sex abr 19, 2024
sexta-feira, abril 19, 2024

Sai Uribe… Fica o uribismo

Nós os colombianos que passamos sete longos anos fazendo oposição ao atual governo vamos merecidamente comemorar sua saída no próximo dia 7 de agosto.

Mas nós que, além disso, combatemos o regime político que consolidou Álvaro Uribe Vélez, sabemos que a comemoração será agridoce, porque sua substituição no executivo não significará nenhuma mudança qualitativa no atual estado de exploração econômica, opressão social e repressão política que os trabalhadores sofrem.
 
Nada mudará significativamente porque do governo Uribe sobreviverão todas suas medidas econômicas e sociais, todas suas políticas de perseguição aos trabalhadores e à oposição e todos os bandos de assassinos, corruptos, carreiristas sociais, oligarcas, milicianos, fazendeiros, burocratas e politiqueiros que, com seu apoio encheram os bolsos e se fortaleceram.
 
Mudar o governo para que o regime continue igual
 
Uribe mudará no dia 7 de agosto do Palácio do Governo para El Ubérrimo [1], nas planícies de Córdoba, e seu gabinete será ocupado por qualquer um dos atuais candidatos a sua sucessão. Mas como testemunhas de sua presença antidemocrática seremos obrigados a herdar todas as perversões da “segurança democrática” – a impunidade aos chefes paramilitares, os falsos positivos, as escutas telefônicas, o DAS (Departamento Administrativo de Segurança) fortalecido e os assassinatos seletivos dos dirigentes e ativistas da esquerda e da oposição. Todas as doenças sociais – os quatro milhões de desabrigados, a crise na saúde, a decadência da educação pública, as guerras das gangs nos bairros populares e o desemprego generalizado, para mencionar somente o mais relevante.
 
Além de todos os parasitas que se multiplicaram alimentados por ele: Sarmiento Angulo, Ardila Lulle, Santodomingo e outros oligarcas; os parapolíticos, os chefes militares “das tropas”, os paramilitares e demais carniceiros; Carranza, Araujo, Barreira e demais fazendeiros que expropriaram o campesinato; José Obdulio, Noguera, Valência Cossio e demais conspiradores; Juan Manuel Santos, Andrés Felipe Arias, Diego Palacios e demais burocratas autoritários; Benedetti, Roy Barreras, Dilian Francisca e demais parlamentares submissos e, Rosemberg Pabón, Carlos Franco, Angelino Garzón e demais renegados que se venderam à burguesia mais reacionária.
 
Toda essa herança será mantida pela única razão de que nenhum dos partidos e movimentos políticos que sustentam os atuais candidatos presidenciais contempla, nem de longe, a possibilidade de renunciar a ela.
 
Todos, sem exceção, manifestaram sua disposição em defender, continuar e estender a repressiva política de “segurança democrática”, coração do regime de Uribe. Santos, Noemí e Vargas Lleras, os candidatos da continuidade uribista, da mesma forma que o aspirante liberal, Rafael Pardo, manifestaram sua decisão de aprofundá-la. Antanas Mockus [2], sem se colocar minimamente com o programa dos “verdes”, reivindica parte da paternidade da ideológica segurança democrática. E o candidato do PDA (Polo Democrático Alternativo), Gustavo Petro, de quem os trabalhadores poderiam esperar uma oposição mais decidida a tudo que cheire a uribismo, fez uma das propostas mais reacionárias: transformar a segurança democrática em política de Estado, isto é, torná-la permanente.
 
Os seis candidatos professaram fé à Constituição de 91, que criou as instituições do atual regime político, e se comprometeram a manter os “logros” do governo Uribe. Os candidatos da direita, inclusive Pardo, não economizaram elogios para a sua política econômica antioperária e de entrega ao imperialismo.
 
Manter os trabalhadores desorganizados, com salários de fome, na informalidade ou desempregados é condição básica do próximo governo de qualquer um deles, como garantia de preservação da “confiança investidor” do capital imperialista. Mockus, lançando mão de um eufemismo, prometeu “construir sobre o construído” para justificar a manutenção da contra-reforma trabalhista de Uribe, que acabou com as poucas conquistas que restavam aos trabalhadores e, se negou a aumentar os salários dos mais pobres. E Petro, no seu afã de parecer confiável aos olhos da “burguesia nacional”, repete que sob seu mandato não vai expropriar nenhum capitalista, que ele não é Chávez e que sua estratégia não é o “Socialismo do século vinte e um”, mas a aplicação da Constituição de 91.
 
O desenvolvimento da atual campanha eleitoral, os discursos e intervenções públicas dos candidatos, seus programas e políticas nos convenceram que Uribe sai no dia 7 de agosto, mas sua herança bonapartista continuará fundamentalmente intacta, nas mãos de quem quer que o suceda no Palácio de Nariño.
 
Os trabalhadores necessitam destruir o regime político
 
O aparelho de corrupção, poder e repressão que a burguesia, nacional e estrangeira construiu em todos estes anos de para militarismo e saque econômico não é uma invenção de Álvaro Uribe. Atribuir-lhe tal façanha equivaleria a reconhecer nele, os poderes quase sobrenaturais que os fiéis de sua igreja lhe atribuem. Uribe só foi, no momento oportuno, o personagem sinistro que a sinistra história da burguesia nacional precisava. E como essa história continua, estão escolhendo, nesta eterna farsa eleitoral, um fiel escudeiro para a continuidade.
 
A crise criada pela confluência do narcotráfico e do paramilitarismo, a oligarquia, os fazendeiros e a casta política tradicional, que terminou na expropriação de milhões de hectares do campesinato e no assassinato de dezenas de milhares de ativistas e militantes populares e de esquerda e no empobrecimento de três quartos da população, só terá solução em uma sociedade dirigida por aqueles que estiveram do outro lado: os milhões de proletários e camponeses que foram suas vítimas políticas, econômicas e sociais.
 
E essa solução não virá da simples critica às facetas e medidas mais cruéis dos governos de turno,como o Pólo Democrático Alternativo faz, mas da mobilização revolucionária permanente contra o conjunto das instituições desse reacionário regime político, começando pela Constituição de 1991 que as protege com um ilusório manto de legitimidade democrática.
 
A democracia política e econômica na Colômbia não provirá de nenhum resultado eleitoral, por importante que seja, mas da destruição revolucionária e massiva das condições materiais das quais burgueses, fazendeiros, narcotraficantes e burocratas obtém seu poder absoluto, repressivo, reacionário e abusivo.
 
Fonte: Jornal O Socialista no. 648 – PST da Colômbia
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NT:
[1] El Ubérrimo – Fazenda de propriedade do atual presidente Álvaro Uribe Vélez, na cidade de Montería, onde, durante sua administração, foi utilizada para reuniões com empresários, ministros, etc.;
[2] Antanas Mockus – candidato do Partido Verde à presidência da Colômbia para as eleições de 30 de maio;
 
Tradução: Maria Rita Gordin.
 
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