspectiva da Refundação, todos estão conscientes de que este congresso poderia ser o último antes de uma explosão de tudo o que resta no partido ou de um colapso por hemorragia.

O congresso se realiza com o número de filiados de 2012: cerca de 30 mil. Um número aparentemente enorme se não o comparássemos com as cifras alcançadas há alguns anos pela Refundação (uns 150 mil) e se não fosse sabido que não se trata de ativistas: tanto que no congresso participarão (não temos ainda os números conclusivos) cerca de dez mil. Destes dez mil, segundo estimativas internas confiáveis, no máximo mil são ativitas, isto é, aqueles que fazem alguma atividade periódica, mesmo que esporádica e pouco mais de 500 que têm uma militância contínua. Falamos de cerca de um vinte avos do que era a Refundação antes dos desastres políticos conduzidos por Ferrero e Grassi.

As lutas entre Ferrero e Grassi e o terceiro documento
 
Nos diversos documentos, inclusive no de Ferrero, que está ganhando nos congressos regionais (no momento 75%, incluídos os votos com emendas dos grassiani), as referências ao comunismo (e consequentemente ao marxismo) não faltam. Falta, no entanto, alguma indicação sobre quais serão os próximos passos da Refundação.

Toda a discussão permanece como que suspensa no ar, porque os mesmos dirigentes de tantas derrotas parecem um pouco atordoados, como pugilistas submetidos a muitos golpes rápidos no ringue, com a esperança de que um gongo indulgente marque o final da luta.

A opção mais clara parece ser a indicada pelas emendas de Grassi (que tem pouco menos da metade dos votos da “maioria”): costurar uma aliança com o SEL (partido Esquerda Ecologia e Liberdade) para ser readmitido de algum modo na centroesquerda. Deseja fortemente a volta da Refundação em algum papel no governo. É a certeza que aquela época não voltará, mas também a esperança que  ainda se possa conseguir um cargo para algum dirigente. Parece talvez impiedosa esta descrição mas é difícil atribuir a Grassi projeto mais elevado que este. A terceira moção procura canalizar um legítimo e amplo descontentamento da base, mas também não se propõe de fato a nada de alternativo no  vago horizonte nebuloso de Ferrero (que é “reconstruir a esquerda da alternativa”) e parece ser (nas intenções implícitas dos dirigentes que a promovem) uma manobra congressual para ganhar posições no futuro grupo dirigente. É isso, mas temperado com uma linguagem mais radical do que faz Ferrero:  muitos reivindicam a “classe”, misturados com as reivindicações à Constituição burguesa e a um não bem definido “comunismo do século XX” que não exclui da foto de família nem mesmo o stalinismo.

O certo é que o documento “intermediário” está limitando fortemente os espaços da posição da Falcemartello, efetivamente distinta da de Ferrero e de Grassi. A “terceira proposta” tem em torno de 15%, a de Falcemartello apenas 10% dos votos.

O semrreformismo da Falcemartello
 
O documento da Falcemartello (Esquerda, classe e revolução) critica com uma retórica eficaz a política reformista que conduziu a Refundação ao atual beco sem saída. Mas o faz reivindicando as clássicas posições centristas, isto é, não revolucionárias e assim não é realmente antirreformista.

Por outro lado, Falcemartello ainda há pouco tempo reivindicava a “oportunidade” da Refundação de Nápoles, no governo de Luigi De Magistris, para dar “uma batalha pela hegemonia”, definindo este governo pretensamente como “neutro” em contraposição aos poderes centrais. Teorizar a existência de governos “neutros” e “condicionáveis” no capitalismo não é pouca coisa para um grupo que se reivindica marxista e ataca a total ausência de marxismo nos outros agrupamentos internos da Refundação. Em todo caso, marxismo à parte, não tem uma posição clara com a qual atacar o governismo da maioria.

Na realidade a Falcemartello está com um pé na Refundação e outro fora. Espera e torce para que Landini se decida a formar um “partido do trabalho” que deveria nascer (segundo ele) de uma ruptura de um setor da Cgil com o PD. Consciente de que a Refundação não durará por muito tempo, o grupo dirigente da Falcemartello procura uma margem mais ampla onde prosseguir pelas próximas décadas a sua atividade infinita de “entrismo” nas organizações consideradas “naturais” do movimento operário. Com a expectativa nos próximos acontecimentos, prossegue, por enquanto, a mesma cômoda rotina no aparato da Cgil.

Cremaschi espera
 
Em torno do congresso da Refundação circula inquieto Giorgio Cremaschi que, depois de ter sido visto roubando de Ingroia nas últimas eleições o papel de candidato unificador de toda a esquerda reformista, agora prossegue com os seus seminários lançando uma nova força para apresentar aos europeus: Rossa, que fará a sua assembleia nacional em meados de dezembro. Mas a única possibilidade de que Rossa nasça como partido é a confluência de pelo menos uma parte da atual maioria da Refundação e portanto uma ruptura dessa última.

Até agora, no entanto, dada a série espantosa de fiascos colecionados nas reuniões de apresentação da Rossa, ninguém parece enstusiasmado a colocar-se nesse novo caldeirão reformista. É mais provável então, salvo precipitações imediatas da disputa interna na Refundação que poderiam mudar o quadro, que Rossa possa atuar como sigla eleitoral, uma cobertura para um setor que vai da Refundação aos stalinistas da Rede dos Comunistas (o grupo dirigente oculto da Usb) passando pelo grupo de Turigliatto (ex-Esquerda Crítica). Mas essa é uma outra história: e não é mais apaixonante que esta.

A nossa proposta aos militantes da Refundação
 
Diante desse cenário miserável, de nossa parte continuaremos a nos voltar aos militantes honestos da Refundação, aqueles que não têm cargos para defender ou ganhar, para que se convencem da necessidade de construir outro partido, revolucionário e internacionalista, e que para fazê-lo precisam em primeiro lugar romper com os Ferrero, os Grassi, os Belloti, etc.

O PdAC, como repetimos sempre, não tem a pretensão de ser o partido que falta: é no entanto um instrumento importante nessa direção, graças à batalha contra a corrente e a acumulação de quadros jovens, determinados e inseridos nas lutas das quais participamos nesses anos em torno de um programa revolucionário, em estreita conexão com a construção, em escala internacional, da principal e mais dinâmica organização revolucionária hoje no mundo, a LIT – Quarta Internacional, que desenvolve um papel de primeira linha ou ainda de dirigente (se pensarmos no Brasil) nas lutas em curso.

Muitos companheiros provenientes da Refundação decidiram entrar nessa semana em nosso partido: tantos outros iniciaram conosco um diálogo. Como PdAC estamos dispostos a dialogar com militantes e com grupos regionais da Refundação.

Estamos convencidos de que a discussão sobre a construção de um partido revolucionário não seja coisa que interessa apenas a nós, mas a todos os trabalhadores e os jovens que militam politicamente para mudar o mundo.

Tradução: Nívia Leão.

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