qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Entrevista com Sotiris: “Nos próximos meses, as massas retomarão as lutas”

A página da web da LIT-QI entrevistou o dirigente sindical grego Sotiris Martaris*, que explica a atual situação da luta de classes na Grécia.  
Após uma “pausa de Verão” durante Julho e Agosto, os trabalhadores gregos parecem estar a retomar as suas lutas. Quais são as mais significativas e que constituem um regresso do movimento?
 
As pessoas começam a perceber o que no fundo significam as medidas de austeridade. Preparam-se ainda mais ataques. Houve um pico claro nas lutas de 5 de Maio [data de uma grande greve geral acompanhada de gigantesca manifestação] e as direções sindicais não deram continuidade a esta luta. Nos próximos meses a massa irá retomar as lutas. Porque as medidas atacam muito o setor público e se prevêm múltiplas privatizações na saúde, educação, ferrovias, eletricidade assim como outros, serão estes os setores em que haverá mais combate.

O governo grego foi congratulado pela UE e pelo FMI pelas medidas de austeridade e as parcelas do empréstimo têm sido transferidas no tempo esperado. Crês que o governo Papandreou tem conseguido o que queria até agora? Está contudo, mais fraco desde o anúncio das medidas?

Todo o programa do governo é: “Quem paga a crise? Resposta: Os trabalhadores”. Estas medidas estão planejadas há muito tempo para benefício da classe dominante. Como eu acho que a crise é sistêmica e não apenas conjuntural em função da dívida, ser-lhes-á muito difícil superar isto. A dívida consiste em 300 mil milhões de euros. O PIB cresceu 4-5% ao  ano entre 2000 e 2008, mas ainda assim a dívida hoje é 113% do PIB. Isto acontece porque todos estes anos se diminuiram os impostos dos bancos (atualmente 15%) e das grandes empresas (25%). Outros problemas são a Grécia ser um grande comprador de armas (o 5º maior do mundo) e os Jogos Olímpicos de 2004 em que se gastaram 50 mil milhões de euros. No início foi o choque, depois vieram as lutas. E sim, o governo está mais fraco e isso vai-se refletir na eleições municipais de novembro.

O governo tem condições para aplicar as reformas estruturais e privatizações a que se propõe (saúde, água, electricidade, ferrovias, etc.)?

É difícil dizer agora. Acho que está fraco. Existem problemas profundos no PASOK, tendo já perdido dois deputados que votaram contra o plano de austeridade e foram expulsos. Os trabalhadores e os sindicatos estão contra. Estes últimos têm que ter um plano sólido e constante para o movimento.
 
Quem mais tem capitalizado politicamente com a crise?

Este é o problema, a esquerda não tem capitalizado como devia ser. Está dividida em relação às respostas e as pessoas não veem a esquerda com uma resposta. Podemos dizer que nenhum setor do espectro político, inclusive a direita ou mesmo a extrema-direita capitalizou.

Tem havido reestruturação e dinâmicas signficativas nos sindicatos e movimentos de base?

Foi nossa política formar comitês antiplano de austeridade nos bairros, no trabalho, etc. Isto tem incluído não só a pessoas do Syriza como da base do PASOK, mas eles ainda são pequenos. O grande trabalho é nos sindicatos. É preciso lutas pequenas mas diárias e constantes, e os comitês ajudam nisso. Tem havido múltiplos exemplos de bases sindicais ultrapassarem e pressionarem as direções burocratas, tendo-se já incluse tomado decisões de fazer greve contra as direções. Ainda assim isto tudo não é um fenômeno muito significativo. Pode-se dizer que há fissuras, mas ainda nada quebrou.
 
A juventude, cada vez mais precarizada, consegue organizar-se no mundo do trabalho?

Isto é um grande problema. Fizemos uma grande campanha para sindicalizar estas pessoas. Muitas organizações reformistas eram contra isto, mas progressivamente têm estado conosco. Outra coisa que fizemos foi criar sindicatos. Fizemos um com os distribuidores de Correio, fizemos outro para os trabalhadores temporários do Banco Nacional Grego. Criamos uma escola para imigrantes com 150 professores voluntários para ensinar grego e direitos aos imigrantes. Desenvolvemos campanhas de solidariedade com imigrantes demitidos e conseguimos a readmissão de alguns.

Que programa de classe como resposta à crise?

Isto é uma grande discussão na esquerda e na nossa organização. Temos trabalhado sobre o programa de transição. A ideia é fazer a ponte para um programa socialista. Eis alguns eixos:

– Cancelamento da dívida externa
– Nem um euro para o orçamento de defesa nacional
– Nacionalização dos bancos
– Mais impostos para os ricos e empresas

 
* Dirigente da Federação de Funcionários Públicos da Grécia.

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