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terça-feira, abril 23, 2024

Eleições no México: Porque votaremos “nulo”

No dia 1 de julho será a eleição para presidente e para mais de 3600 candidaturas federais, estaduais e municipais no México. Há mais de um ano os donos do dinheiro e do poder e todos seus dirigentes políticos e sindicais, se assustaram ao ver o país inteiro nas ruas, se mobilizado e exigindo Fora Peña!

Por: CST México

Entraram em pânico ao ver a possibilidade da queda de seu regime. Fizeram de tudo para tirar o povo das ruas e coloca-lo no “tubo” da campanha eleitoral. Controlando os meios de comunicação de massa, eles vêm a longos meses martelando na cabeça da população a ideia de que seu destino, seu futuro e o futuro do México dependem do resultado das urnas.

Os capitalistas locais e seus chefes gringos temem que “o tigre se solte de suas amarras”. Assim falam entre eles sobre nós, quando os trabalhadores e os camponeses pobres tomamos a política em nossas próprias mãos e a defendemos com a mobilização. Para impedir isso, têm suas instituições de poder político, seu Estado. E exigem que tudo se resolva dentro delas. Com suas leis, seus partidos políticos, seus deputados e senadores, seus juízes, seu INE (Instituto Nacional Eleitoral), seus generais e almirantes assassinos e, em especial, com seus Presidentes.

A isso chamam de democracia! Essa “democracia” dos ricos e para os ricos é acima de tudo uma democracia colonial. Porque primeiro se vota em Washington e depois nos trazem a simulação do 1ºde Julho ao México. Por isso antes que o povo vá às urnas, os candidatos já se submeterem ao exame ante os banqueiros em Acapulco ou deram suas voltas pelos EUA para fazê-lo ante os representantes do imperialismo.

Os donos do dinheiro e do poder conseguiram que as “eleições” sejam um tema dominante. Não há conversa familiar, entre vizinhos ou entre amigos e companheiros de trabalho ou estudo que não resulte em debate e até polêmica política eleitoral. Somente o gol de triunfo de Chucky Lozano diante da Alemanha conseguiu que o mundial de futebol ofuscasse esses debates nestes dias, provocando uma euforia pelas cores nacionais. Mas enquanto a atenção popular se distrai com a campanha eleitoral e o espetáculo do futebol mundial, se acelera ao máximo o saqueio dos recursos energéticos e naturais. Agora EPN (Enrique Peña Nieto) assinou decretos para privatizar 300 bacias hidrográficas, 55% desse recurso!

 A “esperança do México” dentro das urnas?

Assim chegamos ao intenso e polarizado processo eleitoral de 2018, onde às massivas ânsias populares de derrotar o odiado regime do PRI (Partido Revolucionário Institucional) apresenta somente uma “opção”: votar para presidente por outros 6 anos em um candidato daqueles partidos ou em “independentes” que a oligarquia estrangeira e local aceitaram registrar através de seu INE ou seu TEPJF, porque garantem seus lucros. Isto é, a cada sexênio chamam os pobres para que “elejam” um dos representantes dos ricos.

Essa é a situação atual com o fenômeno massivo que se estende a todo o território nacional, do apoio eleitoral ao – pela terceira vez – candidato a presidente, Andrés Manuel López Obrador (AMLO) e seu partido Morena. Há grandes expectativas entre milhões de explorados e oprimidos. E essa esperança se transforma, em não poucos casos, em cegas ilusões. Estas expectativas são produto direto da situação insuportável, do cansaço pela corrupção oficial, das ânsias massivas de expulsar a “máfia do poder” e, do mais importante: a atual falta de alternativas reais à vista. Os trabalhadores não tivemos e ainda não temos uma representação política legítima da nossa classe. Durante décadas se encarregaram de sepultá-las ou corrompê-las.

Nesse contexto, as opiniões populares vão desde o ceticismo e total desconfiança de todos, até os que predicam “a esperança” como um evangelho e esperam AMLO como “O Salvador”. No meio fica uma grande maioria: os que vem AMLO como o menos pior, ou como o menos corrupto, ou como um “paliativo ante o desastre” ou que se ganhar “pode levantar a moral e a participação das pessoas”. Ou simplesmente…”o mais viável para não votar no PRIAN”.

A mudança que todos ansiamos não virá das urnas nem das mãos de AMLO

Muitos que anseiam uma mudança de regime e um país soberano, confiam que AMLO quer realizá-lo. Neste aspecto queremos estabelecer um diálogo fraternal e respeitoso com os milhares de lutadores, operários, professores e camponeses que confiam em AMLO para concretizar suas aspirações de justiça e liberdade e para conseguir mudanças de fundo, porque promete “mudanças”. Mas AMLO somente oferece ambiguidade e continuidade das políticas dos governos dos últimos 30 anos. Seu projeto alternativo de Nação reproduz muitos dos esquemas neoliberais que mais danos causaram aos trabalhadores e ao país. Basta analisar os personagens provenientes da “máfia no poder” ou ligados a ela por laços “carnais” que AMLO propôs para integrar as 20 secretarias de seu futuro governo. Que milagre transformará funcionários do Banco Mundial, Monsanto, TV Azteca, milionários capitalistas e gerentes das corporações estrangeiras em “defensores da mudança”?

Para piorar, soma-se o aluvião de priistas, perredistas e pelegos sindicais – como Napito e Elba Esther – que se “limpam” entrando no barco de Morena com passagens VIP para deputados, senadores, governadores, prefeitos e vereadores …Quem crê que todos esses recentes “migrantes” políticos, responsáveis pelo “Pacto contra o México”, culpados de afundar o país com suas leis, agora vão salvá-lo?

Não vemos nenhuma demonstração de que AMLO queira mudanças reais. Propõe uma mudança de pessoas. Mas não de instituições nem de sistema. Ante a pergunta sobre o TLCAN (Tratado de Livre Comércio da América do Norte) – o principal instrumento de subjugação do México – a resposta de AMLO é: Necessário. Ante o NAICM (Novo Aeroporto Internacional da Cidade do México), bastou que o magnata Slim defendesse seu negócio, para que AMLO lhe oferecesse a concessão privada “se quer fazê-lo é seu dinheiro”. Abandonou de um dia para outro milhares que lutaram e continuam lutando contra esse megaprojeto destrutivo, que somente é um meganegócio para a “máfia no poder” e seus donos capitalistas.

Com relação ao desmantelamento da Pemex e dos contratos de leilão de áreas petrolíferas, embasados na lei “reforma energética”. Propõe “revisar” os contratos, mas já disse “durante 3 anos, não tocarei nas leis” de EPN. A recente amável reunião entre AMLO e Larry Fink, dono de BlackRock – o megabanco do mundo que está comprando o City Banamex e monopolizando a maior parte do petróleo e oleodutos mexicanos – depois da qual anunciaram que houve “grandes acordos” é outro sinal de alarme. Ante a violenta repressão aos professores da CNTE, nem uma palavra de AMLO em repúdio ao governo nem em solidariedade com a atual luta em defesa da educação pública…

E assim há uma longa lista. Em vez de manter uma postura firme contra essa – como AMLO mesmo disse – “minoria de rapina que causou muito dano ao país, porque em boa medida são responsáveis pela tragédia nacional”, o candidato favorito terminou levantando uma bandeira branca e enviando-lhes um “sinal de amor e paz”. Não haverá paz para o povo se esses capitalistas “de rapina” não forem derrotados. Toda essa estratégia de AMLO: “bandeira branca” com os oligarcas e amor à primeira vista com BlackRock é um suicídio ou um engano consciente. Não haverá amor e paz, pactuando com os capitalistas a rendição do povo, através dos que se postulam para governá-lo.

Não votaremos em nenhum dos candidatos. Anularemos a cédula. Voto nulo

Todos os outros candidatos são representantes políticos da “minoria de rapina”, agentes da colonização e da destruição do México. São repudiáveis tanto José Meade, filho de Peña Nieto e Videgaray, como Ricardo Anaya, esse ricaço demagogo que lava dinheiro e mantém sua família nos EUA. Não merecem mais comentários. No entanto, por tudo o que foi exposto acima, não confiamos que AMLO e seu governo – que tem as maiores possibilidades de ganhar – realizem as mudanças que milhões esperam, para que deixemos de “ser sacos de pancada de governos estrangeiros”. Na votação não apoiaremos nenhum dos candidatos.

Por outro lado, muitas centenas de milhares, inclusive milhões, rechaçam o sistema eleitoral trapaceiro do regime da “democracia para ricos” e tomaram a decisão consciente de não ir votar, de abster-se porque consideram uma farsa. Compartilhamos plenamente desse rechaço. Mas não chamamos à abstenção. Iremos votar. Anularemos a cédula para expressar ativamente nosso rechaço. E convocamos a fazê-lo os que compartilham de nossa opinião.  O INE o considera “voto nulo”. Mas “nula” é nossa confiança em todos os candidatos do regime.

Mas temos plena confiança nos milhares de lutadores e milhões de humildes trabalhadores que aspiram conseguir as mudanças que precisam e anseiam através de AMLO. Queremos mobilizar-nos junto a eles para realmente varrer toda a máfia do poder e castigá-la por seus crimes. Por isso, respeitamos suas preferências atuais de voto, ainda que não compartilhamos.

Continuaremos apoiando incondicionalmente suas batalhas e acompanhando a experiência política que façam. Continuaremos junto a esses milhares de companheiros como até agora, dando-lhes nossa opinião com franqueza e respeito. E continuaremos muito mais a seu lado nas lutas em curso como a da CNTE, telefonistas, petroleiros ou comunidades e povos oprimidos. Continuaremos apoiando-lhes sem condições nas batalhas que se darão no próximo período dos inevitáveis choques entre explorados e exploradores, qualquer que seja o rumo do futuro governo. E nesse caminho construiremos a partir da base uma verdadeira alternativa política independente dos trabalhadores e para os trabalhadores, que lidere a todos os explorados e oprimidos.

Corriente Socialista de los Trabajadores de México – Liga Internacional dos Trabalhadores CST – LIT-QI

Tradução: Lilian Enck

 

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