qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Na Espanha tambem furou a bolha imobiliaria

ZAPATERO NA LIGA DOS CAMPEOES
E AS FAMILIAS OPERARIAS TENTANDO ELUDIR O DESCENSO.

 

Iniciou-se um novo momento que  confirma as piores previsoes sobre o que, meses atras eram evidentes sinais de esgotamento da prolongada “prosperidade espanhola”: esse ciclo economico excepcional que durante 14 anos permitiu beneficios recordes para a patronal, para os bancos e as multinacionais e foi a base material da estabilidade politica. Estes sinais de esgotamento acontecem junto com a explosao da crise financeira mundial do mes de agosto que pos fim ao debilitado crescimento internacional destes seis anos e acendeu serias duvidas sobre o futuro proximo. Ante o colapso da bolha imobiliaria norte-americana, Zapatero, juntamente com Emilio Botin[1], apelou ao velho slogan do antigo regime: “Spain is different”.

A economia espanhola -diz- nao tem a ver com essa crise, nem nada a temer dela. Pelo contrario, “estamos na Liga dos Campeoes da economia mundial”. Logo aderiram a cantinela,  Francisco Gonzalez do BBVA, Cesar Alierta de Telefonica e a cupula em exercicio da CEOE. A consigna era clara: “Nada de fazerr alarme”. A mensagem tem como proposito tranquilizar ao capital e mostrar-lhe que o Estado, com o Governo a frente, em combinacao com a Comissao Europeia e o Banco Central Europeu, se colocara a servico de manter os beneficios dos Bancos, das multinacionais, das grandes imobiliarias e construtoras.

EXPLODIU A BOLHA

Durante 14 anos os Governos do PP e depois do PSOE sustentaram o “progresso” com uma especulacao imobiliaria galopante, que se alimentava do endividamento das familias e das empresas e que permitiu uma transferencia em massa de rendas salariais para o capital financeiro. Agora, em coincidencia com a grave crise financeira mundial, se explodiu a bolha imobiliaria espanhola; conforme aumentavam os juros, se esgotava a capacidade de endividamento das familias e as ajudas milionarias dos fundos europeus iam chegando ao fim. A capacidade de endividamento ja nao causa alegrias, porque a divida dos lares, que chegava a 70% da renda disponivel em 2000, hoje ja supera 115%, uma porcentagem que passa para269% se forem contabilizados os juros, segundo um estudo do Governo basco.

Os “fundos estruturais europeus”, que contribuiram com 150 milhoes de euros desde 1985, acabam definitivamente em 2012. Por isso, o exercicio de ilusionismo que faz Zapatero e a grande patronal, choca-se com a mais teimosa das razoes: a realidade. E esta indica que o inicio do fim do ciclo vem acompanhado da destruicao liquida de emprego, especialmente em um dos setores que foi de ponta neste periodo anterior: a construcao civil. Os dados de agosto foram os piores das ultimas  duas decadas: o desemprego chegou a 57.958 pessoas e voltou a colocar o desemprego registrado acima dos dois milhoes (2.028.296). Na construcao civil  foram destruidos, entre julho e agosto mais de 50.000 postos de trabalho. E isto e so o inicio, pois segundo calculos empresariais, para cada 100. 000 moradias  a menos, 200.000 trabalhadores vao para a rua.

AS FAMILIAS OPERARIAS EM SITUACAO CADA VEZ MAIS DIFICIL

Enquanto Zapatero fanfarrona com a Liga dos Campeoes, a economia das familias operarias e bastante outra: a do desespero de quem ve que vamos juntos a decadencia da categoria. Que os salarios nao chegam com o fim de mes, que o financiamento disparou  e ameaca ser impagavel ou que os precos dos produtos basicos estao nas nuvens. Sao  dados da realidade, tao evidentes quanto o reconhecimento oficial da permanente reducao da economia familiar. O buraco do orcamento familiar aumentou nos ultimos anos ao ritmo do Euribor[2].  Este indice, que define o valor dos financiamentos, leva 23 meses subindo sem parar. Um financiamento medio, de 150.000 euros durante 25 anos, vai pagar no proximo ano, 897 euros ao mes, enquanto que em 2006 pagava 691 euros, ou seja, uma diferenca de 206 euros, cerca de 29.81% a mais.

Zapatero fala que estamos na Liga dos Campeoes da economia mundial em um pais no qual o salario medio real baixou 4% nos ultimos 10 anos e onde nunca o bolo da renda nacional foi tao grande e nunca, desde que se elabora esta estatistica, os assalariados tiveram menor parte nele. Nesta economia de Campeoes, a precariedade generalizada e a uma sinistralidade sem freio nem castigo, se acrescenta que 11 milhoes de trabalhadores nao chegam aos 1000 euros por mes e perto da metade nao alcanca nem os 571  ao mes de salario minimo. Um SMI que so esta  a frente do de Portugal e a anos luz do restante da Europa. Basta compara-los com os 1.570 de Luxemburgo, os 1.403 da Irlanda ou os 1.250 da Franca e Belgica. A carestia volta a aparecer como a expressao mas sintetica da situacao social que vivemos. As continuas altas de precos de precos dos produtos basicos para alimentacao  e consumo familiar, e preciso acrescentar as nada alentadoras altas previstas ate final do ano: pao 40%, carne de porco e farinha 30%, lacteos 20%, ovos 15%, carne de frango 11%.

 MORADIA: A ESTRELA DA “VIRADA SOCIAL”

O inicio do momento politico vem tambem  marcado pela convocacao de eleicoes gerais para o proximo mes de marco. Metido ja em pre campanha, o interesse do Governo e encerrar nas urnas a onda de descontentamento social que cresce. Para isso, os dirigentes socialistas, nao sem atritos entre si e com seus aliados andam fazendo promessas de “virada social” a ritmo de campanha. A moradia se transformou no centro das promessas da “virada social”. A mais recente dessas promessas, colocada em cena, e o anuncio do plano Chacon-Zapatero, de “ajuda aos jovens” que moram de aluguel. Apresentado como “novo” suscitou criticas de todos os angulos possiveis, inclusive de setores nada suspeitos de oposicao ao Governo. Zapatero e sua Ministra apresentam como novo um plano que e uma correcao (e em varios pontos, pior) do fracassado Plano Trujillo apresentado pela Ministra anterior e em vigor desde 2004.

O Plano Trujillo incluia a criacao da Sociedade Publica de Aluguel, na qual a maioria da moradia protegida que se construisse seria de aluguel; ajuda de ate 240 Euros, durante dois anos, para o pagamento de alugueis a menores de 35 anos e 6000 euros para os proprietarios de moradias que fossem alugadas, alem de deducoes aos donos dos apartamentos. Tratava-se segundo Trujillo-Zapatero de “favorecer o acesso a moradia nova ou usada a um preco razoavel assegurando 180.000 moradias ao ano”. Passaram-se tres longos anos e os dados sao demolidores. A sociedade de alugueis administro, em todo o Estado, 5000 alugueis; o preco dos alugueis continuou nas nuvens e nas grandes cidades o preco medio supera os 1.100 . Por exemplo, no primeiro trimestre deste ano em Barcelona, o custo medio do aluguel subio 18%. Dos milhoes de jovens (segundo o Governo) que poderiam se beneficiar desse plano, 40.000 solicitaram o beneficio, em tres anos. E sobre a  construcao de moradias para aluguel, basta lembrar que das 800.000 moradias novas previstas para serem construidas  em 2006, pouco mais de 60.000 terao protecao oficial, dai e preciso derivar as que serao vendidas e as que serao alugadas.

 

 

Inclusive o que se apresenta como “a grande medida do Plano, o cheque de 210, nao deixa de ser uma brincadeira, porque os beneficios ja existentes sao muito superiores e nao evitaram o fiasco do Plano Trujillo. Por exemplo, na Catalunha a ajuda chega a 240, nao tem o limite maximo dos 4 anos, nao exige idade limite e  supera  os 600, da Ministra Chacon,  podendo chegar ate os 24.000 Euros e nao exige dos trabalhadores imigrantes 4 anos de residencia legal como acontece no “novo” Plano. O Plano Trujillo fracassou, porque, como este, nao pretende resolver o problema de moradia de milhares de jovens, de trabalhadores imigrantes ou familias humildes, e um plano dirigido para beneficiar as imobiliarias e os proprietarios-especuladores da crise. Nem ha mais moradias de aluguel, nem se frearam os precos de autentico roubo. Pelo contrario, enquanto continua subindo o preco do aluguel, continua havendo mais de tres milhoes de moradias vazias e a porcentagem de construcao de moradia protegida e ridiculo, tao ridiculo quanto os precos da “protecao”.

“O novo” do Plano apresentado, sao os incentivos de desgravacao, ridiculos para o arrendatario e generosos ate o extremo com os proprietarios. Lhes garante 100% de deducoes e lhes anuncia uma nova lei que desaloja os inquilinos quase de forma fulminante. Outra”estrela”  das medidas sobre a moradia e aquela anunciada em Andaluzia por Chaves. Chama atencao, a proposta de “garantir a moradia por Lei “, quando a Constituicao ja garante, mesmo que na realidade a coisa seja outra muito diferente. Chama tambem a atencao que quem faca a proposta seja alguem que ficou 17 anos no cargo e nao so, nunca  propos  nada similar mas nem sequer foi capaz de garantir terreno para as moradias com protecao oficial. Seu Plano de Ordenacao Urbanistica estabelecia que as Prefeituras andaluzes dedicassem 30% do solo urbano para isso, mas, quatro anos depois so 7,1% dos municipios  cumpre esta norma.

Chama alem disso a atencao  que uma proposta tao “social” seja “para a proxima legislatura”. Na verdade Chaves anuncia em grandes  letras, uma proposta que mostra algo muito diferente quando se olha de perto. O que eram garantias de moradia “a todo cidadao que ganhe menos de 3100 euros ao mes” se transforma em “renda bruta por unidade familiar”. As “garantias de moradia”  se transformam em ” ajuda publica  com o  objetivo de garantir que a quota mensal nao supere um terco do ingresso familiar”. Nao e por acaso que a proposta de Chaves, referendada pela ministra, nao mencione as 630.000 moradias vazias que existem em Andaluzia e fale, entretanto, da construcao de 700.000 novas moradias. Com as medidas desta  “virada  social” estamos nao so diante de um ato de “eleitoralismo”, mas, diante de uma nova fraude!  Porque o verdadeiro objetivo das medidas propostas nao e outro que assegurar as construtoras, promotoras imobiliarias e banqueiros que nao parem o negocio, que nao se corte o ciclo do endividamento.

O dinheiro publico mobilizado esta colocado a servico de que os “cidadaos” continuem endividando-se e pagando religiosamente as cotas ao bancos ou cobrindo alugueis que sao um verdadeiro roubo. Apresentam como grande “medida social” o que nao e mais que uma nova transferencia em massa de rendas, para os bancos e as promotoras. Finalmente merece um comentario a outra medida anunciada: a assistencia buco dentaria  gratuita as criancas entre 7 e 15 anos. Anunciar tal medida como “progressista” e inovadora deveria envergonhar-lhes. E uma vergonha que em 2007 uma necessidade de primeira ordem como a atencao buco dentaria continue  em maos privadas. A medida anunciada continua deixando a imensa maioria da populacao sem direito a assistencia dental gratuita no marco da seguranca social e, alem disto, nao cobre os tratamentos de ortodontia, que sao os mais caros. Por outro lado, e chocante,  dar carater “inovador” a uma medida que ja existe ha tempos em 12 comunidades autonomas. Uma medida que e uma nova fraude, porque se trata, outra vez, de servicos “arranjados” com o setor privado: uma nova transferencia de rendas do Estado, neste caso aos planos de saude.


 UM MOVIMENTO CONTRA A CARESTIA.


A alta dos financiamentos e o aumento dos precos dos produtos de primeira necessidade agem como um cancer sobre os ja minguados salarios.  O apelo ao endividamento se esgota e o recurso crescente as horas extras se volta como um bumerangue contra a criacao de empregos. Nem as grandes centrais sindicais, nem as institucionalizadas e subvencionadas Federacoes de Associacoes de Vizinhos, nem as organizacoes politicas institucionais que ficam formalmente a esquerda do PSOE, especialmente IU, BNG, ERC, levantaram bandeira alguma contra a carestia. Depois de tudo, o aparato de direcao nao fica nada mal. Os dirigentes de CCOO e UGT sao co-responsaveis pela perda do peso dos salarios na Renda Nacional e pela diminuicao do poder aquisitivo, atraves dos sucessivos Acordos de Negociacao Coletiva (ANC), transformados em instrumento privilegiado de “moderacao salarial” tao louvada pela patronal. Nao ha outro caminho que apelar aos trabalhadores, comecando pelos setores mais lucidos e combativos, para que saiam a luta contra os que estao encima.

Esse e o empenho da Corrente Vermelha hoje, ajudar a formar um movimento de luta contra a carestia. Na luta contra a carestia propor medidas, poucas e concretas, capazes de impulsionar o movimento. Nesse sentido, Corrente Vermelha aponta duas medidas de urgencia: Congelamento imediato de todos os financiamentos, aumento geral dos salarios e estabelecimento de uma escala movel de salarios, ou seja, aumento automatico dos salarios proporcional as altas do custo de vida”.

 

A tarefa na qual desde ja comprometemos nosso apoio entusiasta, e a ajuda para que essa iniciativa seja divulgada, se expanda e seja assumida coletivamente pelas organizacoes e pelos  coletivos sindicais de oposicao a burocracia sindical, pelos comites de empresas e secoes sindicais e pelos ativistas.





[1] Emilio Botin: presidente do Banco Santander na Espanha.

[2] Taxa de juros do Banco Central Europeu.

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