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quinta-feira, abril 18, 2024

Peru: a “esquerda” se compromete com Vizcarra

Para as organizações que se dizem de “esquerda” no país, a proposta de Vizcarra de realizar um plebiscito para a aprovação de sua “reforma política e judicial”, na qual incorpora impor “não reeleição” de deputados, se tornou uma bandeira de luta contra o seu único e verdadeiro arqui-inimigo: o Fujimorismo.

Por: Víctor Montes

No extremo, Veronika Mendoza (presidente do movimento Novo Peru) declarou publicamente que Vizcarra “assumiu que lhe cabe conduzir reformas urgentes para uma transição democrática” e em uma carta pública, a sua organização ” …  saudou a sua iniciativa de propor um plebiscito para consultar a cidadania “.

A direção da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), ainda que usando um tom “ameaçador” (“Vamos estar vigilantes, ativos e mobilizados”, diz o comunicado de 31 de julho),  começa afirmando que “o presidente Martin Vizcarra tem superado às expectativas”. Também expressa sua preocupação porque as reformas propostas pelo presidente devem passar pelo Congresso, onde “vão conspirar a ditadura parlamentar fujimorista e seus aliados”.

É claro que, para aquela “esquerda”, Vizcarra se tornou seu aliado. Na verdade, ela mesma se tornou o avô do atual presidente.

O antifujimorismo como (único) critério

A “justificativa”, que encontram, de Veronika Mendoza  até Mario Huaman (Partido Comunista) através da Patria Roja e companhia, é a “ameaça” do Fujimori.

Eles parecem esquecer que para além de qualquer atrito transitório, o próprio Vizcarra é resultado do pacto entre o Fujimorismo -para ser mais preciso, Fuerza Popular de Keiko Fujimori – e o partido do governo. Acordo que se baseia na continuidade do plano neoliberal e em levar “a festa em paz” até as eleições em 2021 para tentar garantir os lucros dos patrões.

É verdade que, dentro das propostas de “reforma política” há questões que levam o governo a um “confronto” com o Congresso Nacional. Especificamente sobre a questão da não reeleição de parlamentares, Vizcarra jogou para a tribuna – especialmente para a “esquerda” que ficou surpreendida -, e abriu uma frente com o Congresso, em particular, é verdade, com o fujimorismo.

O problema, par nós que queremos acabar com a podridão que destilam todas as instituições do Estado, é que a medida não ataca a corrupção. Não é mais do que uma “medida de impacto”, igualmente impotente contra a corrupção do sistema como as outras propostas por Vizcarra.

De que lada está a “esquerda”?

Na realidade, o que acontece é que, para as organizações de “esquerda”, a “luta contra a corrupção”, que eles identificam com a luta “contra o fujimorismo” e o Congresso dominado por ele. Daí a sua exigência de “fechamento do Congresso”, mantendo-se em silêncio em sete línguas ante Vizcarra e a continuidade da atual política econômica antioperária e antipopular.

Por que é tão perigosa sua política: porque ao mesmo tempo em que se comprometem com o governo, procurando um melhor posicionamento eleitoral nas eleições regionais e municipais deste ano, confundem os trabalhadores, levando água para o moinho do próprio Vizcarra, se oferecendo como escudeiros e escudeiras de seu plebiscito, renunciando inclusive de colocar à frente de sua demanda por uma Assembleia Constituinte, para apoiar o governo.

Preparam com isso, novas derrotas: a continuidade da corrupção e fortalecer um governo que já demonstrou, com o “gasolinaço” de junho, que pretende que sejam os trabalhadores que paguem o custo da crise.

Tradução: Lena Souza

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