sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

CAP-HAITIEN: "AQUI NAO HA PATROES, SAUDAMOS VOCES"

Ando por Porto Principe pela manha bem cedo. As ruas estao sempre cheias. Com um desemprego de 80%, o povo haitiano se dedica e vender de tudo pelas ruas. Os carros usam as buzinas para abrir caminho com um barulho muitas vezes infernal. O povo negro, de uma beleza que impressiona, se mistura com os sinais evidentes da miseria. O lixo se espalha em grandes montes por todos os lados.

 

E hora de viajar. Vamos para Cap-Haitien, ou Le Cap como chamam os haitianos. Esta e talvez a cidade mais importante economicamente do pais e foi um dos centros da revolucao dos escravos. A estrada e sinuosa, cheia de buracos. Vamos num onibus que acompanha a delegacao, cedido por uma universidade. Sete horas depois, chegamos a Le Cap. Somos recebidos numa sede de Batay Ouvriere e depois levados para o local do ato que nos espera.

 

A entrada no ato poe lagrimas nos olhos de muitos de nos. Vestidos com as camisetas azuis de Batay Ouvriere, quatrocentas pessoas cantam em creole de forma ritmada, no estilo africano que lembra o candomble brasileiro ou o gospel dos negros americanos. Vamos entrando e a musica ecoa no amplo salao: “saudamos voces, saudamos voces, aqui nao ha burgueses, aqui nao ha patroes, saudamos voces”.

 

Sentamos em cima do palco, eles continuam a cantar em creole: “soubemos que a burguesia armou uma cilada para matar alguns dos nossos. Que venham eles, somos touros, somos fortes”. Todo o cansaco da viagem desaparece. A referencia as armadilhas da burguesia tem uma explicacao: ali estao representantes dos trabalhadores semterra que, em

2002, tiveram dois dos seus assassinados numa ocupacao de terra pela repressao do governo de Aristides.

 

Toninho chama um a um da delegacao brasileira. Eles tambem se apresentam: sindicatos de operarios de uma industria de refrigerantes, outra de cerveja, operarios rurais, trabalhadores sem-terra, associacoes de bairros, estudantes.

 

Batay Ouvriere tem uma forca importante na regiao. Uma de suas dirigentes me conta que fazem atos no 1? de maio com passeatas que passam em todos os bairros de trabalhadores, chegando a reunir dez mil pessoas. E a vanguarda deste povo que nos recebe hoje.

 

Falam os brasileiros. Toninho apresenta a Carta que trouxemos do Brasil e mostra a identidade da luta deles com a nossa. Janira fala da luta do MTL. Dayse lembra a identidade racial e de classe na luta brasileira e haitiana. Em cada fala, aplausos fortes.

 

Eu homenageio seus dois mortos e os mortos do PSTU no Brasil, Ze Luis, Rosa, Gildo. Aderson fala como a luta contra as tropas vai ter um avanco depois desta viagem. Varios dos dirigentes da regiao tomam a palavra. Um deles diz que e necessario lutar contra os oportunistas que dizem falar em nome do povo. Cita Lula e Aristides e fala de como trairam as esperancas dos trabalhadores. O Ato termina com muitos dancando e, em coro, cantado em creole: “Haja coracao!

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