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sexta-feira, março 29, 2024

Como funciona o Capitalismo? Um sistema global que não pode ser reformado

A riqueza dos empresários é produzida pelos trabalhadores, ao vender sua força de trabalho. Os empresários nos controlam, através do salário e da jornada de trabalho.

Por: MIT-Chile

No capitalismo, tudo deve gerar lucro para os empresários. Não somente indústrias e comércio. Também a saúde ou a educação. Os trabalhadores sofrem as consequências: crises em hospitais como o San José ou o Van Buren, miseráveis aposentadorias causadas pelo negócio das AFPs, colégios com falta de professores e má estrutura, desemprego, problemas com a água, como em Osorno ou Petorca, intoxicações massivas por gases em Quintero e Puchuncaví…

Porque não temos acesso à saúde e boa educação? Porque temos que viver em zonas contaminadas? É possível acabar com o desemprego dentro desse sistema?

Classes sociais e o objetivo dos empresários

A mídia e os partidos políticos tradicionais nos dizem que todos somos “cidadãos” com os mesmos direitos. Assim escondem algo que é inegável, trabalhadores e empresários são de classes diferentes. Os empresários (ou burgueses) são os donos da produção (empresas de mineração, de pesca, de papel e celulose, construtoras, supermercados, bancos) e as obtiveram graças à riqueza que os trabalhadores produzem. Os trabalhadores só são donos de sua própria força de trabalho, a que vendemos em troca de um salário. Entre os empresários e trabalhadores existe outras classes, como a pequena burguesia (pescadores artesanais precarizados, donos de pequenos negócios, etc).

No capitalismo, tudo deve transformar em uma empresa para gerar riqueza a seu dono. Inclusive nossos direitos: saúde, educação, moradia, aposentadoria, etc. Ao contrário do que tentam nos convencer, os burgueses não produzem, somente se servem do trabalho administrativo de outros que protegem seus lucros em troca de salário milionários: os gerentes e os executivos. Os empresários só investem, estão em umas quantas reuniões e veem como vai “seu” negócio. Por isso, os empresários são parasitas.

Capitalismo a la chilena

No Chile e no mundo tem existido capitalismo com diferentes modelos de desenvolvimento. O modelo neoliberal foi uma ofensiva que deu mais poder aos empresários. No Chile, foi instalado à força, pela repressão da ditadura de Pinochet, e entre 1979 e 1980 estabeleceu suas leis que perduram até hoje. Seus pilares são o esmagamento das organizações sindicais e sociais, a liberação máxima do mercado, cortes do gasto público, reforma tributária, privatizações das empresas estatais, desregulação do comercio e a inversão estrangeira e proteção da propriedade privada.

Para os neoliberais como Paulmann ou Luksic, a liberdade e a propriedade privada são regras sagradas que impõem ao Estado, o mesmo que eles consideram como uma trava para seus negócios. Assim o Estado desenha planos econômicos com os que submetem a classe trabalhadora a níveis máximos de pobreza e condições próximas a escravidão. Todos os governos desde a ditadura têm defendido o modelo neoliberal.

Provocaram o desmantelamento das empresas públicas e as privatizaram com um preço muito baixo, como ocorreu nos governos da Concertación, com as empresas de água, energia, ferroviárias, etc. Depois, através de subsídios do próprio Estado que eles mutilam, os empresários obtêm recursos públicos para suas empresas e fazem votar leis que garantem lucros ao vender os mesmos serviços que antes eram públicos. Ocorreu com a privatização da água e da energia elétrica. Está ocorrendo com a Coldeco.

A grande mentira do esforço empresarial

A Câmara de Deputados calculou em 2,223 bilhões de dólares a perda do Estado pelas privatizações feitas entre 1985 e 1989. Por exemplo: a CAP foi vendida por 105 milhões de dólares, estando avaliada em 811 milhões. É dessa forma que muitos empresários fizeram suas fortunas, não a custo de sacrifícios e um árduo trabalho.

As AFPs foram criadas não para dar aposentadorias, mas para entregar poder aos donos destas empresas. O Fundo de Pensões que se criou com nossas contribuições ajudou aos donos das AFPs a “comprar” empresas vendidas pela ditadura a preço de banana.

Ainda mais grave é quando os direitos como saúde e educação se privatizam, em benefício do lucro empresarial.

Produção caótica e sem planificação

Os burgueses (empresários) decidem o que se produz e em qual quantidade, com o único objetivo de gerar lucros em curto prazo. Eles produzem o que mais vende não o que mais necessitamos. Constroem casas e escritórios de luxo, mas faltam moradias, escolas e hospitais de boa qualidade. Assim, se produz de forma desorganizada e anárquica.

Essa anarquia na produção também afeta o meio ambiente porque não existe controle do impacto que causa uma indústria. No Chile, se tornou normal morar em Zonas de Sacrifício, como em Quintero e Talcahuano. Mas os grandes empresários não moram nesses lugares. O Estado apenas fiscaliza os processos produtivos e não sancionam as empresas contaminantes. A Essal, por exemplo, empresa de agua de Luksic, derrama clandestinamente esgoto no lago Llanquihue. Isso se descobriu somente a partir da crise de Osorno. E o cúmulo é que a empresa ainda cobra pelo tratamento da água. Ou seja, para jogar no lago.

Esta degradação ambiental também é um problema de classe. A humanidade não é igualmente responsável, e nem todos sofremos da mesma maneira suas consequências. Para as empresas, investir em prevenção ou reparação ambiental é um custo que não consideram porque significa reduzir seus lucros.

Desemprego permanente

Piñera prometeu mais e melhores empregos, mas o desemprego cresce ainda mais. Dizem que é o resultado de fatores individuais ou por culpa dos imigrantes. Os economistas falam de uma taxa “natural” de desemprego enquanto não chegue aos 10%. Ninguém explica que o desemprego é próprio da economia capitalista. Necessita-se de uma massa permanente de trabalhadores desempregados, dispostos a trabalhar sempre em piores condições e por menos salário.

Essa massa é o exército industrial de reserva, que garante a acumulação de riqueza. E ainda que digam que o trabalho é um direito, se transforma quase em sorte. Então se tem um trabalho, mas mal remunerado, deve se cuidar, porque como dizem os chefes “lá fora sempre tem alguém esperando”.

A relação entre as empresas e os bancos

Existem empresas que produzem mercadorias (capital industrial): montadoras de veículos, produtoras de calçados, alimentos etc. Existem empresas que distribuem e vendem as mercadorias, como as automotivas ou supermercados (capital comercial). Por outra parte, os bancos (capital bancário) emprestam às empresas o capital para que seu negócio funcione.

E existe concentração do capital quando os donos de bancos, indústrias e comércio são os mesmos, como o caso de Luksic e outros. Essa concentração permite que a riqueza sempre volte para eles.

O inevitável: monopólios e concentração da riqueza

Empresários e políticos defendem este sistema com o discurso de liberdade: liberdade de escolher, de ter seu próprio negócio, etc. Mas ocorre tudo ao contrário: uma concentração onde 5 grupos econômicos controlam os principais ramos da economia chilena, formando monopólios, os mesmos que financiam os políticos e instituições para manter tudo tal qual como está.

Os 5 grupos mais ricos acumularam 6,3 bilhões de dólares anuais entre 2002 e 2010. Cada um deles ganha o mesmo que um milhão de chilenos. Estes 5 “grandes” são: Luksic; Paulmann; Hermanos Matte Larraín; Angeline; Sebastián Piñera. Sua riqueza aumentou mais depois da ditadura.

  • 3 cadeias de farmácias concentram 95% das vendas; Cruz Verde, Fasa e Salcobrand.
  • 4 Bancos com 65% das compras e vendas: Banco de Chile (Luksic), Santander, Estado e BCI.
  • 3 empresas têm 74% da geração elétrica: Endesa, Colbún Matte) e Gener.
  • 2 produtores de frango com 71% das vendas. Super Pollo e Ariztía.

Os monopólios podem controlar facilmente os preços, como ocorreu com a fusão das farmácias, as produtoras de papel higiênico ou de frangos. Assim cai por terra o discurso da liberdade, e os empresários garantem suas fortunas em nossas costas.

Capitalismo: sistema global que não pode ser reformado

Todo o capital (industrial, comercial e bancário) além de concentrado, está relacionado a nível internacional. Os burgueses formam monopólios nacionais e expandem seus negócios em vários países. Formam alianças e se protegem a traves de tratados comerciais que são válidos em extensas regiões do mundo. Os Estados são úteis para levar a cabo seus negócios.

O engano dos reformistas é querer fazer acreditar que algumas das partes deste sistema podem mudar gradualmente e fazer com que o conjunto funcione de outra maneira. Isso é impossível.

Não se pode construir uma nova economia sem destruir a que existe hoje, por isso é necessária uma revolução socialista. E mais, hoje todos os partidos do parlamento disfarçam essa realidade. Realizando ataques ou oferecendo reformas que duram somente o que dura um governo.

Tradução: Túlio Rocha

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