ter abr 16, 2024
terça-feira, abril 16, 2024

Nem Santos, nem Mockus: Vote em branco

No próximo dia 20 de junho, ante a realização de um segundo turno para as eleições presidenciais entre Juan Manuel Santos e Antanas Mockus, os trabalhadores e todos os setores explorados e oprimidos do país terão a oportunidade de se expressar politicamente de forma independente.
 
Por essa via, temos a possibilidade de avançar no nível de consciência, organização e capacidade de luta para enfrentar os nefastos planos que o próximo governo tentará aplicar, seja ele de Santos ou de Mockus.
 
Em 20 de junho podemos converter nosso voto em uma manifestação de protesto e rejeição às condições de miséria e desemprego às quais o capitalismo tem conduzido o povo colombiano. Podemos expressar nossa rejeição ao espolio massivo de terras de milhões de camponeses pobres, através da ação paramilitar apadrinhada pelo Estado. Podemos repudiar o reacionário regime encabeçado agora por Uribe Vélez, que continuará seguramente com Santos e seus “falsos positivos” [1], as escutas telefônicas, a corrupção e a perseguição e assassinato sistemático de lutadores sindicais e populares. Nossa proposta para isto é votar em branco.
 
Santos será mais miséria, desemprego e repressão
 
Juan Manuel Santos, cercado e apoiado neste segundo turno, pela absoluta maioria das forças políticas tradicionais (liberais, conservadores e da Mudança Radical) representa a continuidade completa do modelo uribista que se traduzirá em mais desemprego, mais salários baixos, mais expulsão do campesinato para entregar as terras aos grandes projetos agro-exportadores e de mineração.
 
O chamado de Santos à conformação de uma Unidade Nacional significa que o conjunto da burguesia está tratando de solucionar suas diferenças para obter uma férrea unidade que lhe permita descarregar novos e maiores golpes contra os trabalhadores e setores populares. São pressionados pela gigantesca crise econômica do capitalismo em nível mundial, crise que tratam por todos os meios de descarregar sobre os ombros dos trabalhadores.
 
O governo, encabeçado por Álvaro Uribe Vélez gerou importantes divisões na unidade dos exploradores. A fração dominante, da qual Santos foi e é parte, tentou perpetuar-se no poder através do mecanismo da reeleição do próprio Uribe. A resistência de outros setores burgueses, expressa através da decisão do Tribunal de Justiça, obrigou-os a lançar Santos como plano B. As expressões políticas de Pardo, Noemí e Vargas Lleras refletiram no primeiro turno essas diferenças quanto à forma de repartir e compartilhar o poder. Agora, imposto Santos como candidato ganhador no primeiro turno, o conjunto dos exploradores cerrarão fileiras em torno dele como garantia de estabilidade do regime que lhes proteja quanto ao fundamental: enormes lucros graças à superexploração, fome e miséria de milhões de colombianos.
 
Expressar-se politicamente contra Santos e seu quase certo próximo governo, é condição inevitável para conseguir avançar na unidade das forças operárias, populares e democráticas que será a única que nos permitirá desenvolver as tarefas de luta e mobilização imprescindíveis para nos defender dos ataques que virão contra os direitos de saúde, educação, moradia e contra as mais elementares liberdades democráticas.
 
No futuro imediato é necessário lutar para que se produza uma absoluta e completa divisão no país. Por um lado, como já está se configurando em torno de Santos, todos os exploradores e opressores. Por outro, em uma só frente de luta e mobilização, todos os que estão contra suas medidas e planos para exigirmos solução às necessidades de saúde, educação, terra para o campesinato, justiça e reparação às vítimas e castigo aos responsáveis pela atividade paramilitar. Não há outra alternativa. À proposta de Unidade Nacional de Santos o movimento operário, democrático e popular deve responder com a unidade para se defender de seus ataques.
 
Mockus, a ilusão mortal
 
O candidato Mockus apoiou-se na campanha do primeiro turno sobre o amplo repúdio e rejeição às medidas antidemocráticas de Uribe, a sua direção autoritária do Estado, à perseguição política aos opositores, às “cruzadas” do DÁS (N.T: Interceptações telefônicas implementadas pelo governo, com ajuda externa), aos “falsos positivos” das Forças Armadas, dirigidas por Santos como Ministro de Defesa. Isso lhe gerou uma ampla camada de simpatia. Seu respaldo à Segurança Democrática de Uribe foi encoberto com a proposta de “Legalidade democrática”, expressando que se eleito garantiria aos burgueses todas as condições para a exploração e opressão, mas aplicando a lei, sem violá-la. Isto é, o mesmo cão, com uma coleira mais “decente”.
 
No entanto, depois do disfarçado infantilismo filosófico-político de Mockus, com seu discurso de cidadãos iguais que devem se respeitar como iguais se esconde um grande perigo. Sua proposta conduziu-o e o conduz inexoravelmente a ignorar que todas as atuações do reacionário regime político colombiano estão a serviço de garantir as condições de exploração do capitalismo e sua burguesia imperialista e nacional. E que não há discurso filosófico por mais erudito que pareça que permita resolver na vida real a contradição entre explorados e exploradores. Que essa contradição só se resolverá por meio da luta e da mobilização de uns contra outros, exigindo e defendendo seus direitos e tentando derrotar o poder político e econômico; isto é, com uma revolução.
 
Mockus expressa de forma quimicamente pura a ilusão reformista de que é possível uma sociedade que garanta condições de vida digna para toda a população sob o regime capitalista. Para Mockus não só a vida e os recursos públicos são sagrados. Tanto ou mais sagrada é para ele a propriedade privada e estará disposto a dar a vida em sua defesa.
 
Com seu discurso, Mockus tenta ocultar que só é possível conquistar amplas liberdades democráticas (não só no papel, mas traduzidas em direitos econômicos e sociais efetivamente desfrutados) derrubando tanto o regime político que garante a exploração como iniciando radicais transformações econômicas e sociais para derrotar essa exploração. Adicionalmente alimenta a falsa concepção pacifista-reformista de que através de uma votação massiva será possível tirar do poder político aqueles que exerceram o poder durante décadas, a custa de milhares de assassinatos, desaparecimentos, valas comuns e extermínio físico de toda oposição, ou seja, simplesmente no terreno democrático.
 
Como expressão concreta do caráter claramente burguês-imperialista de seu programa no terreno econômico e social, Mockus não vacilou em acenar mil vezes ao proeminente governo de Uribe; a suas medidas de entrega dos recursos naturais às multinacionais através da chamada “confiança investidora”; a suas medidas de corte dos direitos na saúde e educação. Mockus já antes, em seu “ensaio” como prefeito de Bogotá e reitor da Universidade Nacional demonstrou aos poderosos do país que podia administrar em benefício deles; aumentando matrículas ou privatizando empresas de serviços públicos.
 
Depositar a mais mínima confiança em Mockus ou em seu caráter “democrático”- diferente do modelo uribista na aparência, leva a marchar de pés e mãos atadas para o matadouro. Produz-se um extraordinário dano político à consciência de independência que devemos formar entre os trabalhadores chamando a respaldar, apoiar ou gerando ilusões de um acordo político que permita um avanço favorável a milhões de explorados e oprimidos.
 
Unidade operária e popular para a luta e a mobilização
Voto em branco como protesto e posição independente
 
Através da votação em Mockus e no Pólo Democrático Alternativo com seu candidato Petro no primeiro turno das eleições presidenciais foi demonstrado, de forma distorcida, que existem milhões de colombianos que buscam uma saída diferente à continuidade do modelo uribista.
 
A votação em massa obtida pelo Pólo há 4 anos encabeçada por Carlos Gaviria, votação quase similar à atual de Antanas, foi se dilapidando durante estes anos. A direção do Pólo dedicou toda sua influência política sobre as organizações de trabalhadores e sua representação parlamentar a “fazer uma boa figura”; buscando demonstrar à burguesia e ao imperialismo que era de “confiança”, que não significava um perigo mortal para seus interesses. O Pólo converteu-se assim em um administrador direto ou em um auxiliar na administração dos negócios capitalistas, como fica claro com a administração de Samuel Moreno em Bogotá.
 
Os milhares de trabalhadores honestos e lutadores populares que tinham ilusão de que o Pólo era a opção de organização política para lutar pela solução de seus problemas foram se decepcionando. Isso é o que explica não só seu descenso eleitoral, mas explica também que requentem propostas como a de Mockus, levantando bandeiras aparentemente democráticas que só podem ser levantadas e mantidas de forma consequente por forças realmente democráticas e revolucionárias.
 
É necessário uma profunda redefinição estratégica e política para impor uma forte resistência aos planos do futuro governo. Não pode ser a atividade parlamentar, em si e por si como aspecto essencial, a que determine a ação frente ao governo e seus planos. O centro da atividade tem que se deslocar totalmente para o trabalho de organização e mobilização de todas as camadas sociais que entrem em choque com qualquer das medidas econômicas, políticas ou de qualquer índole do atual e do próximo governo. A atividade tem que ter como centro a denúncia e a agitação dos abusos que diariamente são cometidos contra a população, educando a partir das mesmas que só com a luta e a mobilização é possível impedi-los. Ao mesmo tempo e simultaneamente devemos intensificar as tarefas de organização, no nível sindical, de bairro e comunitário.
 
A profunda discussão que atualmente se desenvolve dentro do Pólo entre aqueles que expressam sua disposição em respaldar Mockus e os setores que levantam a bandeira da independência e da mobilização, expressa no apelo a que este partido chame o voto em branco, deve tomar como ponto de referência não só os aspectos táticos da conjuntura eleitoral, mas antes de mais nada e, sobretudo a estratégia necessária para dotar os trabalhadores e os setores pobres da cidade e do campo de uma opção de direção política própria e independente.
 
De forma imediata, a partir do movimento operário e suas organizações, no terreno democrático e popular, impõe-se discutir uma plataforma de luta e de mobilização unificada que, partindo das reivindicações econômicas e sociais mais sentidas pela população, convoque-os a conquistá-las através de uma infinidade de ações, como greves, manifestações e protestos.
 
É a serviço dessas tarefas que nosso partido, o PST, colocará suas forças nos próximos meses.
 
 
Tradução:Erika Andreassy.
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NT:
[1] “falsos positivos” –assassinatos de civis inocentes para inflar números de baixas e apresentá-los em “boletins positivos” como guerrilheiros tombados em combate e assim obter premiações;
 

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