sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

Caso Arandina: Nem uma a menos, nem uma a MAIS transformada em culpada!

Após dois longos anos de espera, a sentença dos três ex-jogadores do clube de futebol da Arandina não caiu do céu*. É o resultado da luta e mobilização nas ruas de milhares de pessoas que estão cansadas de sentenças machistas, fomos às ruas todos esses anos para exigir uma mudança de leis e a depuração desse sistema judicial que não acredita em nós.

Por: Laura R.
Após a sentença, a reação foi rápida. Família e amigos chamaram a várias concentrações de protesto em apoio aos estupradores e disseminaram os áudios particulares da menina, conforme eles haviam ameaçado, o que pode ser denunciado. Por sua vez, algumas personalidades do jornalismo ou da política contribuíram com suas declarações vergonhosas para o linchamento da menina através das redes sociais.
Não é um caso isolado
O caso Arandina é um exemplo da criminalização sofrida por mulheres que denunciam violência sexual. Como afirmam os profissionais que trabalham para atendê-las, isso não é uma exceção, mas a dupla vitimização a que são submetidas, geralmente é sistemática.
Quase sempre elas são culpabilizadas ou se culpam pelo que aconteceu, duvidam do fato ou não acreditam nelas, especialmente quando são menores de idade. O estupro é banalizado e a resposta da sociedade, seja através da família, da justiça ou da mídia, permanece sendo o silêncio ou revitimização. É por isso que a maioria não denuncia e, se denunciam, frequentemente o autor ou autores não são condenados.
“E a culpa não era minha, nem onde estava nem como vestia”
É por causa dessa conivência, passividade e cumplicidade das instituições e do próprio Estado com os crimes sexuais contra mulheres que hoje são uma pandemia mundial e, na maioria das vezes, ficam impunes, que milhões de mulheres em tantos países se sentiram identificadas com a performance que o grupo feminista chileno “Las Tesis” fez no dia 25 de novembro e, desde então, deu a volta ao mundo, adaptando as letras às diferentes situações de cada país e se tornando um hino feminista.
Como diz Rita Segato, a antropóloga cujos estudos e teorias inspiraram as letras dessa performance, em quase todas as culturas e religiões, a mulher é oprimida. A mulher é moralmente suspeita, vulnerável ao mal e à tentação. Diferentes governos, incluindo aqueles que se autodenominam “democráticos”, usaram a violência sexual para semear o medo e que as mulheres não se expressem e exerçam seu direito de protestar.
Embora o feminismo atribua isso ao “patriarcado”, que é definido como algo universal e imutável, a origem da opressão contra as mulheres, que é a principal forma de discriminação social que existe hoje, uma vez que afeta metade da humanidade, historicamente, está ligada ao surgimento de sociedades de classe e propriedade privada.
E sua expressão variou em diferentes sociedades, pois, como o restante das opressões, sempre estiveram a serviço de um determinado modo de produção e para manter os interesses da classe dominante. No capitalismo decadente de hoje, essa classe dominante continua sendo a burguesia, que em todo o mundo extrai grandes benefícios econômicos mantendo as mulheres na discriminação e na desigualdade.
Embora seja importante lutar por medidas como educação sexual científica e valores de igualdade nas escolas públicas ou contra a objetificação das mulheres na publicidade ou na pornografia, não acabaremos com a cultura machista e de estupro que nos culpa por isso, sem destruir as bases econômicas sobre as quais essa ideologia se baseia.
É por isso que, nós da Corriente Roja e da LIT, chamamos a juventude e à classe trabalhadora que se organizem conosco na luta por uma sociedade diferente, por uma sociedade socialista que crie as condições para uma verdadeira emancipação das mulheres.
Não podemos deixar que nos tirem o que conseguimos, e nem das ruas. Por um próximo 8M de classe e combativo!
Por trás do questionamento dessa sentença, está o discurso da extrema direita pela qual mulheres ou imigrantes são culpáveis, apenas por serem quem são. Eles negam ou banalizam a violência machista, mudando o foco para as mulheres que questionam seus clichês e estereótipos .
Não podemos baixar a guarda nem permitir que aqueles que, ativa ou passivamente, são cúmplices dessa violência, nos tirem das ruas. Nos próximos 8M, teremos muitas razões e motivos para exigir dos sindicatos a preparação e legitimação de uma verdadeira greve geral de toda a classe trabalhadora pelos direitos das mulheres, na qual, entre outras medidas, exijamos que o novo governo destitua todos esses juízes e juízas que emitem sentenças machistas.
Porque, embora não acreditemos em sua justiça, herdeira do franquismo e a serviço dos poderosos, queremos que estupradores, feminicidas e agressores sejam presos e que sejam eles  os que tenham medo e não nós.
*Os três ex-jogadores da Arandina, Raúl Calvo, Carlos Cuadrado e Víctor Rodríguez, foram condenados a 38 anos de prisão por um crime de agressão sexual em grupo a uma jovem de 15 anos. Acessivel em: https://www.niusdiario.es/sociedad/sucesos/consulta-sentencia-caso-arandina_18_2865720226.html
Tradução: Vitor Jambo

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