qui abr 18, 2024
quinta-feira, abril 18, 2024

Vitória da Convergência: triunfo do movimento estudantil independente e combativo

O triunfo da Convergência abre o caminho para articular um movimento estudantil ativo, que defenda a educação pública frente aos cortes no orçamento.

Depois de um mês de campanha eleitoral em que foi ao segundo turno para a definição do ganhador, o grupo Convergência venceu a eleição do Diretório da Federação dos Estudantes da Universidade da Costa Rica (FEUCE), alcançando 52% dos votos, contra 48% do até agora governista partido Progre.

A formação do grupo Convergência se deu ao longo de todo o ano em diversos espaços do movimento estudantil, entre eles, destaca-se o EMU (Encontro de Mulheres Universitárias) e o CEU (Congresso Estudantil Universitário); em ambos participaram plenamente nossos ativistas, e a partir destes espaços articularam os eixos programáticos que a Convergência iria levar ao processo eleitoral e com os quais saiu vencedora. Desde o CEU se verificou a necessidade de renegociar o FEES, lutar pela reforma das regras sobre as bolsas de estudo, mobilizar-se pela causa chilena, lutar pela reforma do regulamento das bolsas, priorizar a união operário-estudantil, entre outras; muitas destas propostas foram derrotadas nas votações do congresso, mas desde então se mostrou quais eram as orientações da universidade. Foram esses eixos que a Convergência defendeu nas passagens em salas de aula, nos debates, e demais espaços da campanha eleitoral.

Ao longo de todo este processo não se teve nenhum receio em se apontar a realidade aos estudantes: a necessidade de sua organização independente da administração universitária, para se fazer frente aos cortes e à deterioração geral de nossas condições de estudo.

Por outro lado, esta eleição colocou em evidência o desgaste do Progre, grupo que estava à frente da FEUCR no período anterior. Este desgaste se deu devido a seu modo de trabalho clientelista e conciliador, no mesmo estilo politiqueiro do PAC, PLN ou do ML. Isto ficou mais evidente na entrevista realizada pelo diário digital EL País com Mariano Salas, que buscava sua reeleição como presidente: “Não cremos que seja necessário sair às ruas”, assegurou. Basta apresentar o título de uma entrevista que, do início ao fim, revela a lógica do Progre: enquanto nós, estudantes, sabemos que durante o ano tem havido razões para a mobilização, para não permitir que montêm em nossos ombros, e que a classe trabalhadora pague pela crise econômica mundial, o dirigente do movimento estudantil da UCR subestima as medidas de pressão com as quais historicamente temos alcançado imensos ganhos, e opta pela desmobilização e o diálogo com o governo e as autoridades universitárias. Um exemplo disso é visto no forma burocrática que se fez internamente na Universidade, com a eliminação da matrícula de ampliação; no plano nacional, vemos que durante a greve do setor de saúde diante da crise da CCSS, a FEUCE fez um curto pronunciamento de dois parágrafos e não convocou a mobilização; esta mesma atitude prevaleceu a respeito do plano fiscal, em relação ao qual demorou mais de dois meses a estuda-lo sem sequer fazer um pronunciamento a respeito.

Por isso que a Convergência teve como dois de seus pilares de campanha a defesa da mobilização como instrumento de luta para não permitir os cortes na educação pública e o método de assembleias para reorganizar democraticamente e pela base o movimento estudantil; é inconcebível que durante todo o ano de gestão, o Progre não tenha passado uma só vez em sala para fortalecer o vínculo efetivo com os estudantes, ou para organizar um espaço mais amplo do que as comissões da FEUCR ou do próprio diretório.

A juventude em nível internacional lidera processos de mobilização que estão pondo em xeque regimes que contavam com muitos anos de estabilidade, como no caso do Egito, Tunísia ou Líbia; no Chile, a luta pela educação pública é a ponta de lança de todo um processo de resistência encabeçado pela bandeira da união operário-estudantil, enquanto na Europa os indignados, esses jovens que diante de um futuro incerto pela falta de emprego ou a precarização de suas condições de vida decidiram mobilizar-se, nos mostram o caminho. Todos estes movimentos foram precisamente os reivindicados pela Convergência durante o processo eleitoral.

E em nosso país o movimento estudantil da Universidade Nacional nos dava um exemplo de verdadeira democracia e combatividade ao votar em seu Congresso a renegociação do convênio FEES como a única saída possível para enfrentar os cortes nas bolsas. Infelizmente, na UCR, enquanto os estudantes ficam sem bolsas e sem infraestrutura adequada, o Progres distribuiu, durante as eleições, muita felicidade, acompanhada de flores e camisinhas, junto com um discurso sem nenhum conteúdo político. A partir da Convergência fizemos exatamente o oposto: nos dedicamos a explicar pacientemente por que se tem de reivindicar a renegociação do FEES, quais tem sido concretamente os cortes em nossas condições de estudo, e a urgência de organizar os estudantes frente a isto. Os resultados eleitorais mostraram que tipo de política querem os estudantes da UCR.

Os desafios que enfrentamos na direção do diretório da FEUCR são muitos, mas o principal é a articulação de um movimento estudantil nacional que se organize em conjunto contra os cortes implementados no FEES. Por isso é urgente a convocação de um novo Encontro Nacional de Estudantes para que dele se possa obter uma coordenação mais eficaz e dinâmica de todo o ativismo estudantil. As/os estudantes da UCR já deram seu apoio à Convergência para assumir esta tarefa e defender a educação pública de maneira que não nos amarrem as mãos para denunciar a reitoria quando nos vendem, como no último FEES; também não devemos ter receio em nos mobilizarmos contra o governo e seus planos de passar os resultados da crise aos setores mais pobres deste país, e em nos organizarmos em assembleias amplas e democráticas para que as decisões sejam tomadas por todas e todos. Cremos que só desta forma se poderá articular um movimento estudantil ativo, que defenda uma educação pública, democrática e gratuita.

Tradução: Thiago Amaral

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