qui abr 18, 2024
quinta-feira, abril 18, 2024

O governo Sánchez não merece nenhuma confiança. É necessário construir uma força de oposição operária e democrática

Os primeiros 100 dias do governo do Partido socialista Operário espanhol (PSOE) chefiado por Pedro Sánchez já foram concluídos. Foi anunciado como o governo da mudança e, de fato, tem sido assim: em apenas três meses, suas promessas foram dissolvidas e “onde disse digo, digo Diego” [1].

Por: Corriente Roja

Quando se chega ao governo, há duas opções: ou se governa para aqueles que mandam, a grande patronal e a Europa do capital, ou o faz para a classe trabalhadora. Ou se defende os direitos democráticos, incluindo o direito à autodeterminação, ou se atua como testa de ferro para a monarquia.

Não há mais caminhos. E o governo de Sánchez tem bem nítido seu papel, como Zapatero havia feito antes: nunca irá além dos limites estabelecidos pela União Europeia (UE), os grandes do IBEX 35[2] e a Monarquia e será obediente a seus ditames.

Portanto, eles não relutam em desdizer as promessas que fizeram quando eram leal oposição. Mas não cumprir o que prometeram tem consequências muito graves para os trabalhadores e trabalhadoras, a juventude e os setores mais pobres. Manter as infames reformas trabalhistas em vigor permite, entre outras coisas, que 304.000 empregos sejam abolidos em um único dia; que os salários continuem a cair de acordo com as eventualidades, dos contratos de tempo parcial e das horas extras forçadas que não são pagas.

Explica o drama de milhares de famílias afetadas por despejos, que continuam ocorrendo, chegando a 164 por dia.A covardia e a dupla linguagem marcam a fogo os líderes do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). Aqueles que iam revogar a Lei Mordaza, agora que podem fazê-lo, se recusam. Aqueles que encheram suas bocas com a política de imigração e “o exemplo” do Acquarius, em apenas alguns dias, deram o espetáculo infame da expulsão dos 116 migrantes em Ceuta. Viriam para normalizar a Catalunha, mas os presos políticos ainda estão presos e eles nem ousam ordenar que o Ministério Público retire a acusação de rebelião, que todos sabem que nunca existiu.

E quando Torra levanta a retórica (porque daí não passa), Sánchez lhe lembra o 155. (O artigo 155 da Constituição tem que ver com as vias do governo do Estado para controlar a atividade das Comunidades Autônomas).E, no entanto, nada disso é um obstáculo para que os dirigentes de Unidos Podemos e da burocracia sindical da CCOO-UGT (Comissões Operárias-união Geral dos trabalhadores), atuem como pilares do governo e sejam corresponsáveis ​​por suas ações, em nome de seu caráter “progressista” e de “enfrentar” a direita.

Os brados de Casado e Rivera, com epicentro na questão catalã, é mais uma disputa de espaço entre ambos do que um “choque” com o governo. Mas se para combater a direita tivermos que apoiar um governo obediente à UE, aos patrões e à monarquia, estamos complicados.Reduzir as expectativas de mudanças e melhoria dos problemas de fundo que assolam o país a medidas cosméticas do governo Sánchez e no ciclo eleitoral que se anuncia para o próximo ano (incluindo a Lei Eleitoral antidemocrática de sempre), não é muito diferente das expectativas que são encorajadas com viagens para Lourdes ou Fátima. É uma questão de fé nos milagres.

Precisamos, portanto, continuar apostando no impulso da mobilização operária e democrática. Por rodear de apoio aos que enfrentam EREs e demissões (Vestas, Transcom, Sargadelos…), transferências (LIDL) e demissões disfarçadas (interinos/as); para os que lutam por seu acordo coletivo; aqueles que se mobilizam em defesa de pensões e contra despejos; aqueles que lutam contra a repressão e pelo direito dos povos decidirem; para mulheres que enfrentam a violência machista… Precisamos construir a partir daí uma verdadeira força de oposição democrática e operária à direita franquista, ao regime, aos patrões e ao governo Sánchez.

[1] A frase é usada para corrigir ou desdizer uma declaração.

[2] É o principal índice de referencia da bolsa espanhola.

Tradução: Nea vieira

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