qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Salto na crise chinesa atinge a América Latina e o mundo

Uma forte queda das bolsas chinesas provocou um abalo financeiro em todo o mundo. Desde seu ponto mais alto em 12 de junho deste ano, a bolsa de Xangai caiu 40%. Pela importância da economia chinesa, isso provocou movimentos similares nas principais bolsas do mundo: o índice de preços de ações FTSE 100, de Londres, caiu 15% em comparação com os últimos três meses, Dow Jones, um dos principais índices de ações dos EUA, caiu 12%, o Euro Stoxx caiu 5% e o Nikkei do Japão caiu 8,3%.

Por: Gabriel Massa

A enorme queda da bolsa chinesa significa que se “evaporou” um valor equivalente a dois trilhões de dólares norte-americanos, cifra que é quase 20% do PIB da China (11 trilhões de dólares) e equivale a tudo o que se produz no Brasil em um ano.

Por trás desse fenômeno há outro igualmente impactante: o jornal Telegraph da Inglaterra informou em sua edição de 22 de julho que, desde julho de 2014, houve uma fuga de capitais de 800 bilhões de dólares na China. Isso é mais que toda a produção argentina em um ano. Todo esse dinheiro saiu das reservas do Estado chinês.

Por que os capitais fogem da China a esta velocidade? Por que o valor das ações das empresas na bolsa cai desta maneira?

A economia chinesa é profundamente dependente das exportações industriais, principalmente para os Estados Unidos, Europa e Japão, mas também para o resto das economias do planeta. A crise iniciada em 2007 nos EUA e que se estendeu por todo o mundo provocou, junto com a quebra de bancos e de grandes empresas e um enorme aumento do desemprego, uma queda do consumo e da demanda em geral na maioria dos países. Agora isso se traduz em uma queda das exportações industriais chinesas.

A agência espanhola EFE publicou os seguintes dados em 9 de agosto: “O comércio exterior da China, um dos motores da segunda economia mundial, segue mostrando preocupantes sinais de desaceleração, com uma queda de 7,3% nos sete primeiros meses do ano e de 8,8% em julho, em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados das alfândegas publicados hoje… No mês de julho o comércio exterior sofreu uma forte contração, de 8,8%, em relação ao mesmo mês do ano passado, com uma queda de 8,9% nas exportações e 8,6% nas importações, revertendo as boas cifras do mês anterior.

“Os intercâmbios entre a China e a UE entre janeiro-julho caíram cerca de 7,6% em comparação ao mesmo período em 2014, alcançando 319 bilhões de dólares, enquanto que com o Japão se reduziram  em 11,1%, chegando a 143 bilhões de dólares. No lado positivo, o comércio com os Estados Unidos, segundo principal sócio da China, cresceu 2,7% (309 bilhões de dólares) e o com o bloco de nações do sudeste asiático cresceu 1,3% (261 bilhões de dólares). As cifras comerciais em queda colocam em risco o objetivo de Pequim de alcançar um crescimento de 7% para todo o ano de 2015.

Outro indicador da crise é a queda da venda de produtos industriais dentro da China. Segundo o The New York Times, a fábrica da Caterpillar reduziu sua produção ao cair pela metade a venda de equipamentos de construção nos primeiros seis meses do ano. As fábricas da General Motors e da Ford estão reduzindo o envio de automóveis às concessionárias da China.

Jogam a crise sobre os ombros dos trabalhadores chineses

Como acontece no mundo todo, as multinacionais e as patronais locais querem transferir a crise para os trabalhadores chineses. Isso provocou uma onda de conflitos, em sua maioria protestando contra o não pagamento de salários nas empresas das cidades costeiras que produzem para a exportação.

 Nos primeiros cinco meses de 2015 houve três vezes mais greves trabalhistas que no mesmo período de 2014, segundo dados do China Labour Bulletin com sede em Hong Kong, enquanto aumentam os protestos massivos dos trabalhadores contra as demissões”, diz Jason Kirby, da empresa de consultoria Macleans, em um artigo de 10 de junho. Ainda no mesmo artigo acrescenta: “Os contadores oficiais do país afirmam que o PIB da China crescerá 7% esse ano (…) O problema é que isso não tem nenhuma similaridade com o que acontece nas fábricas, lojas e lares chineses. Considere isto: no primeiro trimestre de 2015, o crescimento do consumo de eletricidade na China foi somente de 0,2% comparado com o mesmo período do ano anterior. Baseado nessa medida, Christopher Balding, um professor adjunto de negócios da Universidade de Pequim em Shenzhen, recentemente sugeriu que o verdadeiro crescimento do PIB chinês pode ser de apenas 1 a 3%.

O golpe para o Brasil e a Argentina

Esta queda da economia chinesa tem repercussões em todo o mundo, não só com a queda das bolsas. Todos os países produtores de matérias primas se veem afetados, especialmente os da África e da América Latina. O artigo do New York Times que citamos diz: “As consequências negativas são particularmente graves para o Brasil. O país já está cambaleando, em momentos que a queda das importações chinesas de minerais e grãos de soja tem sacudido toda a América Latina. A incerteza em relação à China poderia limitar a margem de manobra para que os funcionários respondam diante da queda da economia brasileira, em momentos que cresce o ressentimento pelas medidas de austeridade do governo (…)As exportações do Brasil à China caíram 23,6%, US$ 24,7 bilhões, nos primeiros sete meses do ano comparado com o mesmo período de 2014. Em um editorial de dias atrás, o jornal O Estado de São Paulo descreveu a relação do Brasil com a China como ‘semicolonial’, afirmando que a economia ‘depende excessivamente da prosperidade chinesa’.”

A Argentina foi igualmente atingida pelo colapso chinês e mostra uma queda de 15% de suas exportações nos primeiros seis meses do ano em relação ao mesmo período de 2014. Uma das causas fundamentais foi explicada pelo jornal La Nación em 26 de agosto: “Pelo lado das cotações internacionais dos produtos agrícolas no período em análise, os preços FOB (o que significa livres de impostos, mas sem contar o frete) oficiais da soja, do milho e do trigo continuaram mostrando reduções em um ano que alcançaram 30%, 22% e 38% respectivamente”.

Além disso, a Argentina está golpeada pela crise do Brasil, para onde vai uma altíssima porcentagem das exportações industriais argentinas, em particular da indústria automobilística. La Nación diz: “O setor automobilístico teve entradas de divisas por exportações de US$ 3,737 bilhões, cerca de 13% abaixo da primeira metade de 2014. Nesse caso, este comportamento se encontrou alinhado à queda das exportações de veículos e utilitários registrada pelos principais polos automobilísticos, basicamente com o principal sócio do setor, a República Federativa do Brasil. O terceiro setor foi o de alimentos, bebidas e cigarro, com exportações de US$ 3,511 bilhões, uma redução de mais de 10%. Outra forte queda foi registrada pelo setor petroleiro, que teve exportações de US$ 1,502 bilhão, um retrocesso de 50%.

A resposta das multinacionais que atuam na Argentina já é conhecida: “Segundo La Nación pôde averiguar, várias empresas automobilísticas estão – com o acordo do sindicato – suspendendo dias de produção e, portanto, trabalhadores. (…) A derrocada industrial brasileira é a principal causa das suspensões.

Está claro, então, que a crise mundial, que está dando um novo salto com o desastre chinês, é a principal causa da queda das exportações e das economias da América Latina, incluindo Brasil e Argentina. A pergunta inevitável então é: Não há outra saída senão aceitar as demissões e suspensões, arrocho salarial e as demais medidas que as multinacionais e os empresários locais aplicam para salvar seus lucros?

A resposta é que sim, há outra alternativa, que é, como propõe a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT em espanhol), tirar o controle das principais alavancas da produção e das finanças dos banqueiros e das multinacionais. Colocar esses recursos nas mãos do Estado, sob o controle dos trabalhadores, e a partir daí desenvolver um grande plano de obras públicas que garanta a construção de casas, hospitais, escolas, redes de esgoto, de energia e de comunicação, ou seja, toda infraestrutura que necessitamos para o progresso do país. Ao invés de produzir soja para o consumo dos porcos chineses, produzir mais milho, trigo, carne, leite e processá-los com a indústria local para alimentar toda a população argentina e latino-americana.

Ou seja, colocar a economia a serviço das necessidades dos trabalhadores e do povo e não das multinacionais e dos banqueiros. Para isso, o país não pode ser governado pelos agentes dos banqueiros e das multinacionais , e sim pelos representantes dos trabalhadores e do povo, como propõe a FIT.

Demissões e suspensões como consequência da crise

Segundo dados de uma pesquisa divulgada pela SEL Consultores, três em cada dez grandes empresas diminuíram seu quadro de pessoal em 2014. Este ano, a tendência negativa diminuiu, mas a geração de empregos se encontra estagnada devido à eliminação massiva de postos de trabalho.

Por outro lado, um informe da consultora privada Tendências Econômicas publicado pelo jornal La Nación afirma que, em julho passado, foi registrado um aumento dos conflitos trabalhistas. “Foram registrados os níveis mais elevados de demissões e suspensões do ano de 2015”, segundo estimativas do último estudo da agência.

A SEL acrescenta, em sua pesquisa com empregadores, que 30% reconheceram que o quadro de empregados diminuiu e 79% deles respondeu que os motivos estão ligados à retração da atividade econômica no país. 26% afirmaram que aumentaram seu quadro e 44% disseram que o mantiveram. Os cortes de pessoal aconteceram principalmente na base da pirâmide: foram despedidos trabalhadores terceirizados e eventuais (a contratação caiu 19 pontos) e operários (-15). Todas as categorias registraram números negativos.

Maria Laura Calí, diretora da SEL, afirmou: “Depois de um 2014 com fortes cortes, no qual três em cada dez empresas reduziram seus postos, este ano a tendência negativa se mantém e afeta igualmente todas as categorias profissionais”. E acrescentou: “Em 2015 há uma maior manutenção depois do ajuste de 2014”. Segundo sua pesquisa, 63% das grandes empresas afirmaram que manterão seu quadro de trabalhadores este ano, mas não haverá novas contratações. No entanto, a criação de empregos em todas as categorias continua sendo negativa segundo essa mostra.

As suspensões atingiram seu teto de 2015 em julho, mas caíram 13% em relação ao mesmo mês de 2014. “Afetaram 12.119 trabalhadores, principalmente da indústria alimentícia, frigorífica, têxtil, frutas, comércio, automobilística, vinícola e siderúrgica“, informou a agência Tendencias Económicas.

Fonte: Fortunaweb.com.ar – 5 de agosto

Tradução: Helena Náhuatl

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