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sexta-feira, março 29, 2024

Congo: Uma guerra financiada pelas multinacionais

O número de militares uruguaios na República Democrática do Congo passará de 800 para 1.600 soldados. O ministro de Relações Exteriores, Rodolfo Nin Novoa, confirmou que os últimos ajustes estão sendo feitos entre o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Defesa para atender ao pedido das Nações Unidas. O novo batalhão uruguaio se somará ao atual, que tem sede na cidade de Goma e que atua como reserva, ou seja, está a disposição para deslocar-se a qualquer momento. O Uruguai tem tropas no Congo desde 2001 e está presente no Sinai, na Colômbia, na República Centro-Africana, na fronteira Índia-Paquistão, no Líbano e até há pouco tempo, no Haiti, informou o semanário Búsqueda.

Por: Juan Ranchos

A verdadeira razão de fundo da guerra

O nome coltan é originário da abreviatura de dois minerais: columbita e tantalita, dos quais são extraídos o tântalo e o nióbio, que são utilizados em indústrias dedicadas à fabricação de aparelhos elétricos, usinas atômicas, mísseis, fibra óptica, fabricação de condensadores e de telefones celulares, laptops e muitos outros dispositivos. Empresas transnacionais como a Nokia e a Sony disputam a aquisição desse metal – declarado estratégico pelos Estados Unidos – e que atualmente tem um preço internacional de 400 dólares por quilo.

Jornalista congolesa e defensora dos direitos humanos

A jornalista Caddy Adzuba, denunciou: “Em todos os países onde há conflitos hoje, se escondem interesses econômicos: Síria, Iraque, Colômbia, Congo… Para fabricar smartphones, são necessários alguns minerais escassos e há países que os têm, como o Congo, que é um país imensamente rico com uma população empobrecida. Para fabricação de celulares, o coltan é essencial. É por isso a guerra é estimulada, para extrair este e outros recursos.

O mapa das violações dos direitos humanos coincide com o das minas de coltan. É verdade que as empresas de telefonia podem dizer que ninguém as viu travando uma guerra no Congo, mas existe o que chamamos de mão invisível, há os investidores da guerra. Quem financia as guerras também é criminoso, mesmo que não atire com o fuzil. As multinacionais financiam o conflito, os grupos rebeldes, para obter os minerais”.

O professor Bernardo Quagliotti de Bellis* reafirma em suas publicações esta visão

“A verdadeira razão de fundo da guerra, esta segunda guerra no Congo, é causada pela voracidade demonstrada por diversas multinacionais para aceder ao coltan, um mineral também conhecido como “o ouro cinza” (…), 80 % das reservas estimadas deste mineral é encontrado na República Democrática do Congo. (…) Os principais reservatórios de coltan são encontrados no subsolo das províncias do Leste do Congo, especialmente no departamento de Kivi do Norte, na região dos Grandes Lagos, na fronteira com Ruanda e Uganda, fiéis aliados dos Estados Unidos”.

O governo da Frente Ampla recebeu entre US$ 45 milhões e US$ 55 milhões anuais para participar das chamadas de “missões de paz”, que, na realidade, sob a batuta dos Estados Unidos e dos países europeus, estão a serviço da repressão e do roubo dos recursos desses países. O governo também utiliza essas missões como treinamento, para usá-los, se necessário, contra as mobilizações de estudantes e trabalhadores.

Nós da IST (Esquerda Socialista dos Trabalhadores) nos pronunciamos pela retirada imediata das tropas do Congo e de todos os países. “Um povo que oprime outros povos não pode ser livre”.

(*) Bernardo Quagliotti de Bellis: Professor emérito da Associação de Graduados da Escola Superior de Guerra do Brasil – Setor Rio Grande do Sul. Membro Correspondente do Centro Histórico e Geográfico de Soriano (Uruguai).

Artigo publicado no jornal Rebelión nº 47, junho de 2018.

Tradução: Rosangela Botelho

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