sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

Revolta em Amiens: Violência e Racismo na Europa do Capital

 
O distrito de Amiens Norte, periferia da cidade francesa de Amiens, centro histórico e turístico de 140 mil habitantes ao norte de Paris, viveu uma madrugada de confrontos, do dia 13 para o dia 14 de Agosto, entre jovens e forças policiais.
 
Amiens é um cidade têxtil que sofre com a perda de industrias. Amiens Norte, em particular, registra uma taxa de desemprego de 45% (da qual dois terços é de jovens) em uma universo de 16 mil habitantes [1] . Somando-se essa realidade à forte presença, entre a juventude do local, de filhos de imigrantes africanos, os violentos episódios revelam a política brutal dos governos europeus para com os setores oprimidos no velho continente. Algo que é histórico e que tende a se agravar na medida em que insatisfação e a resistência da classe trabalhadora crescem em um contexto de crise econômica mundial.

Os conflitos irromperam em resposta a uma ação de controle policial ocorrida no momento do funeral de um jovem, vítima de um acidente de motocicleta. A população dos arredores reagiu, legitimamente, a uma medida que considerou excessiva. Porém, qualquer observador mais atento sabe que os motivos reais são mais profundos. Mohamed, de 18 anos, filho de malienses, reclamou de “opressão da polícia fascista” e de “permanentes controles de identidade”[2]. Isso demonstra que os abusos policiais na região constituem um mal cotidiano que, por sua vez, remete a gravíssimos problemas sócio-econômicos e étnico-raciais, a saber: o desemprego, a falta de oportunidades, o sucateamento da educação pública, a violência e o racismo.
 
Os órgãos da imprensa burguesa mundial noticiam aterrorizados as cenas de jovens enfrentando a policia com pedras nas mãos, incendiando automóveis e o ferimento de 16 agentes numa tentativa de reduzir os fatos a mero “radicalismo juvenil” ou simples “atos de vandalismo”. Mas o que não tratam com clareza é uma violência muito maior, a violência da Troika (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional)  que impõe um aprofundamento dos cortes sociais e dos planos de austeridade, escolhendo “a dedo” os governos mais duros para aplicá-los. Nesse sentido, a repressão e a violência de Estado adquirem uma outra dimensão no seio da luta de classes europeia e mundial.

Não por acaso, o atual presidente francês, o “socialista” François Holland, respondeu ao episódio não reconhecendo suas causas sociais, mas enviando seu ministro do interior Manuel Valls à cidade para comunicar que “o Estado mobilizará todos os seus meios para lutar contra essa violência” ou ainda declarando que “ninguém pode desculpar quem atira contra policiais, contra as forças da ordem e queima bens públicos. A lei, a ordem republicana e a justiça devem retornar ao seu lugar aqui, em Amiens[3]. As forças “da lei e da ordem republicana” não são outra coisa que as forças da Europa do capital contra o povo pobre e trabalhador, nesse caso em especial, contra o povo negro, pobre e trabalhador.

{module Propaganda 30 anos – MULHER}Durante anos, o nível de vida diferenciado da classe trabalhadora europeia serviu de exemplo para todo mundo, vendendo a falsa ideia de que o sistema capitalista poderia ser próspero para todos. Hoje, com a crise econômica, essa ideia vem caindo por terra, uma vez que estão sendo destruídos os últimos resquícios do chamado “Estado de bem estar social”. Porém, esses anos de prosperidade econômica do pós-guerra esconderam contrastes importantes. Não só o crescimento econômico das potências capitalistas às custas de altos níveis de exploração dos trabalhadores dos países pobres da periferia do sistema, mas também a superexploração dos trabalhadores imigrantes no interior do próprio continente. E se hoje o conjunto da classe trabalhadora na Europa é atacado, mais ainda o são os imigrantes, principalmente árabes e africanos. A xenofobia, a discriminação e o racismo nada mais são do que ideologias usadas pela burguesia e pelo imperialismo para aumentarem suas taxas de lucro e dividirem a classe trabalhadora, que passa a protagonizar importantes lutas no mundo inteiro. Atualmente, uma expressão preocupante dessa ideologia foi a projeção eleitoral do partido fascista grego Aurora Dourada, que obteve 6,9% dos votos, o que corresponde a 18 cadeiras no parlamento.[4]

Nós, da LIT-QI, estamos ao lados dos jovens de Amiens, assim como de todos aqueles que se levantam contra a opressão, o racismo, o desemprego e os efeitos nefastos da crise econômica internacional. Defendemos que somente a mobilização independente e a união de todos os trabalhadores, independentemente de sua origem, imigrantes ou não imigrantes, podem vencer essa situação que empurra nossa classe ao abismo. É a serviço dessa tarefa que construímos nossa a organização, a tarefa da Revolução Socialista Internacional.







[1] Portal El país, 14.08.2012.


[2]AVIGNOLO, María Laura. Amiens, la ciudad golpeada por el estallido social que inquieta a Francia. Clarín, 16.08.2012

[3] Portal O Globo, 14.08.2012
 

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