qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Mulheres trans, prisioneiras políticas, denunciam violação de direitos na prisão da Nicarágua

Desde o início dos protestos contra a ditadura de Daniel Ortega e Rosário Murillo, ativistas pelos direitos das pessoas LGBTI têm participado na luta. Atualmente, a ditadura da Nicarágua mantém três mulheres transgênero como prisioneiras políticas em uma prisão para homens.

Por: Catalina Ibarra

De acordo com informações do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos e da Associação Nicaraguense Transgênero (ANIT), durante esses meses se contabilizam 5 mulheres trangênero presas politicas, mas atualmente só tem três na prisão La Modelo, penitenciária “para homens”, violando desde o início o direito à identidade dessas ativistas.

As detidas, de acordo com El Nuevo Diario, são Victoria Obando, estudante na UNAN – Leon Kisha Lopez, de Carazo em Jinotepe, e outra mulher cuja identidade permanece em segredo, a pedido da família.

Em uma carta divulgada pela Coordenação da Universidade Democracia e Justiça, a ativista de 27 anos, Victoria Obando, denunciou o tratamento degradante que sofrem como mulheres transgênero na prisão La Modelo.

Ela descreve como as levam para tomar banho de sol apenas duas vezes por semana durante 25 minutos, depois as desnudam na frente de centenas de prisioneiros e as forçam a fazer agachamentos.

Também aponta que os policiais gritam para elas “vamos, vamos inúteis”, “aqui somente há homens que penduram seus ovos e pênis”.

No entanto, Obando conclui sua carta afirmando que “mesmo assim, não desistimos e permanecemos rebeldes e firmes pela defesa de nossa identidade sexual”.

Luta contra a opressão, luta contra a ditadura

Em julho deste ano, Victoria Obando afirmou em um congresso de estudantes realizado na Argentina, que “Me faz sofrer a Nicarágua, no aeroporto estão esperando por mim, eu tenho que ir pela Costa Rica ou por Honduras para driblar, porque eles vão me matar”. Ela foi capturada pela Polícia Nacional e parapoliciais em 25 de agosto.

E não admira, pois, além do grande número de presos políticos da ditadura de Ortega-Murillo, até agora mais de 400 mortes são registradas.

E em momentos diferentes, ativistas LGBTI que participaram em manifestações contra a ditadura denunciaram perseguição, agressões e ameaças por parte do governo e grupos paramilitares.

Em julho deste ano, a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo para a América Latina e o Caribe (ILGA-LAC) publicou em seu site um comunicado denunciando a situação dos direitos humanos, onde expressou sua “solidariedade com as companheiras Samantha Sándigo, Mixie Agustina Gutierrez mulheres trans atacadas por grupos parapoliciais, também com Agustin Ezequiel Mendoza, Vladimir Maradiaga representante da ADISNIC, ativista LGBTIQ que está sob perseguição policial, Alex Ivan Aguirre Mairena, que foi atacado com uma arma de fogo pela polícia em um protesto, Alexa Zamora coordenadora da Plataforma Nacional da Juventude e com todas as pessoas LGBTI que hoje são perseguidas ilegalmente, detidas ilegalmente, intimidadas, espancadas e assassinadas.”

A luta pela defesa dos direitos humanos da população LGBTI não está separada da luta contra a ditadura de Ortega-Murillo. Muitos ativistas LGBTI entenderam isso na Nicarágua e é por isso que eles participam do movimento de protesto contra o governo.

Hoje, mais do que nunca, é evidente a necessidade de um partido revolucionário na Nicarágua, que combata a ditadura com toda a força até que ela caia. Mas também combata os setores empresariais como a COSEP, que também não garantiram os direitos da população LGBTI, mas se aproveitaram dessas opressões para dividir e extrair maiores lucros à custa do sofrimento de um setor da classe trabalhadora.

Hoje, a luta pela defesa dos direitos humanos das mulheres trans detidas e de todas as pessoas LGBTI na Nicarágua é parte da luta contra a ditadura. E a libertação total das opressões só pode ser alcançada com um projeto verdadeiramente socialista.

A carta completa de Victoria Obando da prisão

#ColectivosFeministas

#MesaNacionalLGBTI

# Juventud2.0

#NicActivistas

– Abrace-me quando mais precisar!

Desta vez falarei sobre os terríveis maus-tratos que recebemos aqui, começando com o desrespeito pela integridade física e psicológica que recebemos todos os “terroristas”; e mais ainda, nós mulheres transgênero.

Levam-nos ao pátio (sol) duas vezes por semana durante 25 minutos e ao voltar para a prisão nos despem completamente na frente de todos os nossos companheiros, 103, bem como nos expões a outros presos trabalhadores, que estão construindo uma prisão aqui em frente, fazendo disso uma grande humilhação, forçando-nos a fazer agachamentos, ato que nos enche de vergonha e indignação por ter que expor nossos corpos dessa maneira degradante.

O mesmo acontece na saída da prisão quando nos levam aos tribunais, neste caso com os oficiais e seus gritos constantes e ofensivos “vamos, vamos inúteis”, “aqui só há homens que penduram seus ovos e pênis”. O mesmo acontece com a entrada e saída de visitas familiares e conjugais.

Eles não nos permitem a entrada de nossos objetos pessoais (roupas íntimas necessárias e cremes) absolutamente nada.

Nós identificamos Kisha, Carolina e eu e compartilhamos com outros membros da comunidade (nossa comunidade LGBTIQ) que nos dizem para não expressar sua orientação e sua livre sexualidade por medo de sofrer ainda mais repressão.

Definitivamente aqui o abuso psicológico é grave, nos contam diariamente para garantir que ninguém escapou, às 5h00; e 14:30hs, junto a cada contagem um tempo de refeição a base de arroz com feijão cheio de pedras e, na maioria das vezes, duros.

Isso deixa mais do que evidente o árduo trabalho que nos aguarda na falta de fato do exercício de defesa dos direitos humanos da procuradora Lic. Samira Montiel.

Mesmo assim, não desistimos e permanecemos rebeldes e firmes antes de tudo pela defesa de nossa identidade sexual.

Com amor: Victoria Obando Valverde

#Leyde # IdentidadDeGénerParaNicaraguaYa!

Tradução: Lena Souza

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