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sexta-feira, março 29, 2024

Estado Espanhol | Com os trabalhadores/as e pequenos agricultores, contra os latifundiários e os oligopólios da agroalimentação

Milhares de agricultores vêm saindo às ruas desde meados de janeiro para protestar contra a situação no setor agrícola.

Por: Corriente Roja
A ASAJA, a COAG e a UPA convocaram um calendário de manifestações e ações de protesto em todo o Estado Espanhol, ao mesmo tempo em que publicaram um manifesto em 17 de janeiro, onde manifestaram sua preocupação tanto pelos “desequilíbrios da rede agroalimentar” em relação à especulação com os preços na fonte, como pelos cortes mais do que previsíveis nos subsídios da PAC, as ajudas da UE atualmente concentradas em um punhado de grandes latifundiários.
Os dados são claros sobre a gravidade da situação. Mais de 7.000 pequenos agricultores deixam a terra todos os anos (60.000 na última década) e um em cada três tem que continuar trabalhando com mais de 65 anos. Ao mesmo tempo, o negócio de campo dispara. As explorações agrícolas diminuem, mas aumenta o tamanho delas. Como no resto da sociedade, no campo os ricos são cada vez mais ricos e os pequenos agricultores cada vez mais arruinados.
É o processo de incursão das grandes empresas, grandes redes de supermercados, das chamadas “empresas integradoras” (vinculadas ao capital de risco e fundos de investimento). É essencialmente a lógica do sistema capitalista de concentração de riqueza, no qual a cadeia agroalimentar, desde os insumos, produção, distribuição e comercialização, vai ficando nas mãos de grandes capitalistas, como os Mercadona, Carrefour, LIDL, Eroski, Ebro, Nestlé… e se tornam “cadeias completas de suprimentos”, que condicionam e esmagam os pequenos agricultores.
Esses são os problemas fundamentais que um governo após o outro (PSOE-PP) deixou crescer em conluio com a União Europeia.
O governo deve agir com contundência em defesa da pequena agricultura, contra o latifúndio e grandes redes agroalimentares.
O governo respondeu a essa luta criando uma Mesa de Diálogo Agrário para “responder aos problemas do setor agroalimentar”. No entanto, não se pode responder aos problemas do campo sem atacar os latifundiários, os grandes supermercados e as políticas da União Europeia que atualmente tendem a uma liberalização completa para os grandes negócios em relação ao Mercosul, Marrocos ou África do Sul.
Se o novo governo continuar olhando para a União Europeia de joelhos e governando sem querer enfrentar as multinacionais agroalimentares e os latifundiários, acabará conseguindo o repúdio de todo o campo e acabará abrindo um caminho através do qual entrará a direita franquista, seja ela verde, azul ou laranja.
Por esse motivo, a partir da luta dos pequenos agricultores e das próprias organizações de trabalhadores é necessário exigir do novo governo um PLANO DE MEDIDAS DE EMERGÊNCIA para ir à raiz do problema, começando por se rebelar contra a UE e sua escandalosa distribuição atual das ajudas da PAC, não com base na produção, mas na extensão da propriedade.
São grandes empresas e as famílias ricas da “nobreza” dos latifundiários que há anos fazem fortunas com as ajudas milionárias da PAC. São, entre outros, Nestlé Espanha S.A.; os Mora-Figueroa Domecq; Casa de Alba; os Domecq; os Hernández Barrera; os Roig Alonso, os Vall… latifundiários parasitas e especuladores que monopolizam 90% das ajudas que em 2018 chegaram a marca de 7,411 bilhões de euros.
As grandes redes de distribuição aproveitam seu domínio oligopólico do mercado para impor preços abaixo dos custos de produção para os pequenos agricultores. O governo deve tomar medidas urgentes, promovendo e efetivando com caráter de urgência a proibição da venda com prejuízos, obrigando as grandes comercializadoras a pagar um preço justo.
Garantir preços mínimos, conforme exigido pelos pequenos agricultores, é uma demanda justa quando aplicada contra esses oligopólios dos grandes supermercados e as chamadas “redes de suprimentos”, mas para que essa justa demanda não acabe se tornando uma simples transferência do ônus dos preços finais para os trabalhadores e trabalhadoras da cidade, o governo deve garantir, através da criação de um órgão público, o monopólio da distribuição pelo Estado, estabelecendo assim preços de origem e preços finais. Um órgão público que deve permanecer sob o controle dos produtores e consumidores.
Na essência, o problema do campo é a ausência da secularmente adiada REFORMA AGRÁRIA, uma tarefa democrática de profundo conteúdo social que deve abordar um conjunto de medidas econômicas, políticas e sociais que modifiquem a atual estrutura da propriedade e da produção da terra. Uma reforma agrária que aborde todo o processo, desde os insumos para a produção, a distribuição e a comercialização de produtos agroalimentares, no interesse da imensa maioria social, da classe operária e os pequenos agricultores. Uma verdadeira reforma agrária que deve começar por expropriar os grandes latifúndios nas mãos de parasitas, que recebem para manter milhares de hectares ociosos e, assim, aumentar o processo de concentração de terras, para que passem a ser explorados coletivamente pelos trabalhadores.
É com medidas resolutamente anticapitalistas, antimonopolistas e democráticas e não com um “código ético” como o prometido pelo governo de Sánchez e Iglesias, que pode começar a mudar a situação de deterioração e crise no campo. Sem medidas que vão à raiz dos problemas, a Mesa de Diálogo Agrário não será nada mais que um calmante para as mobilizações, que aumentará a frustração e, com ela, crescerá o descontentamento e o terreno fértil da extrema direita.
Pela unidade entre pequenos agricultores e trabalhadores assalariados do campo, apontar contra os oligopólios e latifundiários. Em defesa do aumento do salário mínimo!
Em meio a denúncias e reivindicações justas dos pequenos agricultores, os dirigentes das organizações agrárias mostraram suas reclamações contra o aumento do Salário Mínimo Interprofissional. Essa atitude dos dirigentes da ASAJA, COAG e UPA não apenas não ajuda a conseguir a solidariedade de milhões de trabalhadores e trabalhadoras com os pequenos agricultores e suas justas demandas, mas também causa rejeição.
Chama atenção que a UPA e a COAG que denunciaram em várias ocasiões o modelo “especulativo e neoliberal da ASAJA” capitulem dessa maneira a uma organização que representa os latifundiários e os setores de empregadores mais reacionários e beligerantes contra trabalhadores e trabalhadoras do campo.
O aumento do Salário Mínimo Interprofissional (SMI) não afeta a imensa maioria dos pequenos agricultores, os mais de 300.000 que trabalham suas terras e não têm assalariados. No que pode afetar os empregadores agrários, deve-se recordar que em muitos casos eles nem pagam o estipulado nos acordos ou não registram os trabalhadores/as.
O aumento do SMI também é um custo irrisório diante da irrupção dos oligopólios, das redes de distribuição e comercialização, do desembarque de fundos de investimento na agricultura e pecuária, etc. É contra eles que devemos atuar , não contra os diaristas do campo.
Tais afirmações contra o aumento do SMI, bem como declarações do tipo feitas pelo Presidente da Junta de Extremadura, ligando o aumento do desemprego ao aumento do SMI, não estão a serviço do apoio aos pequenos agricultores, mas da defesa da gestão agroalimentar e dos latifundiários.
Os discursos dos dirigentes das organizações agrárias acima mencionadas que atacam o aumento do SMI, bem como o do presidente Fernández Vara (de Extremadura) distorcem os problemas de fundo e mostram sua capitulação aos latifundiários, aos oligopólios que se apropriam das ajudas da UE e para as grandes propriedades que lucram especulando com os preços.
A reclamação contra o aumento do SMI nada mais é do que uma cortina de fumaça para tentar esconder esses problemas de fundo, confrontar pequenos agricultores com trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, jogá-los nos braços dos latifundiários e tentar dar base social para o VOX, PP e C´S.
Os trabalhadores do campo e da cidade e jovens são os primeiros interessados ​​em apoiar as justas demandas dos pequenos agricultores, porque, se essa situação continuar, acabaremos pagando com mais desemprego, piores condições de trabalho no campo, produtos mais caros e de pior qualidade nas cidades e com a destruição ambiental que essas empresas predadoras impõem aonde vão.
Mas forjar essa unidade necessária para todos/as e que a luta cresça exige que os pequenos agricultores direcionem sua indignação para os especuladores, latifundiários, grandes redes de supermercados e a chamada indústria agroalimentar, que são os responsáveis ​​diretos pelos saques a que estão sujeitos.
Nós da Corriente Roja chamamos todas as organizações de trabalhadores, democráticas, coletivos ambientais e especialmente os pequenos agricultores a defender no campo a aplicação do aumento do SMI, a exigir do governo um plano de medidas de urgência para salvar o campo (impossível de aplicar sem enfrentar a UE), a virar as costas e romper com os grandes proprietários, latifundiários e comerciantes da agroalimentação.
Tradução: Tae Amaru

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