O assassinato de Sonia Vera por seu marido Adolfo Trotte, com o qual era casada há 22 anos, e grande parte das reações diante deste fato expõem da maneira mais cruel o machismo existente em nossa sociedade.
Sem dúvida, este não é um fato isolado. Muito pelo contrário. Corresponde ao “típico caso” de violência contra a mulher que termina em morte. O mesmo machismo foi responsável por outros três “feminicídios” na semana passada: Gloria Carrera (Salto del Guairá), Sara Rotela (Pedro Juan Caballero), Edilaine Flecha (Ciudad del Este).
Uma Pandemia, segundo a ONU
Em 2010 foram registrados em nosso país um total de 2.030 denúncias de violência contra a mulher. Desse total, 410 denúncias foram por violência física, 861 por violência psicológica, 642 por questões econômicas e 177 por violência sexual. Isto equivale a 5 agressões por dia.
Entretanto, devemos ter claro que estas denúncias não expressam nem esgotam a realidade da violência contra a mulher, já que a maioria das mulheres vítimas de situações de violência acaba não denunciando por diversos motivos.
Segundo a ONU, a violência contra a mulher tomou ares de pandemia. Os dados de outubro de 2010 revelam que 59% das mulheres “sofrem diferentes tipos de violência: física, sexual, psicológica e econômica, dentro e fora de suas casas”.
Na maioria dos casos, apesar de familiares e inclusive a polícia terem conhecimento e de que os atos de violência tenham sido denunciados, não se consegue evitar os trágicos desenlaces, tornando palpáveis, desta maneira, a cumplicidade das instituições, a mediocridade dos mecanismos existentes e os limites de nossa sociedade para combater o machismo e proteger a vida das mulheres.
Não justifico, porém…
Em geral, nos casos de violência contra a mulher, ela passa a ser culpada pela violência que sofreu. “Alguma coisa ele deve ter feito”; “que tipo de mulher era”; “não fazia bem seus deveres”; “não lhe faltava nada, vivia de luxo”; ou tinha tal ou qual comportamento reprovável para a sociedade. Estas expressões e reações expõem que vivemos em uma sociedade que aceita e justifica a violência machista, e a consequência é que a maioria dos casos não avança ou termina inconcluso.
A vítima acaba sendo vítima não só do agressor, mas das instituições e de toda a sociedade. A justificativa é o caminho para a impunidade e só leva a mais machismo.
Em geral, em nosso país reina a impunidade, mas esta é mais traiçoeira e descarada nos casos que dizem respeito à mulher, e infinitamente pior quando a mulher é pobre.
A violência contra a mulher ocorre em todas as classes sociais, mas as possibilidades das mulheres da classe trabalhadora de se libertarem das agressões são mais difíceis devido à falta de emprego, de creches, de casas-abrigo e atenção psicológica, e de múltiplas formas de vulnerabilidade de oportunidades e direitos.
Nosso país precisa de mecanismos legais e instituições mais adequadas para responder a este flagelo.
O Estado deve garantir as condições necessárias para a libertação das mulheres de todo tipo de situação que a oprima.
Basta de violência contra a mulher!
Acabemos com o machismo!
Chega de impunidade!
Comitê Executivo do Partido dos Trabalhadores
Asunción, 14 de julho de 2011