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quinta-feira, abril 25, 2024

Nobel da Paz e luta de classes na China

Liu XiaoboApós o desmoralizante Nobel da Paz concedido a Barack Obama no ano passado, o laureado deste ano foi o dissidente chinês Liu Xiaobo, condenado a 11 anos de prisão pelo governo de seu país por “incitar à subversão”. Inicialmente, o anúncio do prêmio rendeu as polêmicas esperadas: de um lado, os EUA clamaram por reformas políticas e respeito aos direitos humanos na China; Beijing, por sua vez, classificou a escolha como uma “obscenidade” e que poderá afetar as relações diplomáticas com a Noruega [1].

Liu foi preso por ter assinado, junto com outros intelectuais, um manifesto em 2008, a Carta 08, defendendo liberdades democráticas. A burocracia stalinista no poder classifica como subversivo alguém cujo único crime é advogar mudanças de forma pacífica. Assim como Liu, dezenas de ativistas são mantidos presos por uma ditadura que não admite contestações. Apesar disso, a escolha para o Nobel da Paz tem inegável caráter político. Ocorre em meio a fortes pressões dos Estados Unidos por concessões econômicas do governo chinês.

Washington acusa Beijing de manipular sua moeda e a Câmara dos Deputados aprovou recentemente uma lei autorizando o governo a impor tarifas à China. Além disso, a pretensa defesa da liberdade tem justificado disputas comerciais e territorias na região. Em conferência recente da Associação das Nações do Sudeste Asiático, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, afirmou o “interesse nacional na liberdade da navegação, no desenvolvimento econômico e do comércio sem restrições, em respeito ao direito internacional".

Nessa disputa, a questão dos direitos humanos está em último plano. Estará o imperialismo disposto a apoiar também as reivindicações dos trabalhadores chineses em suas recentes greves por aumentos salariais e melhores condições de trabalho? É pouco provável, uma vez que o capital tira largo proveito da mão de obra barata do país. O principal fator de atração de investimentos estrangeiros na China tem sido a superexploração dos trabalhadores, mantida por meio da repressão violenta às lutas da classe operária. Muitos ativistas são presos simplesmente por tentarem fundar sindicatos independentes da burocracia da Federação de Sindicatos da China.

Por outro lado, internamente, acirram-se as contradições. Na esteira do Nobel da Paz, um grupo de 23 veteranos do Partido Comunista da China divulgou carta aberta pedindo reformas políticas no país. As principais reivindicações do grupo são a liberdade de imprensa e o fim da censura. Até o premiê Wen Jiabao teve um discurso censurado ao destacar a necessidade de reformas políticas para preservar as “conquistas” resultantes da reformas econômicas. Mas, apesar de toda a expectativa criada, o Comitê Central do Partido encerrou sua reunião anual no último dia 18 limitando-se a compromissos vagos nesse sentido.

Para além dessas polêmicas que tiram o sono da burguesia, a classe trabalhadora continua se mobilizando e lutando não só por emprego e salários, mas por liberdades democráticas. Não lhe interessa a “pax burguesa” e seus prêmios internacionais, mas a luta revolucionária contra uma ditadura a serviço do capital.

Notas:
[1] O ganhador do Nobel da Paz é escolhido por um comitê indicado pelo Parlamento Norueguês.

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