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sexta-feira, março 29, 2024

Um brinde à resistência contra o imperialismo!

Para a maioria dos povos do mundo, o ano de 2006 foi o que mais deixou claro até onde os imperialismos americano e europeu pretendem chegar com sua ofensiva de recolonização, pilhagem e controle político, econômico e cultural em escala planetária. A definição de Lênin para o imperialismo – um grupo de países que domina e explora todo o restante da humanidade, causando um retrocesso brutal em todo o mundo – foi amplamente confirmada neste ano que termina. Esse grupo de países, capitaneado pelos EUA e a figura patética de George W. Bush, chegou a extremos em sua política, deixando atrás de si um rastro de morte, destruição e dor. Mas este é apenas um lado da moeda. O ano também foi de grandes combates e resistência por parte das massas e povos oprimidos. O imperialismo amargou importantes derrotas e termina o ano revendo estratégias e táticas que empregou nesta guerra contra os povos desde o fatídico 11 de Setembro de 2001.

Em 2006, o foco principal da política dos imperialismos americano e europeu foi o Oriente Médio, dando prosseguimento às suas tentativas de controlar uma das regiões mais ricas do mundo em petróleo após os atentados do 11 de Setembro. Mas encontrou pela frente a resposta das massas, que começou logo em janeiro com a vitória surpreendente do Hamas nas eleições da Palestina. Foi uma vitória esmagadora.

Proporcional à fome, à miséria, ao desemprego, à submissão forçada aos fuzis israelenses foi o número de votos que deu a vitória ao Hamas nas eleições legislativas de 26 de janeiro: 76 das 132 cadeiras do Parlamento, contra 43 do Fatah. Os eleitores votaram em massa e com isso o Fatah, que por quase cinco décadas foi a direção incontestável dos palestinos, perdeu o poder para o Hamas, grupo islâmico fundamentalista que passou a comandar o governo da ANP (Autoridade Nacional Palestina) nos territórios palestinos, Gaza e Cisjordânia.

A vitória do Hamas foi um duro golpe nos Acordos de Oslo, propostos pelo imperialismo para evitar a destruição do Estado de Israel, derrotado no Líbano em 1985 e incapaz de dominar a Intifada a partir de 1987. Com isso, um governo palestino com poderes muito limitados, encabeçado pelo Fatah, assumiu a administração de Gaza e Cisjordânia, reconheceu o Estado de Israel e deixou de lutar contra ele. A vitória do Hamas em janeiro foi um massivo “voto castigo” contra a traição e a corrupção que havia tomado conta do Fatah.

Esse golpe nos Acordos de Oslo somou-se à doença de Ariel Sharon, o homem do imperialismo na região, ao curso da guerra no Iraque e ao aumento das tensões com o Irã. Daí em diante, a política imperialista de controle do Oriente Médio começou a desandar e atingiu seu nível mais grave em outubro.

No Iraque, cresce a resistência contra a ocupação, com fortes indícios de ações conjuntas entre xiitas e sunitas. Mas logo em seguida, em fevereiro, teve início uma onda de atentados em mesquitas, aumentando os temores de uma guerra civil. A grande imprensa mundial logo culpou a violência sectária e religiosa entre xiitas e sunitas, mas todas as suspeitas recaíram sobre as tropas de ocupação dos Estados Unidos e Inglaterra. O objetivo era criar uma divisão artificial no país, jogando sunitas contra xiitas.

Tudo isso fortaleceu no mundo o repúdio ao imperialismo e em 18 de março, ocorreu uma jornada internacional de mobilizações exigindo a imediata retirada das tropas. As mobilizações ocorreram pouco tempo depois do atentado que destruiu a mesquita de Askariya, em Samara, considerada um lugar sagrado pelos muçulmanos xiitas, e que gerou numerosos ataques a centros religiosos sunitas, assassinatos e confrontos entre setores de ambas as comunidades, com um saldo de centenas de mortos.

A resposta às agressões começa a generalizar-se
Logo depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, o imperialismo teve uma vitória rápida no Afeganistão. Animados, os governos dos EUA, da Inglaterra e aliados ameaçaram atacar o Irã, a Síria e todos os que, segundo eles, compunham o chamado “eixo do mal”. Em março de 2003, invadiram o Iraque, derrubando o governo de Saddam Hussein, dissolvendo seu exército e instalando ali um regime colonial assentado nas tropas invasoras. Mas as expectativas de Bush de que essa vitória permitisse compor um governo sólido, para depois retirar a maior parte dos soldados, logo foram defraudadas pela realidade nua e crua. Houve uma verdadeira guerra de libertação do povo iraquiano, com ataques e atentados, encurralando as tropas ocupantes e impedindo que realmente dominassem o país. Os governos de Chalabi e Allawi não conseguiram apoio político, e as fraudulentas eleições de janeiro de 2005 promovidas por Bush não mudaram em nada a situação do imperialismo.

Também não reverteram a situação os ataques genocidas contra populações civis, a prisão, tortura e assassinato de milhares de prisioneiros na tristemente célebre prisão de Abu Graib e outros centros de horrores criados. Com isso, começaram a surgir elementos de crise entre as tropas invasoras, com suicídios de soldados, deserções e uso de drogas. Os 150 mil soldados enviados por Bush foram insuficientes para dominar o país. Seriam necessários mais 400 ou 500 mil, mas a Casa Branca não tinha condições políticas para tanto.

Para piorar a situação, a coalizão invasora começou a esfacelar-se. A Espanha teve que retirar suas tropas depois da queda de Aznar. Na Itália, Berlusconi cambaleava e também teve de sair. Na Inglaterra, Tony Blair sobrevivia a duras penas. Abriu-se claramente a possibilidade de que o imperialismo fosse derrotado militarmente no Iraque pela heróica resistência das massas, como ocorreu no Vietnã em 1960 e 1970, o que foi reconhecido até pelo próprio Bush.

A crise no Iraque combinava-se com a ferida aberta no Afeganistão e a difícil situação de Israel pós-vitória do Hamas na ANP. Para tentar recuperar o controle da situação, Israel despeja mísseis e bombas sobre Gaza e Cisjordânia, sob o pretexto de libertar um soldado israelense preso em combate pela resistência palestina. Esse também foi o motivo alegado para invadir o Líbano, numa verdadeira ação de guerra contra o Hizbollah. A ofensiva começou em julho e, dois meses depois, em setembro, as forças israelenses tiveram que se retirar do território libanês, derrotadas pela resistência. Essa derrota, estrategicamente fundamental para o avanço das forças de resistência, foi o “presente” que as massas libanesas e palestinas deram a Bush no quinto aniversário dos atentados do 11 de Setembro.

Ao mesmo tempo, as agências de inteligência americanas preparavam um relatório confidencial mostrando que os Estados Unidos estão mais vulneráveis que nunca a novos ataques terroristas. Intitulado “Tendências no Terrorismo Global: Implicações para os Estados Unidos” e divulgado pela imprensa no dia 25 de outubro, o relatório concluiu que a guerra no Iraque fomentou o radicalismo e que a resistência iraquiana contra a ocupação cresceu e se expandiu por todo o Oriente Médio.

São cad
a vez mais freqüentes as notícias de expansão dos movimentos de resistência. Na Palestina, o Hamas agrega um número cada vez maior de combatentes, entre eles mulheres. Segundo o porta-voz do Hamas, Abu Obeida, é cada vez maior o número de mulheres que pedem para entrar na luta armada ou envolver o corpo com bombas para atingir soldados israelenses. Isso é extremamente significativo do grau de generalização do combate entre as populações, já que para participar da luta armada, as mulheres têm que romper com uma opressão milenar.

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