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sexta-feira, março 29, 2024

Diante da renúncia de Tsipras e as novas eleições

No dia de ontem, 20 de agosto, Alexis Tsipras, premiê grego e principal dirigente do Syriza, anunciou que vai renunciar a seu cargo e convocar a novas eleições porque “o mandato para o qual fui votado (a negociação com a UE, NdR) já foi cumprido”. Esta decisão é uma clara manobra, típica dos jogos eleitorais-parlamentares da política burguesa.

No mesmo dia veio a público de que a Plataforma de Esquerda tinha rompido com o Syriza para formar a Unidade Popular, com seu próprio bloco parlamentar e apresentando-se em separado nas próximas eleições.

Tsipras e a maioria do Syriza traíram a luta e as aspirações dos trabalhadores e do povo grego ao assinar o recente acordo acerca da dívida externa do país com a União Europeia e os bancos credores. Este acordo contém um brutal plano de ajuste e medidas que implicam uma perda ainda maior da soberania do país, como a privatização dos 14 aeroportos do país e sua entrega a empresas alemãs.

Eles traíram a heroica luta dos últimos anos contra os planos de ajuste anteriores, as aspirações expressadas nas eleições de janeiro passado (que levaram o Syriza ao governo) e, de forma muito clara, o resultado do plebiscito de 5 de julho passado que, por ampla maioria, recusou o acordo com a Troika.

No entanto, esta traição ainda não ficou clara para as massas. Tsipras conseguiu se colocar no lugar de vítima da UE e de Angela Merkel, e diz que conseguiu “o melhor acordo possível” que é “duro, mas salvou o país”. Neste contexto, as pesquisas indicam que ele e o Syriza poderiam conseguir uma votação ainda maior que a alcançada em janeiro.

Esta confusão das massas é possível porque o governo ainda não começou a aplicação do brutal plano de ajuste e privatizações acertado em julho passado. Quando ficar claro o que esse plano representa, o prestígio de Tsipras e do Syriza poderia cair de forma acelerada. Por isso, antecipa as eleições já que depois delas dirá que “tem mandato para aplicar o plano”, tentando assim desmoralizar, dividir e derrotar aos trabalhadores e às massas. Tal como já assinalamos, é uma manobra típica da política burguesa que tem por objetivo manter as massas no terreno eleitoral e não no da luta contra o ajuste e suas consequências.

Nunca apoiamos a este governo. Chamamos a lutar contra ele e a formar uma oposição de esquerda e de classe diante de sua capitulação aos ditames da Troika e às medidas contra os trabalhadores e o povo.
 
Na atual situação, nossa proposta seria o voto a Antarsya, a frente de organizações de esquerda formada em 2008 que mantém uma postura de oposição a Tsipras e seu governo, e se posicionou de forma categórica contra o acordo do governo com a UE. Coincidimos ademais com esta frente em seu chamado a prosseguir as mobilizações contra a “chantagem” imperialista e sua denúncia que não são possíveis acordos dentro da UE, frente à qual propõe a alternativa da ruptura com ela e com o euro.

A Plataforma de Esquerda do Syriza (encabeçada por Stathis Kouvelakis e Pangiotis Lafasanis) criticou duramente o recente acordo com a Troika e seus deputados opuseram-se a ele no Parlamento. Sem dúvida, apesar disso, demorou muito em romper com o governo e com o Syriza. Sua ruptura atual aparece motivada essencialmente por razões eleitorais e a absoluta impossibilidade de saírem nas mesmas listas que Tsipras e a maioria do Syriza. Tal como a criticamos antes por não romper, agora dizemos que deu um passo positivo.

No entanto, essa ruptura não pode ficar só no terreno eleitoral-parlamentar. É necessário formar um bloco de oposição da classe trabalhadora e da esquerda com a nova Unidade Popular, Antarzya e o KKE (chamando-o a deixar de lado seu sectarismo divisionista e autoproclamatório), e os sindicatos para que lute e enfrente nos locais de trabalho e nas ruas, o plano de ajuste de Tsipras-Syriza.

Nesta perspectiva, seria um passo positivo a formação de uma frente eleitoral de oposição de esquerda e de classe junto com Antarsya (a qual poderia somar-se o KKE) e, neste caso, chamaríamos a votar nela. Se essa frente se concretizasse, seria apresentando uma alternativa eleitoral de esquerda à traição de Tsipras, que cresceria em sua influência e em suas possibilidades de impulsionar as lutas, na medida em que o futuro governo de Tsipras comece a aplicar o duríssimo plano de ajuste e privatizações, e os trabalhadores e as massas a enfrentá-lo.

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