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sexta-feira, março 29, 2024

Vox: o auge da ultradireita sem complexos

Em um de seus poemas imortais, Machado fala das duas Espanhas. A Espanha da direita teve sua melhor representação na foto da manifestação de Colombo, onde o trio da PP-C’s-Vox (acompanhado por grupos explicitamente fascistas) encenou sua proposta. Neste setor a novidade é o rápido crescimento do Vox, amplamente apoiado pela mídia.

Por: Manuel Cid

O PP de Casado-Aznar, angustiado pela perda de votos para a Vox, aproxima-se cada vez mais do perfil deste. Sem conseguir deter a sangria do PP, aviva o Vox, que adota posições cada vez mais provocativas.

A “España viva” do Vox escava na cova, na parte mais viscosa e repugnante da sociedade espanhola. Estimula a reação machista de um setor social que se sente ameaçado em seus privilégios pela luta pela igualdade das mulheres; busca o voto sombrio da Espanha clerical contra o direito ao aborto; incita à xenofobia e ao racismo contra os trabalhadores imigrantes; incita ao ódio contra os catalães e, apelando para a defesa da unidade espanhola sacrossanta, chamam a suspender a autonomia, ilegalizar os independentistas e deter a Torra. Reivindica o regime de Franco e a impunidade de seus crimes. É o bando do “Viva Espanha, viva o rei, viva a ordem e a lei” que até ameaçou com a ilegalização das organizações marxistas. São os amigos de Trump e Netanyahu, de Bannon e Salvini.

Embora o Vox tente se apresentar como uma nova opção, na verdade, vem de longe. É, em primeiro lugar, a divisão do setor mais “ultra” do PP. Não por coincidência, seu líder, Santiago Abascal, não é conhecido em nenhuma outra profissão do que viver das “mamandurrias” – privilégios. Aos 23 anos já era vereador, também foi presidente das Novas Gerações do PP e parlamentar basco. Aznar patrocinou uma fundação de extrema direita liderada pelo Abascal, convenientemente regada com centenas de milhares de euros públicos. Quando Abascal ficou sem uma cadeira parlamentar, Esperanza Aguirre o resgatou, nomeando-o para a agência de proteção de dados e depois para uma fundação de atividade desconhecida.

Em um contexto mais amplo, a emergência do Vox não é compreendida sem olhar para trás na transição. Com isso, selou a impunidade dos criminosos da ditadura de Franco, que permaneceram em suas posições de poder no aparato estatal, como o judiciário, as forças policiais ou o exército. Estes são os generais de Franco que agora engrossam as listas do Vox. Listas adubadas, além disso, com neonazistas de distintas naturezas e ex-funcionários do Partido Popular.

Como combater o Vox?

Compartilhamos o sentimento de preocupação que foi ampliado pelo auge da formação de extrema direita. No entanto, não deixa de nos causar perplexidade que alguns queiram culpar aqueles que não votam no PSOE ou Podemos por sua ascensão. Em primeiro lugar, concentrar o combate à extrema direita na esfera puramente eleitoral é uma armadilha. É jogar as cartas com o baralho marcado.

Ou o Vox não é um produto do regime monárquico de 78? O mesmo que criou os regulamentos legais e eleitorais.

Mas mesmo se apegando ao eleitoral, a barreira contra a extrema direita é apoiar o PSOE? Os mesmos que se alinharam com a direita contra a Catalunha, para reformar a Constituição a favor dos bancos ou para fazer contrarreformas trabalhistas… O Vox entrou em primeiro lugar na Andaluzia, na principal fortaleza do PSOE. Não parece uma coincidência. Os resultados das eleições mostram que o boom do Vox não se deveu tanto a um aumento no número de votos para os partidos da direita, mas à desmobilização devastadora do voto operário e da esquerda. Ou seja, a força do PSOE, em vez de formar uma parede contra eles, colocou um tapete vermelho para o Vox.

Para nós, a única vacina eficaz contra a extrema direita é o impulso da mobilização e a organização operária. Isso começa com desenvolver as lutas dos trabalhadores e defender os serviços públicos, passa para levantar a unidade de ação com a classe trabalhadora imigrante, pela incorporação das reivindicações de igualdade das mulheres, mas acaba construindo uma alternativa a este regime, através de um processo constituinte de base popular, que permite exercer o direito de autodeterminação às nacionalidades.

Tradução: Lena Souza

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