ter mar 19, 2024
terça-feira, março 19, 2024

Mobilização de 5 de dezembro: um teste para transformar!

A perspectiva de um movimento massivo envolvendo diretamente o mundo do trabalho.

O número de manifestantes é o dobro ou o triplo em relação ao das “grandes” mobilizações dos últimos dez anos, 806.000 pessoas de acordo com o governo a até o dobro disso de acordo com os sindicatos.

Por: Tendência Alternativa Revolucionária Comunista do NPA – França

As taxas de grevistas eram a maioria em vários setores: SNCF, RATP, Educação… Elas também foram importantes em algumas empresas como a EDF (44% do pessoal em greve). O impacto na economia e no mundo do trabalho também foi sentido por conta das ações de bloqueio: sete das oito refinarias francesas e doze depósitos de petróleo foram bloqueados.

A greve foi renovada na SNCF, na RATP, na Air France, na Biblioteca Nacional da França, em um certo número de escolas e em alguns lugares a eleição de Comitês de Greve e Assembleias Gerais (AG) interprofissionais com um número de participantes que podem constituir uma massa crítica de treinamento para convencer os trabalhadores que hesitam em se engajar na luta contra a Reforma da Previdência ou até mais.

Essa batalha ocorre cerca de um ano após o surgimento do movimento dos Coletes Amarelos que reorganizou as cartas e restaurou a confiança de muitos que não acreditavam mais na força da luta coletiva e na capacidade de vencer, depois de anos de reveses sociais. Os Coletes Amarelos mostraram que poderíamos fazer – um pouco – recuar o poder, e principalmente assustar os poderosos, com a condição particular de mostrar determinação e radicalidade. Desta vez são os sindicatos, cujas direções são frequentemente criticadas duramente – pelos Coletes Amarelos, mas também frequentemente por suas próprias bases – que dirigem o movimento que se inicia. Os Coletes Amarelos, a maioria dos quais inicialmente pensavam que poderiam derrotar Macron dispensando as estruturas sindicais, decidiram se envolver na perspectiva de uma greve geral ilimitada a partir de 5 de dezembro e participar do movimento de todas as formas possíveis. Em um ano, as relações entre sindicatos e Coletes Amarelos melhoraram bastante, o que permite essa reaproximação, apesar da desconfiança em relação às diretorias das Confederações.

Ontem, 5 de dezembro, vimos uma forte participação de grandes batalhões sindicais, especialmente a CGT, mas também é verdade (em menor grau devido aos números) do Solidaires e Force Ouvrière. Ontem, houve mais de 2000 chamados de greve em toda a França, todos os setores e todas as centrais sindicais combinadas.

Mas é necessário, pelo menos em muitos lugares, derrotar a pequena guerra conduzida pelas boutiques (lojas) sindicais, para fortalecer a greve mais próxima dos coletivos de trabalho. Por exemplo, em Brest, a burocracia da CGT optou por favorecer uma procissão massiva da CGT no evento, em vez de permitir que colegas das mesmas empresas e administrações se encontrassem ombro a ombro. Claramente, estamos testemunhando a vontade dos aparatos sindicais de manter o controle do movimento para que a greve não lhes escape.

Um exemplo concreto e muito lamentável da busca por hegemonia se verifica com a dupla manifestação programada para o sábado, dia 7, em Paris. Por um lado, os Coletes Amarelos, por outro, aquele organizado pela CGT… após o primeiro, e não programado para convergir com o primeiro. Podemos ver aqui que, apesar da melhora no relacionamento Coletes Amarelos/ sindicatos, ainda há um longo caminho a percorrer…

Para permitir que a greve se espalhe e faça recuar o poder, é necessário trabalhar para a convergência das lutas e fazer dela uma greve intersetorial. É também uma maneira de nivelar pelo alto os diferentes níveis de conscientização e combatividade entre os setores. Essa necessidade é bem compreendida pela maioria dos grevistas dos setores mais avançados (RATP e SNCF), que frequentemente pedem, em suas assembleias gerais, a intervenção de grevistas de outros setores. Por exemplo, no segundo dia da greve, e a pedido deles, os grevistas de Paris-Est buscaram e obtiveram o apoio militante dos grevistas da RATP, do hospital próximo (St Louis), do setor cultural e Educação Nacional em greve. É claro que é necessário multiplicar essas trocas e o apoio mútuo entre os setores.

Mas também é necessário para escapar à vontade dos líderes sindicais de controlar o movimento – aqueles que lideraram as lutas de derrota em derrota por anos – multiplicar as estruturas da auto-organização: assembleias gerais soberanas, eleições de comitês de greve  responsáveis frente às Assembleias Gerais e revogáveis, para ir a um comitê central de greve em cada setor em luta e ao nível interprofissional. Esta é a perspectiva que deve ser dada. Mas, nesta fase, ainda é necessário massificar o movimento para garantir que os grevistas da quinta-feira 5 que retomaram o trabalho no dia 6, voltem a atacar novamente nos dias 9 ou 10, e desta vez eles permaneçam em greve. Isso é perfeitamente compreendido pelos setores ativistas mais avançados e mobilizados, na SNCF, RATP, Educação, etc.

Os líderes sindicais se reuniram nesta manhã (6/12) e decidiram por um novo avanço na terça-feira dia 10. É absolutamente necessário, em todas as Assembleias Gerais da greve e nas estruturas sindicais, pressionar as direções para garantir o chamado à greve ilimitada. É claro que a liderança sindical majoritária está recusando isso, mas ainda deve ser exigido deles – assim como é necessário exigir deles que eles exijam claramente a retirada definitiva do projeto Macron-Delevoye, e que eles se recusem categoricamente a participar do simulacro da “Concertação”. Também devemos criticar tudo o que vai na direção oposta em seus discursos e atitudes. E isso não é contraditório, mas complementar, com ênfase na auto-organização da luta.

O desenvolvimento da auto-organização é, portanto, uma necessidade na qual devemos insistir, especialmente para impedir a lógica divisionista dos pequenos e grandes aparelhos. Mas o desenvolvimento da democracia de base é, no entanto, cheio de dificuldades, incluindo:

– a falta de hábito de estruturas coletivas de tomada de decisão, o que leva a definições pouco claras de reivindicações e ações (ou simplesmente a dificuldade de tomar decisões coletivas devido à tendência a delegar, numa atitude não-militante etc.);

– a dificuldade, em muitos lugares, de ter locais de tomada de decisão coletivos; e muitas vezes devemos denunciar a responsabilidade sindical nesse ponto (recusas não admitidas, como a “Manobra” em Brest, por exemplo)

– falta de hábito das práticas de um movimento rígido: em particular, organizar equipes rotativas em estabelecimentos e empresas, enquanto há anos os trabalhadores estão acostumados a esperar por palavras de ordem sindicais e consignas para entrar em manifestações, as ordens vindas “de cima”;

– a falta de hábito de sintetizar entre diferentes níveis de maturidade política: algumas plataformas da Assembleia Geral avançam múltiplas reivindicações ou avançam politicamente muito, enquanto estamos em uma fase do movimento em que devemos centralizar o foco em lutar contra a retirada pura e simples da Reforma, que não impede evocar uma articulação com as demais reivindicações, nem mesmo um projeto político, desenvolvendo, de maneira mais propagandista, a ideia de que um grande movimento permitirá estender as aspirações além das aposentadorias, mas que é necessário mobilizar-se inicialmente com o slogan da retirada para envolver o máximo de pessoas na batalha;

– a necessidade de criar caixas/fundos de greve e circular para preenchê-los o mais rápido e o mais amplamente possível.

A esse respeito, a questão dos fundos de greve aparece tanto como uma necessidade para apoiar os setores mais mobilizados, mas também oculta uma contradição: não se pode deixar que doar dinheiro para apoiar a greve dos outros setores leve ao impasse de uma greve por procuração. Esse foi particularmente o caso em 1995, quando trabalhadores do setor privado apoiaram (em pensamento e financeiramente) a greve do setor público. A existência de bancos de greve deve ser apresentada para dar confiança aos colegas que relutam em se envolver em uma greve forte.

Concluindo, lembremos os eixos principais do que nos parece uma orientação correta no estágio atual. Continuar a convencer e massificar a greve; trabalhar para a convergência de lutas e setores mobilizados; continuar a chamar as lideranças sindicais a exigir que rompam publicamente com o diálogo social e se engajem em um braço de ferro ao nível do conjunto dos setores da economia, para bloquear e meter no lixo o projeto Macron-Delevoye.

Além disso, devemos explicar repetidamente que a tentativa de Macron de reter nossas aposentadorias e atrás dele os capitalistas franceses – que querem transformar a França em uma sociedade puramente ultraliberal, mas para quem ela não será nunca liberal o bastante! – é todo o capitalismo que deve ser jogado no lixo, rompendo-o para substituí-lo por uma sociedade e uma economia solidária e ecologicamente viável, animadas por um poder democrático dos trabalhadores e trabalhadoras.

Tradução: Reinaldo Chagas

 

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