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sexta-feira, março 29, 2024

General admite que abusos sexuais "podem acontecer" no Haiti

“No preto no branco, no final das contas, você tem homens e mulheres”, diz em entrevista ao Brasil de Fato o general brasileiro Carlos Alberto Santos Cruz, comandante das tropas da Minustah

Crianças no Haiti estão sofrendo abusos sexuais por integrantes das tropas da ONU, lideradas pelo Brasil. Os crimes, já divulgados em outras ocasiões, estão sendo novamente denunciados por um relatório recente da organização não-governamental britânica Save the Children.

O relatório analisa casos de abusos cometidos no Haiti, Costa do Marfim e no sul do Sudão. Intitulado Ninguém a quem recorrer – A pouco denunciada exploração sexual infantil por funcionários de ONGs e tropas de paz, o documento diz que as vítimas têm idade a partir de seis anos e são de ambos os sexos. Entre os abusos relatados pelas crianças entrevistadas, encontram-se estupro, prostituição infantil, escravidão sexual, pornografia, troca de sexo por comida, entre outros.

O relatório destaca que as tropas de paz da ONU “são uma fonte particular do abuso”, especialmente no Haiti e na Costa do Marfim. Em dezembro do ano passado, as Nações Unidas decidiram extraditar 108 soldados do Sri Lanka que atuavam na Minustah após terem sido acusados de violações de mulheres e menores haitianos. As acusações estão sendo investigadas pelo governo do Sri Lanka, sob auspício das Nações Unidas. As vítimas no Haiti estão sendo ignoradas do processo.

“É possível acontecer”, diz general

O general brasileiro Carlos Alberto Santos Cruz, comandante das tropas da Minustah, disse desconhecer o relatório que detalha as acusações de abuso. O escândalo, que à época foi condenado pela ONU, foi amenizado pelo general Santos Cruz ao indicar que a responsabilidade não é exclusiva de seus soldados.

“Isso é um caso possível de acontecer e não tenho conhecimento do relatório para saber qual é a extensão com que isso aí aconteceu. Neste tipo de ambiente, pode acontecer este tipo de relacionamento problemático e ter um caso semelhante. Não sei quem é responsável pelo o quê”, disse Santos Cruz em entrevista ao Brasil de Fato. “No preto no branco, no final das contas, você tem homens e mulheres”, acrescentou.

A reação de Santos Cruz foi criticada pela plataforma de defesa dos direitos da mulher SOFA. “Como costuma acontecer em caso de violações, tentam culpar a mulher de ter sido vítima de quem detêm o uso da força. É inacreditável que essa seja a avaliação deste general”, critica Marie Frantz Joachim, da direção da SOFA.

“As agressões sexuais das quais são vítimas as mulheres e menores haitianas são conseqüência direta da ocupação do país pelas tropas estrangeiras”, diz um documento que foi entregue ao Ministério da Condição Feminina e Direitos da Mulher e ao Ministério de Justiça, no qual solicitam a constituição de uma comissão haitiana para acompanhar o julgamento que está sendo realizado pelo governo do Sri Lanka.

*Da Agência Brasil de Fato

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