qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Cantores cubanos pedem mudanças no regime

Dois conhecidos cantores e compositores cubanos, Pablo Milanés e Silvio Rodríguez, deram entrevistas recentemente.
 
No último dia 13 de março Pablo Milanés falou ao diário espanhol El Mundo, durante uma apresentação na Espanha.
 
Silvio Rodríguez apresentou no dia 26 de março, Segunda Cita, seu mais recente disco, durante uma coletiva em Havana. Apresentamos os principais trechos das entrevistas.
 
Entrevista com Pablo Milanés: “Transformaram-se em reacionários de suas próprias idéias”.
 
Por que o senhor fala mais que seu povo?
 
Mais um pouquinho, sim. Aos povos é preciso dar-lhes oportunidade de falarem. Eu tenho o privilégio de ter mais informação que meu povo.
 
De que “calada maneira” falam os cubanos?
 
Os cubanos falam através da gozação. A gozação nos salva da amargura.
 
Que greve merece Castro se Fariñas morrer de fome?
 
É preciso condená-lo desde o ponto de vista humano. Essas coisas não se fazem. As idéias se discutem e se combatem, não se encarceram.
 
Que fizeram os revolucionários com a Revolução?
 
Pararam no tempo. E a História deve avançar com idéias e homens novos. Transformaram-se em reacionários de suas próprias idéias. Por isso disse que faz falta outra revolução, porque temos “manchinhas”. O sol enorme que nasceu em 59 foi se enchendo de manchas à medida que foi ficando velho.
 
Em que século ocorrerá em Cuba as próximas eleições?
 
Não sou adivinho, não tenho alma de profeta, mas gostaria que fosse o mais rápido possível. Mais que eleições, que em Cuba houvesse mudanças, porque também não acredito nas eleições. Ela é um jogo democrático entre aspas, pois também é uma farsa.
 
Que canção daria o senhor a esses países que, com uma mão invocam os direitos humanos em Cuba, e com a outra mantêm, no seu próprio solo, a pena de morte?
 
E a tortura e os desaparecimentos… É uma canção que está por ser feita. Mas o respeito à soberania dos países não me permite fazê-la. Da mesma forma que quero que respeitem a soberania de meu povo. Nós, cubanos, temos direito a reclamar nossos direitos. No final, seremos nós que resolveremos nossa situação.
 
A que ilha o senhor levaria um homem perdido?
 
Se eu disser, você vai rir. À Cuba. A uma Cuba com os Castro, mas com ajustes.
 
Fonte: El Mundo, Rafael J. Álvarez
 
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Entrevista com Silvio Rodríguez: “Por que não respeitam que possa duvidar e dizer o que pensa?”
 
A Revolução cubana
 
Não é uma idéia nova o conceito de reinventar a Revolução. Esteve vigente sempre, logicamente, e é certo que nem sempre se conseguiu. Às vezes caímos na retórica, às vezes nós adormecemos. Eu acho que este é um momento em que, sim, a Revolução, a vida nacional, o país, pede a gritos uma revisão de um montão de coisas, desde conceitos até instituições. Há muitas coisas que é preciso revisar em Cuba, onde temos escutado, sempre extra-oficialmente, e jamais, lamentavelmente, por nossa imprensa, que essas coisas estão sendo revisadas. Deus queira que assim seja.
 
A morte de Orlando Zapata
 
Parece-me muito bom que o mundo fale do que deseje falar e me parece muito bom que nós, os cubanos, façamos o mesmo. Me parece, sempre me pareceu, não só agora, que é muito bom que se amplie a possibilidade e o acesso a dizer, a comentar, a criticar, a opinar, a discutir.
 
A crença na revolução
 
Mas eu, que vivo há 50 anos em Cuba, e que conheço tudo isso que ocorreu, continuo tendo muito mais razões para crer na revolução do que para crer nos seus detratores.
 
Os conflitos internos
 
Mas o que dizia é que, talvez este disco não seja, do ponto de vista internacional, tão polêmico; mas eu acho que sim, pode ser polêmico nacionalmente. Porque é um disco que está praticamente voltado para nossa realidade, para os problemas de nossa realidade, os conflitos que todos sabemos que há, e são idéias que, como sempre, um cantor lança para participar dessa maneira no debate.
 
Em defesa de Pablo Milanês
 
Se respeitam tanto ao criador, como dizem, por que não respeitam que possa duvidar e dizer o que pensa? Que se ganha com este questionamento público, que certamente sai com a aprovação dos responsáveis por este site [cubadebate.cu]? … Não vamos complicar mais, que já está bastante difícil.
 
Fonte: www.cubadebate.cu

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