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sexta-feira, março 29, 2024

Sob protestos, Grécia avança em novo pacote de austeridade

Enquanto primeiro-ministro recebia 'voto de confiança' do parlamento, nas ruas, trabalhadores e a juventude demonstravam seu 'voto de desconfiança'
 
Nesse dia 21 de junho, milhares de gregos foram às ruas e se concentraram na Praça Syntagma, no centro de Atenas, em frente ao Parlamento grego. Havia, porém, muito mais gente atenta ao que se passava no interior daquele congresso, incluindo aí a direção do FMI, do Banco Central Europeu e os governos do restante da Europa. Foi sob esses olhares que os deputados gregos chancelaram o novo ministério de George Papandreou, dando um 'voto de confiança' ao primeiro-ministro 'socialista' e garantindo um passo a mais na aprovação do novo pacote de austeridade.
 
A aprovação do novo pacote é a exigência que o fundo e o banco europeu faziam para que o país pudesse receber a nova parcela de ajuda financeira e continuar rolando a sua dívida pública. Eles exigem a sua aprovação até o dia 29 de junho. Nos dias anteriores, em meio aos intensos protestos de ruas contra o seu governo o primeiro-ministro, do Partido Socialista (Pasok), fez uma série de apelos pela sua aprovação, que incluíram pronunciamento em cadeia de televisão e uma visita pessoal ao congresso.
 
Mesmo com o incisivo apelo de Papandreou pela “unidade nacional” em torno do pacote, a votação desse dia 21 esteve longe da unanimidade. A confirmação do novo governo se deu por 155 votos contra 143. ”Se ficarmos com medo, se jogarmos fora essa oportunidade, a história vai nos julgar muito duramente”, disse o primeiro-ministro, chamando de “oportunidade” o aprofundamento do aperto fiscal que está levando o seu país à beira de um caos social, com desemprego superando os 16%.
 
Crise política
 
Papandreou havia tentado uma manobra política a fim de se equilibrar no poder em meio aos protestos massivos nas ruas e ao desgaste que o seu governo vem passando há pelo menos dois anos. Anunciou a dissolução de seu gabinete e convidou o principal partido da oposição, o direitista Nova Democracia, a conformar um novo governo de “união nacional”. Tal medida, porém, teria como pressuposto a aceitação dos termos do acordo com o FMI e o BCE. A proposta não foi aceita, o primeiro-ministro continuou isolado e o desgaste se aprofunda a cada dia, apesar da aprovação do parlamento do novo gabinete.
 
Papandreou vai tentar aprovar o novo pacote na próxima terça-feira, 28, o que vai significar um novo corte de 28 bilhões de euros (R$ 61 bi), incluindo a demissão de 25% dos servidores públicos, e um pacote de privatizações de 50 bilhões (R$ 110 bi). Tudo isso direto para os cofres dos banqueiros credores do país.
 
Calote
 
Apesar do brutal corte no orçamento, no aumento dos impostos, reformas e privatizações, é praticamente consenso que a Grécia não escapa de uma moratória sobre a sua dívida que equivale a um PIB e meio. A preocupação é nas conseqüências que um calote do pequeno país do mediterrâneo de 10 milhões de habitantes desencadearia no continente e no restante do planeta.
 
Grandes bancos franceses e, principalmente alemães detêm grande montante de títulos da dívida. Só os bancos alemães detêm o equivalente a 24 bi de euros. O maior deles, o Deutsche Bank, tem 1,6 bi de euros. Na tarde desse 22 de junho o presidente do banco central dos EUA, o FED (Federal Reserve), Ben Bernanke, veio a público dizer que um calote da Grécia colocaria em risco a unidade da União Europeia e o equilíbrio das finanças internacionais.
 
A fala de Bernanke é mais interessada ainda, pois se os grandes bancos franceses e alemães estão diretamente envolvidos com a dívida grega, os bancos norte-americanos são os principais emissores de CDS (credit default swaps), espécie de seguro contra calotes, e seriam prejudicados no caso de uma moratória. Mais um golpe na já combalida economia norte-americana, que se arrasta em um crescimento pífio e está longe de superar os efeitos da crise.
 
Protestos continuam
 
Se os deputados gregos deram seu “voto de confiança” ao primeiro-ministro, nas ruas, os trabalhadores e a juventude apresentaram nesse dia 21 o seu “voto de desconfiança”. Cerca de 20 mil pessoas protestaram contra o novo pacote em frente ao parlamento do país.
 
Foi o primeiro grande protesto após a terceira greve geral que balançou Atenas, no último dia 15, e que levou centenas de milhares às ruas. Além disso, na praça Syntagma milhares de jovens estão acampados há pelo menos um mês, inspirados nos movimentos dos “indignados” da Espanha. Para o dia 28 está programado nova rodada de protestos.
 
Fonte: www.pstu.org.br, de 23/06/2011

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