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sexta-feira, março 29, 2024

França | O que fazer para conseguir a retirada da contrarreforma da previdência?

Este artigo foi escrito um dia antes do primeiro ministro Edouard Philippe explicar oficialmente a reforma. Em sua aparição, ele demonstrou a vontade do governo de não retroceder em nenhum ponto importante, o que levou a inflamar os ânimos da população. Ao mesmo tempo, as direções sindicais chamaram um novo dia de ação em 17 de dezembro.

Por: Tendência Alternativa Revolucionária Comunista do NPA

O êxito do 5 de dezembro

O dia 5 de dezembro foi um grande dia de mobilização, com mais de 800.000 manifestantes de acordo com o governo e mais de 1,5 milhão de acordo com a CGT. Este dia estava preparado há muito tempo: na verdade, foi impulsionado pelos trabalhadores da RATP, que, fortalecidos pelo sucesso da greve de 13 de setembro, forçaram seus líderes sindicais a convocar a greve indefinida de 5 de dezembro, enquanto a liderança das confederações e de muitos sindicatos não planejara nada seriamente para lutar contra essa reforma e passava seu tempo nas salas de negociação com o governo. Depois, esse chamado foi retomado em muitos setores, o que levou as principais confederações sindicais a convocar “um” dia da greve em 5 de dezembro.

A estratégia das lideranças sindicais leva diretamente à derrota

Em vez de confiar na greve ilimitada da RATP para chamar tod@s os trabalhador@s a uma greve ilimitada a partir do dia 5, a única estratégia viável para conseguir a retirada da reforma, os líderes sindicais tentaram canalizar o “todos juntos” para um único dia de ação, sem anunciar nenhuma continuidade. Eles também se recusaram a exigir a retirada do projeto do governo e continuaram a negociar com ele. O comunicado até se vangloriava de ter tido 22 reuniões com o governo! 22!

Apesar do grande êxito do 5 de dezembro, os líderes sindicais se recusaram a convocar grandes manifestações no sábado com os Coletes Amarelos, mantendo o “cordão sanitário” (barreira, ndt) do movimento operário organizado com os Coletes Amarelos. O aspecto simbólico de tal chamado teria sido forte, mostrando a toda essa faixa do proletariado que se reconhece no movimento dos Coletes Amarelos e é muito precária e/ou isolada para participar dos dias de greve, que foram levados em consideração. Como resultado, as manifestações no sábado, 7 de dezembro, foram muito fracas. No entanto, havia um verdadeiro desafio nessa convergência: reunir coletes amarelos e grevistas para montar ações para bloquear a economia e aumentar a pressão.

É claro que hoje as direções sindicais continuam propondo a estratégia que nos levou a derrotar tantas vezes, como durante a mobilização contra a Lei Trabalhista em 2016 com dias de mobilização isolados, ou como durante a mobilização ferroviária contra a fragmentação da ferrovia em 2018, com a greve intermitente. Hoje multiplicam dias de ação dispersos até o esgotamento das forças, enquanto deixam os setores mais avançados sozinhos fazendo a greve reconduzível. Como esperado, as manifestações de terça-feira, 10 de dezembro (e a participação na greve) foram mais fracas que as do dia 5.

Os meios de comunicação estão felizes em falar sobre a desaceleração do movimento, o que, é claro, pode ter um efeito. negativo no moral dos grevistas. Mas quando comparamos a preparação do dia 5 e do dia 10, entende-se que os números do dia 10 atestam a enorme determinação d@s trabalhador@s em certos setores em construir esse movimento, apesar da preparação deficiente das direções sindicais. .

O enfrentamento com o governo será duro, muito duro, e é necessário estar à altura das circunstâncias. Os dirigentes sindicais devem fazer um chamado claro, para não deturpar, que não deixe as portas abertas à negociação com um governo a serviço da patronal. O argumento de Martínez [secretário-geral da CGT] para discutir com o governo é que ele falará sobre as propostas da CGT para um sistema de aposentadorias mais justo. Vamos impor a retirada e a CGT pode, então, falar de suas propostas e conseguir uma vitória histórica.

No entanto, a mobilização massiva e determinada de todos os trabalhadores pressupõe que eles não tenham dúvidas de que a reforma não pode ser modificada em um sentido favorável. O que significa, por sua vez, a quebra de todos os acordos.

Solidaires: energética na base e seguidista das outras direções sindicais nas alturas

Em um certo número de setores, como SNCF ou Educação, a Sud / Solidaires defende uma orientação melhor do que as outras direções sindicais, favoráveis ​​desde o início da greve reconduzível e com uma base militante muitas vezes mais enérgica e determinada. No entanto, deve-se notar que a direção Sud / Solidaires não oferece uma alternativa real à política das outras direções sindicais. A Sud / Solidaires assinou todos os comunicados de imprensa da Intersindical Nacional, endossando, na prática, a orientação dos demais, em particular a ausência da exigência básica de retirada da contrarreforma.

Sem deixar de buscar acordos práticos com outras organizações sindicais, Sud / Solidaires deveria marcar seu desacordo com a linha da Intersindical e, em seguida, propor à CGT, FO, FSU, romper com esta estratégia desastrosa: exigir a retirada total do projeto, a ruptura dos acordos e um apelo claro à greve geral até a retirada. Isso proporcionaria um ponto valioso de apoio aos ativistas da oposição de outros sindicatos e, em geral, aos trabalhadores de base. Além disso, o Sud / Solidaires deveria lutar em todos os setores para criar comitês de greve e por sua coordenação, em direção a um comitê central de greve, em cada setor e em escala interprofissional. A batalha está longe de terminar e os ativistas do Sud / Solidaires que compartilham essa ideia ainda podem defendê-la e fazê-la ter sucesso internamente. Isso ajudaria a fazer mudar a situação.

Nada está decidido ainda: os trabalhadores de base estão determinados a vencer e a auto-organização avança

No entanto, o jogo está sendo jogado. De fato, 5 de dezembro desencadeou uma dinâmica positiva de auto-organização e fortalecimento dos laços interprofissionais. Na RATP e na SNCF, comitês de greve foram criados para construir a greve. As Assembleias Gerais Interserviços foram organizadas para evitar o isolamento e decidir em conjunto reconvocar a greve. Cinco dias após o seu início, ainda é massiva na RATP e na SNCF, graças à base, apesar das políticas das direções sindicais, em particular a da UNSA, que solicita emendas à contrarreforma para se retirar da greve. Na educação, a greve foi muito importante em 5 de dezembro.

Foi novamente no dia 10, especialmente no ensino médio, apesar da manipulação de números do governo (que faz seus cálculos contando como “não grevistas” aos professores que não trabalham no dia da greve ou a quem está de licença por doença). Existem também os elos que são tecidos entre os setores profissionais. Assembleias Gerais Conjuntas são realizadas, ações comuns são montadas, como bloquear depósitos de ônibus, com o objetivo de estender a greve. O movimento também está tentando se desenvolver na juventude, apesar da repressão e do fechamento preventivo dos centros universitários (como Tolbiac desde o dia 2 ou Le Mirail nos dias 5 e 6). Em Lille, por exemplo, os estudantes convergiram massivamente na terça-feira, 10 de dezembro às ruas. Em Toulouse, uma Assembleia Geral de estudantes de Mirail reuniu mais de 700 na segunda-feira, 9 de dezembro.

Em outras palavras, uma ampla vanguarda de trabalhadores está construindo a greve e desenvolvendo órgãos auto-organizados, diante da estratégia das direções sindicais que negociam com o governo e se recusam a convocar uma greve ilimitada, bloquear a economia e a organizar tudo isso.

Os anúncios iminentes de Edouard Philippe podem reacender a mobilização

Muitos trabalhadores estão agora na reserva e ainda não estão prontos para realmente entrar na batalha. Nas refinarias, nos portos da EDF, um número significativo de trabalhadores entrou em greve na terça-feira 5 e quinta-feira, 10 de dezembro. Eles perguntam sobre a continuidade. Este é um momento expectante em muitos setores. Isso se deve, em parte, aos resultados da continuidade das negociações, que criam a ilusão de que seria possível influenciar satisfatoriamente a reforma de Macron.

Também se deve, em parte, ao resultado de dúvidas sobre a possibilidade de derrotar Macron, principalmente com a estratégia das direções sindicais. Os anúncios de Edouard Philippe, que concretizarão o “relatório Delevoye” em um projeto real do governo, poderiam servir de gatilho e convencer os trabalhadores a iniciar uma greve reconduzível. Será necessário analisar em detalhes o comparecimento da quarta-feira à noite.

Construir uma direção democrática da greve

Outro desafio para intensificar a mobilização, bem como garantir que são os próprios trabalhadores que dirigem sua greve, é estabelecer uma direção de greve que realmente emane da base e represente sua vontade. Isso leva tempo e temos pouco. É por isso que devemos avançar rapidamente: nos setores mais avançados, RATP e SNCF, devemos estabelecer o objetivo de organizar um máximo de comitês de greve, e que estes enviem delegados para constituir uma coordenação nacional de greve, que será a direção legítima da greve.

Se essa direção fosse formado na RATP e na SNCF, e se dirigisse às direções sindicais para chamá-los a que convoquem o conjunto de trabalhadores para a greve ilimitada até a retirada da contrarreforma, teria um alcance político considerável. E daria força a todos os trabalhadores para entrar na greve, sacudiria as direções sindicais intermediárias e desencadeando uma dinâmica que varreria os burocratas.

A auto-organização deve primeiro ser construída setor por setor, antes de ser intersetorial. Embora os embriões de coordenação intersetorial devam ser estabelecidos agora, precisamos estar cientes de que eles só terão legitimidade se forem baseados em uma auto-organização setorial real. Não devemos nos opor a um e ao outro, mas devemos saber que um só faz sentido se o outro for forte.

A força dos trabalhadores é a greve, mas também sua capacidade de se organizar para decidir seu futuro e garantir que suas demandas prevaleçam. Primeiro, isso nos permite sentir claramente nossa força coletiva, perceber que não precisamos de instituições políticas ou sindicais para nos representar e ter plena consciência de pertencer ao mesmo campo na luta contra o governo e patrões. Também permite derrotar a política das burocracias sindicais, cujo papel central é evitar qualquer movimento que seja muito duro e que ameace a ordem social, enquanto negocia algumas migalhas que o governo pode querer dar a eles para não desacreditá-las demais aos olhos dos trabalhadores. As altas direções dos aparatos sindicais estão institucionalizadas demais para serem verdadeiros representantes dos trabalhadores.

Podemos ganhar: bloquear a economia para forçar Macron a retirar sua contrarreforma!

Macron não poderá enfrentar uma greve em massa que bloqueie a economia. Ele será forçado a ceder e seu mandato terminará. Já não poderia mais causar mais danos porque estaria sob vigilância de trabalhadores fortalecidos por sua vitória. Essa vitória iria muito além da vitória contra a reforma previdenciária: reverteria a relação de forças. Mostraria que a dinâmica empreendida desde 2016 finalmente atingiu a maturidade completa. Esta é uma aposta central para ganhar, graças a este movimento.

Existem setores (como transporte, refinarias etc.) mais estratégicos do que outros, porque a interrupção do trabalho tem consequências imediatas e tangíveis. Mas para vencer, precisamos de uma greve que vá além desses setores. Por um lado, porque os setores mais estratégicos precisam que outros se juntem a eles para manter a vontade de resistir. Por outro lado, porque o governo poderá reprimir setores estratégicos isolados, separando-os dos outros trabalhadores, enquanto não poderá fazê-lo se a greve for generalizada.

Portanto, aqueles que estão em setores de produção menos centrais têm um papel fundamental a desempenhar: ao interromper o trabalho e entrar em greve tiram os outros setores de seu relativo isolamento e ajuda a criar uma situação política insustentável para Macron .

Mais do que nunca, precisamos levar debates estratégicas e a necessidade de auto-organização ao movimento, mas também, é claro, tomar todas as iniciativas concretas para construí-lo e expandi-lo. É unindo os trabalhadores de todos os setores na greve e nas ações de bloqueio que Macron e sua contrarreforma podem ser derrotados.

Escrito por Gaston Lefranc (Alternativa Revolucionária Comunista do NPA)

12 de dezembro de 2019

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