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sexta-feira, março 29, 2024

O retrocesso eleitoral do Polo: três passos atrás

Nas eleições parlamentares passadas, o Polo Democrático Alternativo (PDA) perdeu várias de suas cadeiras parlamentares apesar de manter a mesma votação de quatro anos atrás.

 Mas, para além das cifras, o Polo deu vários passos atrás: afastou-se das lutas sociais, caiu no clientelismo e nas formas de fazer política dos partidos burgueses tradicionais e renunciou à possibilidade de disputar o governo para dedicar-se a administrar o aparelho do Estado nas cidades e departamentos onde governam. Na campanha se evidenciou como a maioria de seus candidatos recorrem ao clientelismo e à corrupção para ganhar ou defender seus mandatos.
 
Após as eleições realizaram-se muitas análises da situação que atravessa o Polo Democrático Alternativo, PDA. Para os meios de comunicação o Polo retrocedeu depois de perder dois senadores e três representantes (Pedro Obando, de Nariño, René Garzón, de Santander e Germán Reis, de Antioquia); para Gustavo Petro há um “estancamento” e para algumas forças internas, ao melhor estilo dos textos de superação pessoal, esta crise é uma “oportunidade”.
 
Mas não se pode ocultar a crise e a grande conclusão é que o PDA retrocedeu em três sentidos. O primeiro é que os setores populares e a classe operária, cada vez mais se sentem menos representados por seus parlamentares, quando constatam como estes abandonam suas lutas. O segundo é que o PDA é hoje uma organização que depende do clientelismo e da corrupção de suas administrações nas entidades territoriais, pelo que também perde importantes faixas de opinião de setores médios da sociedade, que encontram em outros partidos uma alternativa, desde seu ponto de vista, “mais ética”. E o terceiro é que os resultados eleitorais deixam o Polo por fora das possibilidades de chegar ao governo, ilusão que vendeu às suas bases e pela qual muitos setores sociais têm adiado suas lutas na perspectiva desta chegada ao poder.
 
Jorge Robledo, senador do MOIR (Movimento Operário e Independente e Revolucionário), em seu balanço “Há luz nas trevas” sustenta que o PDA foi vítima da corrupção eleitoral e da difamação por parte do Governo; o Partido Comunista reconhece em várias declarações seu fracasso eleitoral ao perder sua representação na Câmara por Bogotá; Gustavo Petro diz que o PDA se “estancou” e responsabiliza por tal estancamento, a Samuel Moreno (enquanto elege a Secretaria de Governo da Prefeitura de Bogotá como sua fórmula presidencial); e Poder e Unidade Popular, PUP, sustenta que o Polo se “estabilizou” e que não cresceu devido ao surgimento do Partido Verde, ao desgaste da Prefeitura de Bogotá e à aproximação de Gustavo Petro às “teses uribistas”.
 
As cifras do PDA não mentem. Há quatro anos obteve 875 mil votos e, em 2010, com 95% dos escrutínios, mal chega a 850 mil votos. O que mudou é sua base eleitoral, que antes se compunha de setores sindicais e camadas médias urbanas que viam no Polo uma alternativa real de governo, e que na atualidade, em mais da metade, depende do clientelismo.
 
Por isso é necessário olhar com atenção as cifras do Polo, o comportamento das tendências em seu interior e o que representa cada um dos parlamentares eleitos, para mostrar a situação deste partido. Este exercício é fundamental, pois o PDA controla as direções das organizações dos trabalhadores e de massas, e de sua atuação dependerá em boa medida a sorte das mobilizações e das lutas.
 
Os que saíram
 
Três aspirantes na disputa de um assento parlamentar no Senado, por parte do PDA, ficaram fora do Congresso da República: o presidente do Polo, Jaime Dussán; o dirigente liberal de Nariño, Parmenio Cuéllar; e o ex sindicalista Jesús Bernal Amorocho. Destes, o caso mais significativo é o de Jaime Dussán, que passou de 47 mil votos em 2006 para 25 mil em 2010; o que explica este estrondoso fracasso é um voto de castigo dos docentes pela entrega de suas reivindicações trabalhistas. Os outros dois foram: Cuéllar, que caiu de 74 mil para 27 mil votos, e Bernal, de 23 mil para 12 mil votos. Wilson Borja e Venus Albeiro Silva, representantes à Câmara por Bogotá, fracassaram, também, em sua tentativa de galgar uma vaga no Senado.
 
Os que entraram
 
Duas figuras desconhecidas no panorama político da esquerda e do movimento operário e popular são hoje dos senadores mais votados do Polo: Mauricio Ospina e Camilo Romero, que obtiveram uns 40 mil votos cada um. Estas duas personagens não provêm do movimento popular ou de setores da classe operária, suas votações se explicam no clientelismo e na corrupção: Ospina é beneficiário da prefeitura de Cali, nas mãos de seu irmão Jorge Iván Ospina, e Romero é membro de uma família altamente beneficiada com contratos nos governos do PDA em Bogotá e Nariño.
 
Eles dois são a principal evidência de que no Polo se fecha o espaço para os líderes populares, em benefício das máquinas clientelistas. Esta dependência do clientelismo se pode constatar, pela via contrária, no caso de Franklin Legro, Representante à Câmara pelo Vale do Cauca, que tinha obtido seu cargo parlamentar com o apoio do Governo de Angelino Garzón, e que o perdeu ao não contar com esta máquina.
 
As câmaras onde já não estão
 
O PDA tinha 9 representantes na Câmara por Tolima, Santander, Antioquia, Nariño, Vale do Cauca, Indígenas e Bogotá. Desta bancada só se mantêm os três de Bogotá, um do Vale do Cauca e um pela circunscrição especial dos indígenas. Em Tolima e Santander, o PDA tinha sofrido uma importante fuga de votos quando seus principais líderes se foram, no final do ano passado, na onda de bandear para a organização de direita, Mudança Radical. Mas talvez o maior revés é o de Germán Reis, em Antioquia – apoiado pelo MOIR -, quem, apesar de aumentar sua votação, perde a cadeira parlamentar ao passar o PDA de 58 mil a 36 mil votos no departamento.
 
Bogotá e a “casa Rojas”
 
Os meios de comunicação, e inclusive alguns setores do PDA, vêem na prefeitura de Samuel Moreno, uma das razões gerais do retrocesso do Polo; mas o que as cifras mostram é que em 2006 obteve 139 mil votos ao Senado em Bogotá e 186 mil votos à Câmara, enquanto em 2010 subiu até 216 mil votos em ambas corporações. Também mantiveram os três representantes, com Germán Navas Talero, Iván Cepeda e Alva Luz Pinilla.
 
Navas Talero aumentou sua votação arrastando uma faixa de opinião de setores da classe média, que reconhecem sua luta contra a reeleição. No caso de Iván Cepeda, do Movimento de Colombianos e Colombianas pela Paz, ao apoio que lhe deu o PUP (Poder e Unidade Popular) há que somar os votos de opinião de diversos setores que advogam pela negociação de paz, os dos lutadores pelos direitos das vítimas do Estado e dos paramilitares, e o voto da periferia do Partido Comunista, que encontrou em Cepeda mais credibilidade que em Carlos Lozano.
 
Alva Luz Pinilla é um caso a parte; é a candidata da chamada “casa Rojas” e como tal, expressa o clientelismo e a corrupção da Prefeitura de Moreno, que não só obteve este assento parlamentar senão que conseguiu que Iván Moreno triplicasse sua votação na capital, com contratos e clientelismos.
 
“Do social ao político”
 
O ex sindicalista Alexander López manteve sua votação e seu cargo parlamentar, mas desta vez sua base eleitoral em Cali desceu de 40 mil para 26 mil votos, e só pôde se manter graças ao apoio do PUP que tinha obtido 15 mil votos há quatro anos atrás. Ao mesmo tempo, esta coalizão tirou Wilson Arias, ex vereador de Cali, da Câmara pelo Vale do Cauca, e Iván Cepeda por Bogotá.
 
Estes três nomes, sem dúvida, expressam um voto de opinião e de um setor de lutadores sociais que esperam potencializar suas reivindicações, ocupando um lugar no Congresso da República, no que eles chamam “do social ao político”. Mas o resultado tem sido, até agora, inverso, pois uma vez que estes líderes ocupam os cargos parlamentares, abandonam ou usurpam as lutas que têm representado, impondo a lógica parlamentar. A queda dos votos de Alexander López em Cali não tem explicação diferente que o abandono da luta social que o levou ao cargo parlamentar, mais ainda quando surge uma votação clientelista como a de Mauricio Ospina, alimentada pela Prefeitura.
 
Lições e tarefas
 
No interior do PDA sempre se manifestou uma contradição: por um lado, em seu Ideário de Unidade propõem-se como defensores da Constituição de 91, e por outro, suas bases se viram afetadas pelas medidas neoliberais que se consagraram no marco desta Carta constitucional. O Polo tenta canalizar as lutas sociais para o parlamento, mas neste palco há cada vez menos possibilidades de obter alguma reforma em benefício dos setores populares e da classe operária. É por isso que a grande crise do Polo não está na perda de cargos parlamentares ou de votos senão nas mudanças que sofreu sua votação, pois são cada vez menos os votos de estrutura partidária e que expressam lutas sociais e cada vez mais o do clientelismo que dependem de seus governos locais.
 
É por isso que a tarefa de construir uma organização que privilegie a mobilização como principal ferramenta de luta, e que se proponha derrotar o regime político na Colômbia para instaurar um governo da classe operária, está pendente. Em sentido contrário, os parlamentares do PDA, incluindo aqueles que não foram eleitos, agora cerram fileiras com Gustavo Petro, apesar de sua defesa da Segurança Democrática como uma “política de Estado”.
 
Da mesma maneira, tanto os resultados das eleições passadas como as perspectivas, candidatos e programas das próximas eleições presidenciais, fazem ainda mais vigente nossa proposta de votar em branco, porque os trabalhadores e os pobres não temos nenhuma opção de classe e porque nenhum dos aspirantes se coloca à frente da luta contra o regime anti-democrático que tem consolidado o ditadorzinho Uribe Vélez.
 
Fonte: El Socialista no. 647, Abril de 2010
 
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