Jornalista socialista, pesquisador e
Ao dia 31 de outubro – aos 79 anos – morreu o jornalista revolucionário e es
Fryer tinha se unido à Liga da Juventude Comunista, em 1942, e ao Partido Comunista, em 1945. Juntou-se à equipe do jornal Daily Worker – órgão oficial do PC – atuando principalmente como correspondente no parlamento inglês. Em outubro de 1956 foi enviado à Hungria para cobrir a insurreição. Os informes enviados, que incluíam a brutal repressão das tropas russas sobre as massas húngaras, foram censurados ou diretamente suprimidos pela direção stalinista do PC inglês. Foi expulso primeiro do jornal e depois do PC inglês, "por publicar na imprensa burguesa ataques ao partido comunista" – nas palavras de seus detratores. Seu livro, "A Tragédia da Hungria", foi es
A denúncia do
Os informes de Fryer contrapuseram-se frontalmente à linha oficial do PC, que caracterizava a insurreição húngara como se não passasse de uma contra-revolução, reacionária e fascista. Sobre a revolução que presenciou Fryer afirmou que "não era nem organizada, nem controlada por fascistas ou reacionários, mas pelo povo comum da Hungria: operários, camponeses, estudantes e soldados". Na verdade, Fryer relatou os fatos tal como os encontrou: nem mais, nem menos. Já tinha coberto os prelúdios embrionários da insurreição húngara para o jornal e, após o discurso se
A des
Fryer, a imprensa operária e o movimento trotskista
Depois de romper com o stalinismo – junto a diversos intelectuais e historiadores ingleses, no mesmo período, tais como R. Williams, E. P. Thompson e E. Hobsbawn – uniu-se às então incipientes fileiras do movimento trotskista inglês. Em 1957 editou, junto a Gerry Healy, o jornal The Newsletter – publicado pelo grupo "The Club", transformado depois
Fryer, tornado editor de The Newsletter, promoveu conferências de base destinadas a sindicalistas perseguidos pelo patronato, pela direita trabalhista e pelos "comunistas" do PC. Contudo, Healy centralizou o controle do jornal The Newsletter – tornando-o órgão oficial da SLL, em 1959 -, rompendo desta forma com tais experiências de base, sua natureza suprapartidária bem como com sua estreita relação com a nascente "New Left" (a Nova Esquerda britânica), movimento político-intelectual surgido após as rupturas anti-stalinistas provocadas pelos acontecimentos de 1959 – a invasão soviética à Hungria e a ofensiva anglo-israelense ao Egito – e socialmente alentado pela Campanha pelo Desarmamento Nuclear: galvanizador político-social da esquerda que orbitava fora das zonas de influência trabalhistas e "comunistas". Fryer, após a centralização do jornal, demite-se de seu comitê editorial.
A partir de então passa a se dedicar à mais rigorosa pesquisa historiográfica, no interior da tradição marxista britânica, versando sobre diversos temas acerca das várias relações e formas de opressão social e política no Reino Unido e no mundo. Entre seus principais livros se encontram "Oldest Ally", 1962 (traduzido ao castelhano como "Portugal de Salazar"); "Staying Power: The History of Black People in Britain", 1984 e "Rhythms of Resistance", 2000.
A obra revolucionária e o jornalismo socialista de Fryer
Em seu livro "A Tragédia da Hungria", consta o parágrafo: "'Na República Popular Húngara', diz a Constituição de 1949, 'todo o poder pertence à classe trabalhadora'. Por pouco tempo, neste outono, essa afirmação foi uma realidade. O povo teve o poder e não o abandonou senão depois de uma luta terrivelmente tenaz. A cada dia passado, desde que cessou a luta, vêm à luz notícias que confirmam a principal afirmativa deste livro: que a agitação na Hungria foi o movimento de um povo contra a tirania, a pobreza, a ocupação e a tutela estrangeiras. A revolução foi derrotada, ou melhor, afogada em sangue e enterrada entre escombros e mentiras – mas o movimento continua, tenaz, desesperado, aparentemente inexorável. O proletário industrial da Hungria está demonstrando diariamente, para o mundo inteiro, seu inabalável desafio a um governo fantoche, sustentado por armas estrangeiras, que tem a audácia de se chamar a si mesmo 'governo operário e camponês'. O governo ameaça com demissões, adula, embuste e suborna com ofertas de alimentos, mas os trabalhadores provam que eles são os verdadeiros senhores. Os trabalhadores das minas estão prontos a inundá-las, enquanto os operários das fábricas se recusam a voltar ao trabalho. Preferem a fome e a ruína à submissão. Este é um povo cujo espírito de luta será muito difícil de quebrar."
Após a implosão do WRP – partido trotskista inglês – durante a greve mineira de 1984-5 e a desaparição de Healy do cenário político, Peter Fryer retornou à práxis revolucionária, e recomeçou a es
Exímio jornalista revolucionário, Fryer era um es
"No Brasil, Peter falou aos mineiros em inglês, idioma dos donos e gerentes das minas"
Peter Fryer já era um jornalista e es
A partir dos relatos dessa viagem, ele produziu o livro "Crocodiles in the Streets: a report on Latin America" ("Crocodilos nas Ruas: um relato sobre a América Latina") – ironia que traduz como a maioria dos europeus e norte-americanos imagina os países da região.
O internacionalismo proletário e os possíveis laços com o movimento trotskista na América Latina, bem como seus interesses pessoais – sua filha casara-se com um brasileiro -, levaram-no a realizar a viagem.
Convidamos Fryer a conhecer algumas cidades de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Seu interesse não eram as "exóticas paisagens tropicais" do Brasil, mas sim a genuína intenção de conhecer a experiência e organização do movimento operário brasileiro, em particular os setores mais explorados e lutadores e – em especial – as frentes de trabalho da então Convergência Socialista (principal corrente formadora do PSTU) neste movimento.
O jornalista esteve com os trabalhadores das minas de ouro da cidade de Nova Lima (MG), exploradas por uma multinacional de origem sul-africana. Ali Fryer falou, emocionado, para uma assembléia de mineiros. A mesma categoria havia protagonizado uma grande greve nos anos anteriores, na terra natal de Fryer, medindo forças com o governo de Margaret Tatcher. Ele discursou em apoio aos mineiros em inglês, idioma usado pelos donos e gerentes das minas. Uma experiência inédita para os trabalhadores.
Ele também foi ao Rio de Janeiro – conhecendo tanto os bancários da capital, quanto os trabalhadores da Baixada Fluminense – e passou também por São Paulo. Na Baixada Fluminense, visitou sua filha que morava no Brasil, casada com um trabalhador fluminense, o qual só nessa viagem pôde conhecer pessoalmente.
Como gostava de dizer Nahuel Moreno – dirigente trotskista e fundador da LIT-QI -, é um "tipo humano" que irá deixar saudades.