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quinta-feira, março 28, 2024

El Salvador: A eleição de 2019, primeiras lições

Terminou o processo eleitoral presidencial salvadorenho, falta somente a posse dos ganhadores e que sejamos testemunha do processo de transição entre o governo sainte e o entrante. E depois de todas as diferentes situações ocorridas e dos momentos desagradáveis, próprios de toda campanha eleitoral (principalmente por todos os vácuos e falta de resposta às necessidades da classe trabalhadora salvadorenha), nos resta analisar as lições “puras e duras” que esta eleição nos deixa.

Por: PCT El Salvador

Foi possível constatar que as pesquisas tinham razão, mas também pudemos confirmar que o eleitorado salvadorenho ratificou que está farto, ao expressar sua mais profunda rejeição à maneira como vem sendo conduzido o destino do país. Essa foi a razão pela qual votaram castigando duramente a quem consideram culpados diretos por suas condições de vida paupérrimas, não só por viver isso na própria pele, como também pela repetição até o cansaço desse discurso pelo atual presidente eleito, que conseguiu tomar como bandeira esta crítica incisiva ao status quo.

Mas devemos analisar alguns fatos nesse contexto… a votação não foi massiva. O candidato ganhador apostou em convencer o eleitorado que tinha que ir votar massivamente para que esse fenômeno significasse não só a rejeição em alto e bom som tanto à Aliança Republicana Nacionalista (ARENA) como à Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), como também para garantir uma vitória no primeiro turno e para anular a possibilidade de fraude. Os dados nos dizem que só 51,8% dos salvadorenhos votaram no dia 3 de fevereiro.

Independentemente da necessidade de depuração da lista de votantes, a realidade é que a participação na eleição foi uma das mais baixas do período democrático do país. Ou seja, que nenhum dos candidatos e suas propostas eleitorais, incluindo o presidente eleito, foram capazes de convencer a quase a metade dos salvadorenhos, a necessidade de ir votar. A proposta não entusiasmou, nem muito menos convenceu.

Este dado deve colocar todos os atores políticos para pensar, principalmente a quem ganhou uma eleição com uma participação tão baixa e certamente, aos partidos tradicionais que não conseguiram o apoio obtido nos processos anteriores.

Os números finais foram os seguintes:

ARENA perdeu nessa eleição mais ou menos 40% dos votos que obteve na eleição presidencial passada e para a FMLN, a perda de votos foi de mais ou menos 80%. Grande Aliança para a Unidade Nacional (GANA) teve números que jamais sonhou ter, se não tivesse servido para que Bukele participasse e VAMOS, o Partido de Concertação Nacional (PCN), a Democracia Salvadorenha (DS), e o Partido Democrata Cristão (PDC) (esses últimos apesar de formar parte da coalizão de direita) tiveram uma participação anedótica na eleição, já que o voto nulo e as abstenções ultrapassaram seus votos.  A quarta força eleitoral, fomos os que nos manifestamos na eleição anulando ou votando em branco.

Mas, a leitura deve ser somente que ganhou Bukele (GANA)? Acreditamos que não. O eleitorado castigou duramente a ARENA e a FMLN, aos quais já havia enviado uma mensagem aberta nas eleições de março de 2018.

Esses partidos continuam demonstrando a total desconexão com o povo e seu total desprezo ao sentimento das grandes maiorias; continuam respondendo não aos interesses do povo, dos trabalhadores, mas aos de seus financiadores e donos, a grande burguesia do país. Estas realidades tanto de um lado do espectro político como do outro, se evidenciam inclusive nas suas propostas e planos do governo.

Se a isso somamos os terríveis escândalos de corrupção, desperdício e podridão na gestão dos assuntos públicos podemos começar a entender porque o povo preferiu votar em alguém sem experiência, com sinais de populismo, que apresentou um plano de governo que essencialmente não rompe com o neoliberalismo e como, além disso, esse mesmo eleitorado perdoou ao hoje presidente eleito, sua escassa vocação democrática ao não participar de debates e de mudar de partido político e até de ideias política para ser candidato.

Tudo isso não importou para o salvadorenho que foi às urnas e deu a vitória a Bukele. Por quê? Aqui é onde devemos reconhecer que Bukele conseguiu não só ler e se conectar com o sentimento das pessoas, como também construiu com habilidade uma imagem de “redentor”, de ser alguém diferente a todos os demais (apesar de ser oriundo e aliado dos que ele chama “os mesmos de sempre”).

Acreditamos que aí está a mensagem central das eleições. Existe um grande espaço para construir alternativas, devido a deterioração do sistema tradicional de partidos políticos, isso é o que soube aproveitar Bukele.

É dessa análise que se desprende a urgência para os revolucionários de organizar e convocar as massas trabalhadoras, as organizações populares, sindicais, camponesas, da juventude e os estudantes, que ficaram órfãos de um instrumento, a construir novamente, partindo dos princípios e as ideias socialistas, sem concessões e desvios. Se as mesmas massas votaram hoje, em quem elas acreditavam ser a opção “menos pior” (inclusive para um importante número de salvadorenhos, se transformou em uma esperança de mudança para o país), nosso dever como revolucionários é apontar pacientemente, que Bukele será mais uma decepção, já que a burguesia não se suicida.

Além disso, em seu programa não existe nada que nos faça pensar que irá romper com o imperialismo ou que iniciará um caminho de mudanças reais, o contrário, a partir do Plano Cusclatlan podemos afirmar com total certeza que o neoliberalismo continua, de vento em popa, em El Salvador. Vai continuar a privatização dos serviços públicos através das parcerias público-privadas, não vai romper os Tratados de Livre Comércio (TLC´s), não vai recuperar a moeda nacional, não vai nacionalizar empresas públicas privatizadas, nem vai romper com a política de austeridade no estado.

É por essa razão que a única saída que temos, os revolucionários e a classe trabalhadora, é a construção de nosso próprio instrumento, através da formação política, a organização e mobilização permanente da classe. Devemos convencer a classe trabalhadora, que enquanto ela mesma não toma o poder, governe o burguês que governar, não realizará a ruptura necessária com o capitalismo voraz que esmaga o trabalhador e, portanto as condições de vida deploráveis continuarão.

Enquanto isso, devemos levantar a voz para fazer a experiência com as massas e exigir que as promessas com as quais Nayib Bukele chegou ao governo e que são em benefício da classe se materializem, lutar contra as medidas que já estão anunciadas no Plano Cuscatlan e que serão contra o povo trabalhador. Quando o trabalhador descubra que também Bikele é mais do mesmo, devemos estar ao seu lado para organizá-lo mobilizá-lo e juntos, lutar pela construção do socialismo.

San Salvador, 11 de fevereiro de 2019

Secretariado da PTC

Tradução Vitor Jambo

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