sáb abr 20, 2024
sábado, abril 20, 2024

Fora Obama de El Salvador, pela ruptura com o imperialismo!

Nos próximos dias 22 e 23 de março, visitará nosso país o presidente da maior potência imperialista do mundo, os Estados Unidos da América. Em teoria, segundo alguns jornais burgueses, Barack Obama estaria viajando para "construir novas alianças para o progresso das Américas". Como era de se esperar, os diversos setores políticos do país interpretam o evento de forma diferente.
 
A direita está de acordo, o governo lisonjeado, e a FMLN, em festa
 
A ANEP[1] sente-se muito confortável com a visita de Obama, apesar de seu instrumento tradicional, a ARENA[2], manter uma fachada de crítica em relação ao governo [salvadorenho], argumentando – ou insinuando – que a visita de Obama estaria ligada a uma preocupação com os níveis de criminalidade que afetam o país.
 
De sua parte, o governo se sente lisonjeado com a visita do líder imperialista e, em consonância com seu discurso carente de princípios, o presidente Maurício Funes declara que aqueles que rotulam os EUA como país imperialista “não amadureceram e não se deram conta que os tempos mudaram”, ao mesmo tempo em que, igualmente coerente com o discurso do mesmo Funes, a cúpula da FMLN – pela voz de Roberto Lorenzana – afirma "que a FMLN se sentir regozijada pela visita do mais alto Chefe do Executivo norte-americano”.
 
Com a visita de Obama, evidencia-se a política pró-imperialista do governo, no qual, como já vimos, a cúpula da FMLN é a primeira a se colocar de joelhos e beijar a mão do “senhor” imperialista. Tudo isso como o propósito de demonstrar na prática que seu governo apoia o principal imperialismo do planeta.
 
A podridão dessa liderança burocrática já chegou à sua máxima expressão – não nos esqueçamos que o governo da “Mudança” portou-se como bom filho obediente e sem questionamentos, aplicando, em matéria de política externa, os mandamentos do imperialismo ianque; o que ficou demonstrado regionalmente, à medida que esse governo é a ponta de lança para que se reconheça junto à OEA e à ONU o governo de Pepe Lobo em Honduras, governo repressivo e assassino e continuador do golpe de Estado [naquele país]. Além do que esse governo reafirma um total compromisso em manter diferentes projetos imperialistas no país; por exemplo: a construção de barragens, projetos de mineração, a dolarização, o pagamento da dívida externa, a repressão aos imigrantes, o TLC (Tratado de Livre Comércio), entre tantas outras medidas.
 
Se de fato se tratava de um governo de esquerda ou da classe trabalhadora, ele deveria ter retrocedido a todas essas medidas; mas, ao contrário, ele as aprofunda e ratifica com a visita de Obama.
 
A que se deve a visita de Obama ao nosso país e à América Latina em geral
 
Em nossa opinião, a visita do comandante-em-chefe da contrarrevolução mundial – Obama – tem pelo menos dois objetivos centrais na atual conjuntura da América Latina, os quais se depreendem a partir do discurso do presidente norte-americano quando do relatório anual presidencial ao Congresso Bicameral dos Estados Unidos, em que literalmente expressa a procura por parceiros, na América Latina, que "assumam responsabilidades”.
 
O primeiro desses objetivos, coerentes com o discurso, teria a ver com o avançado processo de recolonização de nossos países, especialmente de El Salvador; ou seja, a visita viria a dar um novo impulso à política pró-imperialista do atual governo Funes – Cúpula da FMLN, a qual se expressa em temáticas como a dolarização, a validade do TLC, a enorme dívida pública e, com a referida visita, estaria sendo reconhecido o "mérito" do atual governo em não questionar as medidas pró-imperialistas tomadas pelos governos de direita e continuadas e aprofundadas pelo atual; e, nesse sentido, Obama teria no governo salvadorenho um parceiro cumpridor com suas responsabilidades na manutenção inquestionável da recolonização do país.
 
Além disso, o outro objetivo (e talvez o mais importante) tem a ver com a atual crise do capitalismo. O imperialismo norte-americano, como está sendo feito na Europa, necessita, para se recuperar, desencadear uma verdadeira guerra contra os trabalhadores, tanto de seu próprio país como de suas semi-colônias.
 
Isto significa, como já vimos na Europa há alguns meses e hoje, no próprio coração do império ianque, com a luta dos trabalhadores em Wisconsin, demissões em massa no setor público e privado, aumento na idade de aposentadoria, cortes fortíssimos na educação pública, etc. e, nesse sentido, Obama precisa de um parceiro que assuma a responsabilidade de desencadear essa guerra social contra os trabalhadores salvadorenhos, sendo mais uma vez esse "sócio" o atual governo em nosso país.
 
Contra a repressão e criminalização dos imigrantes salvadorenhos
 
O imperialismo ianque explora o trabalho de milhões de salvadorenhos que vivem nos Estados Unidos, enquanto o governo de Obama desencadeia toda uma política de repressão, criminalização e aplicação de leis racistas, violadoras dos mais fundamentais direitos humanos de nossos irmãos naquele país. Assim, a visita de Obama acontece em um clima de assassinatos e perseguição aos imigrantes, os quais, ainda que não se queira reconhecer, são parte fundamental do proletariado mais explorado do planeta: os imigrantes latino-americanos que realizam trabalhos que a maioria dos americanos não estão dispostos a fazer.
 
Desde já devemos exigir que o governo tenha uma política clara ante esta problemática, que exija do imperialismo: o fim das leis racistas que criminalizam os imigrantes, a legalização de todos os imigrantes salvadorenhos e o respeito a seus direitos trabalhistas e sociais em condições de igualdade com os trabalhadores americanos.
 
Deve-se parar igualmente com a repressão nas fronteiras, onde verdadeiros exércitos armados até os dentes reprimem os/as imigrantes que procuram melhores condições de trabalho para retirar suas famílias da pobreza crescente em nosso país. Todas as organizações populares e sindicais devem solidarizar-se com nossos irmãos salvadorenhos que, mediante o envio de remessas de dinheiro do exterior, mantém a salvo esta economia em decadência, e é por isso que a política do atual governo é uma política hipócrita, já que se conforma com as migalhas que o imperialismo oferece a um pequeno setor de imigrantes salvadorenhos, estendendo-lhes os vistos de trabalho temporários, enquanto a grande maioria é mantida em condições de clandestinidade e exposta à repressão e deportação.
 
Enquanto isso, a burguesia aproveita desse fluxo de milhões de dólares em remessas, principalmente porque elas permitem que as famílias comprem seus bens necessários, fazendo com que os capitalistas vendam sua produção no país, de modo não só a gerar um aumento no lucro por causa dos baixos salários, como também vender os seus bens para os capitalistas. Por outro lado, é possível – ao vincular essas informações apresentadas pelas remessas com as informações do TLC – constatar que a maioria dos recursos que entram e saem do país estão indo para os Estados Unidos, demonstrando o quanto a atividade comercial nacional está ligada com a norte-americana.
 
Devemos rejeitar as medidas imperialistas
 
Neste contexto, a partir da UST (Unidade Socialista dos Trabalhadores) devemos denunciar as políticas pró-imperialistas do atual governo, tanto no aprofundamento da recolonização do país, quanto no compromisso de descarregar a crise capitalista sobre os ombros da classe trabalhadora. Devemos, também, denunciar a direção do FMLN como cúmplice dessa contrária aos interesses da classe trabalhadora salvadorenha. É nesse sentido que apelamos a todos os trabalhadores para uma mobilização em 22 de março.
 
Exigimos: a legalização imediata de nossos irmãos "sem papéis" nos EUA, a cessação da política Obama-Funes de repressão nas fronteiras, a retirada da base militar ianque em Comalapa, a remoção do ILEA[3] do solo salvadorenho e a solidariedade com a luta dos(as) trabalhadores(as) de Wisconsin.
 

[1] Asociación Nacional de la Empresa Privada.

[2] Alianza Republicana Nacionalista – partido da direita salvadorenha.

[3] International Law Enforcement Academy; literalmente, “Academia Internacional de Aplicação da Lei”, projeto norte-americano de expansão de suas academiais de formação policial para outros países.
 
Fonte: O Proletário nº 10, março de 2011.
 
Tradução: Paulo Bonfim

 
 
 

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