sex abr 19, 2024
sexta-feira, abril 19, 2024

A crise econômica muda o cenário político

Estava mais que anunciado: longe de brincar na Champions League, estamos em pleno dissenso da categoria. O Governo mantém a tática do Titanic: que a orquestra continue tocando enquanto o barco afunda. Como se nada estivesse acontecendo, seguem dizendo que esta desacelerando uma crise do tamanho de um castelo.

 

O Governo contava com um compasso de espera antes que começasse o barulho. Para isto tinha como carta na manga: os dirigentes da CCOO[i] e UGT[ii] na frente sindical, e os chefes da IU[iii], ERC[iv] e BNG[v], no lado político. O PP[vi], com seus chefes matando-se entre si, também não iam ajudar. Mas um descontentamento geral tem começado a tomar as ruas, dado passos em direção ao movimento. Os trabalhadores, a juventude e outros setores populares estão começando a se mobilizar, sem dar ao governo nem 100 dias gratuitos.

 

O ataque aos salários diretos, via a escassez e o desmantelamento dos serviços públicos como a saúde e a educação, têm colocado milhares nas ruas nas ultimas semanas. As mobilizações estudantis contra a LOU[vii] e Bolonia[viii] foram seguidas por aquelas dos trabalhadores da TMB de Barcelona[ix], EMT de Madrid[x], coleta seletiva de lixo e limpeza de ruas Madrid, Telefônica, professores, Casal de Sevilla[xi]… Temos visto manifestações massivas contra as privatizações da educação ou em defesa da saúde publica. Os pescadores se unificaram aos protestos e em breve os caminhoneiros vão fazer a mesma coisa.

 

Desde o Prisa, grupo pró-governista, crescentes vozes de alarme: “Se acaba a paz social, isto pode ser terrível”. Clamam por um Pacto Social. Neste momento, o governo e a burocracia sindical e a patronal estão negociando sobre como jogar isto contra os trabalhadores imigrantes, ao mesmo tempo que preparam para depois do verão um ataque em profundidade contra o sistema público de pensões. Paralelamente, começaram a especular, conforme avança a crise, sobre como realizar ataques massivos à negociação coletiva, aos salários e à estabilidade no trabalho.

 

O verão não deve ser tranquilo e o Outono já se anuncia quente. É evidente que já entramos em uma nova conjuntura política. Terminou a “prosperidade” e com o PP em frangalhos, já não vale aquilo que diz “que venha o lobo”. Abriu-se a possibilidade de que a mobilização dos trabalhadores e da juventude vá alem e se coloque no centro do cenário.

 

É um grande desafio para a esquerda revolucionária, favorecida pela falência da UTI. Para a Corriente Roja, todos os coletivos e ativistas que têm defendido uma frente anticapitalista e a luta, a nova realidade nos exige redobrar os esforços. Mas isto não consiste em ficar nas alturas e nos consumir em discussões entre a “vanguarda alternativa”. Construir um bloco anticapitalista exige hoje, em primeiro lugar, unir as forças dos ativistas voltando-se para as lutas, cercando-as de solidariedade, ajudando-as a se centralizar e construir uma saída da classe trabalhadora para a crise.

 

 

A CRISE AVANÇA ACELERADAMENTE

 

Enquanto Zapatero e Solbes continuar com a ladainha da desaceleração, até o governista El Pais reconhece que “desde as últimas semanas não há um dia que não parece um fator pior do que o anterior”.

 

O desmantelamento do setor imobiliário e de construção

 

·                 As construções iniciadas este ano não chegaram à metade do ano passado.

·                 As vendas das grandes imobiliárias no primeiro trimestre caíram  a 72%.

·                 Endividados até a cabeça e com uma crise brutal nas vendas, imobiliárias grandes e pequenas já não podem lidar com os seus compromissos bancários e suspendem os pagamentos.

 

Mas não é só o setor imobiliário:

 

·                 As vendas do varejo só têm caído nestes cinco meses consecutivos.

·                 Caem também as vendas de automóveis (20% em março) e a produção industrial está em baixa.

·                 O setor financeiro também  foi atingido.

·                 O setor financeiro tem 70% dos seus créditos vinculados ao setor de tijolos. O próprio setor adverte que algumas empresas poderão entrar em falência.

·                 O atraso no pagamento dos créditos duplicou desde fevereiro do ano passado. Com a Euribor batendo recordes com o aumento do desemprego, as previsões de atrasos disparam, com tudo aquilo que representam.

·                 Os bancos e caixas não oferecem novos créditos, principalmente para a construção (incluindo casas).
 

A Escassez: uma corrida descontrolada

 

·                 O IPC subiu 4,6% em março, o pior valor desde 1995. As previsões para o final do ano são de 5% que na verdade é de muito mais para as famílias dos trabalhadores do que para as famílias burguesas, mais afetadas pelo Euribor e pelos preços dos alimentos e dos serviços básicos.

·                 A Euribor já chegou a 5%. Para aqueles que contraíram a hipoteca há três anos, a quota aumentou 50%.

·                 O Governo prepara para julho, um aumento nas tarifas de eletricidade de 11.3%, e para dezembro outra parecida. As empresas de eletricidade e o Governo afirmam que as tarifas são inferiores ao custo de geração de eletricidade. Mas são as empresas elétricas que fixam arbitrariamente estes custos, enquanto declaram lucros exorbitantes e seus diretores cobram benefícios escandalosos: Pizarro levou 18,5 milhões de euros em 2007 e Galan desembolsou 6 milhões ao ano.

·                 Sobe o petróleo e os alimentos, no entanto as empresas multinacionais obtiveram os maiores lucros da sua historia.

 

O desemprego avança sem parar

 

·                 Há 246.000 desempregados a mais no primeiro trimestre, chegando a 2,3 milhões (9,6% da população ativa). O desemprego tem afetado todos os setores. A este ritmo (supondo que não aumente) teremos no final do ano um milhão de desempregados.

·                 O desemprego tem afetado, sobretudo, os trabalhadores migrantes, com grande peso na construção: aumento de 24% no primeiro trimestre.

 

A situação atual e a recessão de 1992-1993.

 

Tão grave como os dados anteriores, é a rapidez da crise. Após 14 anos de “prosperidade” entramos em queda livre. A imprensa faz comparações com a recessão de 1992/93, na qual o desemprego atingiu os 24% (3,8 milhões de trabalhadores). Hoje, nos dizem que estamos muito melhor, porque temos um superávit no orçamento e porque a o sistema financeiro espanhol é um bom pagador.

 

Mas acontece que Solbes já anunciou que o famoso superávit vai desaparecer este ano e no próximo haverá déficit. E as famosas provisões dos bancos (as reservas para cobrir atrasos), só têm força para um ano. Outra coisa que não fala Solbes é que, ao contrário de 1992, o sistema bancário esta pior que antes e que a situação da economia internacional agora está muito mais complicada.

 

Uma das maiores diferenças em comparação com 1992 é que agora temos três milhões de trabalhadores imigrantes (14,4% da força de trabalho espanhola). É é por isso que querem irritá-los, para que em vez de enfrentarem juntos o capital, responsável pela crise, se intensifique o racismo e a divisão entre os trabalhadores.



[i] CCOO (Comisiones Obreras): Comissões Operarias, Central sindical ligada ao PC.

[ii] UGT (UnionGeneral de Trabajadores): União Geral dos Trabalhadores, Central sindical ligada ao PSOE.

[iii] IU (Izquierda Unida): Esquerda Unida, Frente Eleitoral do PC.

[iv] ERC: Esquerda Republicana da Catalunha.

[v] BNG (Bloque Nacional Gallego): Blocoe burguês nacionalista de centroesquerda daGalícia. 

[vi] PP (Partido Popular): Principal partido de direita.

[vii] LOU (Ley Orgánica Universitaria): Lei organica universitaria.

[viii] Bolonia: Cidade Italiana, onde os ministros da educação da Europa se reuniram, fazendo um acordo que vai atacar a Universidade e certos cursos.

[ix] TMB de Barcelona: Empresa de ônibus, responsável pelo transporte público em Barcelona.

[x] EMT de Madrid: Empresa de ônibus, responsável pelo transporte público em Madrid.

[xi] Casal de Sevilla:  empresa de Transportes dessa cidade.

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